Merlin é um personagem muito importante na famosa lenda da Távola Redonda, e ainda hoje muitos ainda se questionam se o feitiçeiro realmente existiu (Imagem: Thomas Mucha / Shutterstock)
A figura de Merlin, o lendário mago das histórias do Rei Arthur, desperta fascínio há séculos. Retratado como conselheiro sábio, profeta e detentor de poderes sobrenaturais, ele se tornou um dos personagens mais emblemáticos da literatura medieval. Mas afinal, Merlin realmente existiu ou é apenas fruto da imaginação popular?
Para responder a essa pergunta, é preciso mergulhar nas origens do personagem, em suas possíveis inspirações históricas e na forma como ele foi moldado ao longo do tempo por escritores medievais.
A busca por entender se Merlin realmente existiu nos leva a descobrir muito mais do que um personagem místico — nos revela um símbolo poderoso da cultura e da narrativa ocidental.
Antes de surgir como mago nas histórias do Rei Arthur, Merlin parece ter sido inspirado por figuras reais das tradições celtas.
Um dos nomes mais citados pelos pesquisadores é o de Myrddin Wyllt, um bardo e profeta galês do século VI que teria enlouquecido após uma batalha e se isolado nas florestas. Outra figura semelhante é Lailoken, de origem escocesa, também associado à profecia e à reclusão.
Essas figuras foram retrabalhadas na literatura por autores como Geoffrey de Monmouth, que deu forma ao Merlin que conhecemos hoje.
Segundo a historiadora Anne Lawrence-Mathers, da Yale University Press, Merlin pode ter sido baseado em eruditos medievais com conhecimentos de astrologia, profecia e ciências naturais — muito diferentes do mago “de capa e chapéu pontudo” que o imaginário moderno popularizou.
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Foi no século XII que o personagem ganhou contornos mais definidos, principalmente na obra Historia Regum Britanniae, de Geoffrey de Monmouth.
Nela, Merlin aparece como profeta e conselheiro do rei britânico Vortigern, além de ser o responsável por arquitetar o nascimento de Arthur, usando magia para que Uther Pendragon se passasse por outro homem e se unisse a Igraine.
Em outra obra, Vita Merlini, Geoffrey reforça as características proféticas e eremitas de Merlin, aproximando-o ainda mais de Myrddin Wyllt.
Pesquisadores do Journal of Medieval History explicam que Geoffrey não apenas inventou eventos, mas também usou a figura de Merlin para reforçar temas políticos e simbólicos da época.
Nas lendas arturianas, Merlin tem um papel fundamental: ele orienta Arthur desde antes do nascimento, guia o jovem rei em sua formação e atua como mentor durante os primeiros anos de reinado.
É ele quem ajuda a estabelecer a Távola Redonda e a consolidar a imagem de Arthur como um governante justo e escolhido pelo destino.
A maioria dos historiadores concorda que Merlin não existiu como uma pessoa real, mas sim como uma figura composta, criada a partir de mitos celtas, elementos históricos e necessidades narrativas.
Ainda assim, a força simbólica do personagem é tão relevante que ele atravessou séculos sendo reinterpretado em livros, filmes e até estudos acadêmicos.
Pesquisas recentes, como uma tese da Purdue University, mostram como a imagem de Merlin foi sendo refinada de Geoffrey de Monmouth até autores como Thomas Malory, responsável por popularizar o ciclo arturiano no século XV.
Mesmo que Merlin realmente não tenha existido, seu legado é inegável. Ele representa o arquétipo do sábio que guia o herói, a conexão entre magia e conhecimento, e o poder de transformar o mundo por meio da palavra, da visão e da imaginação
Esta post foi modificado pela última vez em 14 de maio de 2025 23:33