Experimento simula a origem da vida na Terra em laboratório

Cientistas simulam "jardins químicos" do fundo do mar e mostram como a vida pode ter surgido na Terra em condições primitivas
Por Flavia Correia, editado por Bruno Capozzi 19/05/2025 10h45, atualizada em 20/05/2025 21h02
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Um estudo publicado na revista Nature Ecology & Evolution descreve um experimento que simula as condições da Terra primitiva e mostra como a vida pode ter surgido em ambientes quentes e subaquáticos. 

A equipe, formada por cientistas da Alemanha, criou um “jardim químico” em laboratório, imitando as fontes hidrotermais do fundo do mar, ricas em ferro e hidrogênio. Nesses locais, formas de vida simples ainda vivem sem depender da luz do Sol.

Hoje, quase todos os seres dependem de outras formas de vida para sobreviver. Mas os primeiros organismos na Terra não tinham essa opção. Eles precisavam extrair energia diretamente de minerais e gases disponíveis no ambiente. Em águas profundas e escuras, onde a luz não chega, alguns micróbios ainda vivem de forma parecida.

Aberturas em alto mar, como esta na Cordilheira Meso-Oceânica, a uma profundidade de mais de 3.000 metros, hospedam ecossistemas que vivem em condições muito semelhantes às da Terra bilhões de anos atrás. Crédito: MARUM – Centro de Ciências Ambientais Marinhas, Universidade de Bremen, CC-BY 4.0

Esses microrganismos usam hidrogênio liberado do interior da Terra para obter energia. Eles seguem um caminho metabólico chamado via acetil CoA, que transforma carbono inorgânico em matéria orgânica. Essa via é tão antiga que pode ter surgido antes mesmo dos genes que hoje as controlam. É também a única forma de fixar carbono que pode ocorrer sem enzimas.

Na Terra primitiva, a água do mar continha muito mais ferro dissolvido do que hoje. Para entender como isso influenciou o surgimento da vida, a equipe da geoquímica Vanessa Helmbrecht, da Universidade Ludwig Maximilian, simulou essas condições em laboratório. Eles queriam saber se esse ferro ajudava na produção de hidrogênio e na sobrevivência de microrganismos.

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O experimento usou um micróbio chamado Methanocaldococcus jannaschii, encontrado originalmente em fontes hidrotermais no México. Ele usa dióxido de carbono e hidrogênio como fonte de energia, exatamente como se imagina que faziam os primeiros seres vivos. O micróbio foi colocado em um frasco com água sem oxigênio e fluidos ricos em enxofre.

Logo se formou um tipo de chaminé mineral no frasco, com compostos de ferro como a mackinawita e a greigita. Quando hidratados, esses minerais liberam hidrogênio. Mesmo sem nutrientes extras, os microrganismos cresceram rapidamente, aderindo às partículas minerais, como visto em fósseis muito antigos.

Os cientistas acreditam que esses “jardins químicos” podem ter sido o berço da vida. Eles forneciam energia e estrutura para os primeiros micróbios. De acordo com um comunicado dos autores, o estudo reforça a ideia de que a vida na Terra pode ter começado em ambientes extremos, aproveitando os elementos disponíveis em locais onde o sol nunca brilhou.

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.