Khipus contam a história climática da região (Imagem: Sabine Hyland)
Até a chegada dos conquistadores espanhóis no século XVI, comunidades incas nas regiões montanhosas dos Andes utilizavam uma forma peculiar de escrita para registrar eventos importantes e controlar aspectos econômicos.
Esses documentos, conhecidos como khipus, consistiam em cordões com nós e são hoje, em grande parte, indecifráveis. No entanto, o trabalho da professora Sabine Hyland, da Universidade de St Andrews (Reino Unido), tem revelado informações surpreendentes escondidas nesses registros de corda.
“Os khipus incas são o que chamamos de protoescrita“, explica Hyland. “Você tem um cordão horizontal, com pendentes que descem e possuem nós, a maioria representando números em um sistema decimal”. O significado desses números, contudo, ainda é desconhecido.
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Segundo Hyland, “foi-me explicado que, quando você sobe a montanhas muito altas, leva [uma cauda de lhama] porque ela atua de forma mágica para escondê-lo dos espíritos malignos que querem empurrá-lo montanha abaixo”.
Assim, caudas de lhama em um khipu podem indicar oferendas feitas a um lago sagrado em grande altitude chamado Paccha-cocha, tradicionalmente invocado para pedir chuva. “Se você olha para um ano e vê muitas oferendas no Paccha-cocha, era um período de seca“, diz Hyland. “E, se em outro cordão não há oferendas ao Paccha-cocha, pode-se imaginar que havia risco de inundações.”
Em conversa com os moradores de Jucul, Hyland descobriu que os khipus costumavam ser mantidos em locais públicos, acessíveis aos anciãos da comunidade, que os consultavam para entender o clima atual com base nos padrões do passado. “Eles viam isso como um registro do clima e tentavam entender o que estava acontecendo agora olhando para o passado, exatamente como nós fazemos”, afirma.
Atualmente, pesquisadores trabalham para obter datas precisas por meio de datação por radiocarbono de vários khipus, com o objetivo de construir registro cronológico detalhado das oferendas relacionadas ao clima. “Teoricamente, poderíamos mapear os khipus e, se os datássemos, teríamos uma visão incrível de dados climáticos dessa região, preservados pelo próprio povo nativo“, conclui Hyland.
Esta post foi modificado pela última vez em 29 de maio de 2025 17:19