Primeiro reator privado usou combustível nuclear líquido – conheça a “fornalha atômica”

O reator da Armour Foundation foi essencial para pesquisas em agricultura, energia e medicina, levando os conhecimentos nucleares para além do campo militar
Por Samuel Amaral, editado por Lucas Soares 03/05/2025 06h00
Vice reitor Illinois Institute of Technology após o reator ganhar reconhecimento
(Imagem: Illinois Institute of Technology)
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

O primeiro reator operado pela iniciativa privada, o The Armour Research Foundation Reactor, foi reconhecido como um marco histórico da energia nuclear por suas contribuições inovadoras. A instituição agora faz parte de um seleto grupo com menos de 100 reatores nos Estados Unidos a receber o título pela American Nuclear Society (ANS).

“É muito importante ter esses vários marcos — e ainda mais importante para nós falarmos sobre o que foi feito lá”, afirmou Lisa Marshall, presidente da ANS, em um comunicado.

A “fornalha atômica”, apelido que ganhou de seus operadores, marcou uma grande transição em nas pesquisas nucleares. Ela levou o tema para além dos laboratórios militares e realizou pesquisas com energia atômica para criar novas tecnologias para a humanidade e suas necessidades.

Placa: "primeiro reator nuclear para pesquisa industrial"
Placa: “primeiro reator nuclear para pesquisa industrial”. (Imagem: Illinois Institute of Technology)

Leia mais:

Reator inovou na pesquisa nuclear

A construção do reator ocorreu em 1956, quando um conjunto de 25 outras companhias industrias, dentre elas a IBM, Caterpillar e a U.S. Steel, se uniu para investir no projeto. Sua função inicial era fazer experimentos para a produção de isótopos e análise de materiais.

Durante 11 anos, ele contribuiu com pesquisas nos mais diversos campos da ciência. Os principais marcos foram: a absorção de fertilizantes, controle de pragas na agricultura, esterilização a frio, extensão de vida útil de alimentos e o uso de isótopos na medicina.

“A história do Armour Research Foundation Reactor reflete tanto o otimismo quanto os desafios de adotar novas tecnologias”, afirmou Jeff Terry, vice-reitor de pesquisa da Illinois Tech.

Pesquisador Leonard Reiffel conduzindo um experimento usando o reator nuclear da Armour Research Foundation
Pesquisador Leonard Reiffel conduzindo um experimento usando o reator nuclear da Armour Research Foundation. (Imagem: Illinois Institute of Technology)

A instituição inovou ao empregar uma tecnologia inédita para a época: um combustível nuclear líquido, o urânio-235 dissolvido em água na forma de sulfato de uranila. Essa decisão foi um grande passo para a segurança, evitando grandes desastres caso algo acontecesse nas instalações, que ficavam em Chicago – uma metrópole de 3 milhões de pessoas na época.

Em 1967, o instituto desativou o The Armour Research Foundation Reactor. A tecnologia do reator não supria mais as crescentes necessidades das pesquisas, houve aumento nos custos operacionais e a regulação ficou mais rigorosa. Mesmo após o fim, ele permaneceu como um marco para a pesquisa e inovação no uso da energia nuclear.

“À medida que continuamos a explorar as possibilidades da energia nuclear hoje, este esforço pioneiro da Illinois Tech serve como um lembrete do progresso alcançado e do potencial que ainda temos pela frente”, concluiu Terry.

Samuel Amaral
Redator(a)

Samuel Amaral é jornalista em formação pela Universidade de São Paulo (USP) e estagiário de Ciência e Espaço no Olhar Digital.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.