“Vulcão zumbi” na Bolívia tem mistério revelado em pesquisa

A equipe gerou imagens da “tubulação” abaixo do vulcão para entender se ele ainda dorme ou se voltará dos mortos com uma iminente erupção
Por Samuel Amaral, editado por Lucas Soares 29/04/2025 16h19
Gravímetro e estação GPS com o vulcão Uturuncu ao fundo
(Imagem: Duncan Muir, Cardiff University)
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No sul da Bolívia, o Uturuncu, conhecido como “vulcão zumbi”, tem dado sinais de atividade há décadas, mas cientistas não entendiam se sua erupção era iminente. Uma nova equipe utilizou um método inovador para analisar as “tubulações” do vulcão e conferir se ele está mesmo morto ou se ressurgiu dos mortos, como um zumbi.

A última erupção do Uturuncu ocorreu há 250 mil anos. Porém, desde a década de 1990, ele tem se mostrado instável: está liberando gases, gerando tremores e deformando o solo ao seu redor. 

Na época, medições por radar e GPS mostraram que a superfície no entorno do vulcão estava ficando no formato de um “sombrero” – o chapéu mexicano. A região central do terreno se elevou, enquanto os arredores afundaram. Esse crescimento ocorre há 50 anos, a uma taxa média de até 1 centímetro por ano.

Por enquanto, o Uturuncu é considerado um vulcão dormente. Ele tem 6 quilômetros de altura acima do nível do mar e é um estratovulcão, com formato de cone e tendo nascido da deposição das camadas de lava endurecida. Sua erupção é explosiva, porque a viscosidade do magma prende os gases internos e cria pressão, fazendo com que a saída seja intensa.

Cerro Uturuncu com solo afundando
O solo ao redor do vulcão tem afundado no formato de um chapéu mexicano. (Imagem: Jon Blundy, University of Oxford)

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Tubos do vulcão revelam a resposta

A equipe analisou sinais de mais de 1700 terremotos e mapeou os fluxos internos de lava, outros fluidos e gases, no Uturuncu. Eles geraram imagens em alta resolução do interior do vulcão para compreender o que acontece abaixo do solo, nas “tubulações subterrâneas”.

O vulcão zumbi está acima de uma reserva de lava nomeada de Corpo de Magma Altiplano-Puna (APMB). Ela se estende pelo sul da Bolívia, norte do Chile e Argentina. Segundo estudos anteriores,  o magma do depósito pode estar subindo e se acumulando perto da superfície, o que indicaria que Uturuncu se prepara para uma erupção.

No entanto, os pesquisadores notaram que a APMB está também elevando fluidos quentes e gases para a superfície por meio de estruturas tubulares. Esses fluxos podem explicar a deformação do solo e os terremotos.

Uturuncu sombreado
O método aplicado no Uturuncu pode servir para outros vulcões ao redor do mundo. (Imagem: Jon Blundy, University of Oxford)

Caso sejam os culpados, o vulcão pode não estar se preparando para entrar em erupção. O fenômeno também explicaria a deformação em “sombrero” e os sinais de atividade.

Para o grupo, as chances de erupção são mínimas. “Com base na caracterização do sistema magmático-hidrotermal sob Uturuncu, deduzimos que ele apresenta atualmente baixo risco de erupção”, concluíram os pesquisadores.

O uso de terremotos para compreender a “tubulação” abaixo de um vulcão é um método que a equipe pretende levar para outros casos de pesquisa no futuro.

“Essa abordagem abrangente não apenas explica por que um vulcão “zumbi” permanece ativo, mas também oferece percepções sobre seu potencial de erupção, estabelecendo uma técnica que poderia ser aplicada para avaliar os riscos de erupção em outros vulcões ativos”, constataram os cientistas.

Samuel Amaral
Redator(a)

Samuel Amaral é jornalista em formação pela Universidade de São Paulo (USP) e estagiário de Ciência e Espaço no Olhar Digital.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.