Ilhas Marshall: estudo revela lado B de testes nucleares dos EUA

Pesquisa encomendada pelo Greenpeace mostra que a dimensão dos estragos da radiação foi maior do que o governo americano admitiu
Bruna Barone30/05/2025 05h30
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Registro do teste BAKER da Operação Crossroads, 25 de julho de 1946 (Imagem: Everett Collection/Shutterstock)
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Um novo estudo revelou que os efeitos dos testes de armas nucleares nas Ilhas Marshall foram piores do que aqueles reconhecidos publicamente pelo governo dos Estados Unidos. Os experimentos foram encerrados há quase sete décadas.

Segundo a pesquisa mais recente, todos os atóis, incluindo os atóis do sul, receberam precipitação radioativa, mas apenas três dos 24 atóis, todos do norte e habitados no momento da precipitação, passaram por exames médicos para detectar câncer.

O levantamento “O Legado dos Testes Nucleares dos EUA nas Ilhas Marshall” foi encomendado pelo Greenpeace Alemanha e realizado pelo Instituto de Pesquisa Energética e Ambiental (IEER) com base em documentos oficiais de 1945 até os dias atuais.

“Entre os muitos aspectos preocupantes do legado nuclear das Ilhas Marshall está o fato de os Estados Unidos terem concluído, em 1948, após apenas três testes, que as Ilhas Marshall não eram ‘um local adequado para experimentos atômicos’ por não atenderem aos critérios meteorológicos exigidos. Mesmo assim, os testes continuaram”, disse Arjun Makhijani, autor do relatório e presidente do IEER. 

Novo estudo mostra que todo o país foi afetado pela precipitação radioativa (Imagem: Edpats/Shutterstock)

As principais conclusões do estudo

  • As medições de radioatividade e estimativas de dose do governo dos EUA mostram que todo o país foi afetado pela precipitação radioativa;
  • Imediatamente após o teste de Castle Bravo – o maior teste de armas nucleares já realizado pelo governo dos EUA – sua capital, Majuro, foi oficialmente considerada um atol de “exposição muito baixa”. No entanto, os níveis de radiação eram dezenas de vezes, e até 300 vezes maiores, em relação aos níveis de radiação gama de fundo;
  • Testes nucleares nas Ilhas Marshall geraram exposições à radiação em todo o mundo, com “pontos críticos” detectados a oeste das Ilhas Marshall, como Colombo, Sri Lanka, e a leste, até a Cidade do México;
  • A força explosiva total detonada nas Ilhas Marshall foi de 108 megatons – o equivalente a lançar uma bomba de Hiroshima todos os dias durante vinte anos. Em termos proporcionais, estima-se que a precipitação nuclear resulte em cerca de 100.000 mortes por câncer em excesso em todo o mundo;
  • A remediação de áreas contaminadas é complexa e custosa. As Ilhas Marshall carecem de capacidade técnica em diversas áreas cruciais para a saúde, a proteção ambiental e a possibilidade de reassentamento;
  • O histórico de danos e a desconfiança em relação aos Estados Unidos são agravados pela dependência marshallesa dos Estados Unidos para financiamento e conhecimento científico e médico. Por exemplo, o Runit Dome, que abriga décadas de resíduos nucleares, foi considerado “seguro” pelo Departamento de Energia dos EUA, apesar das rachaduras e do impacto das mudanças climáticas e da elevação do nível do mar.
Greenpeace realizou missão de seis semanas pelos atóis para apoiar luta das Ilhas Marshall por compensação (Imagem: D_Zheleva/Shutterstock)

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Política desumana

Em março e abril, o Greenpeace e seu navio principal, o Rainbow Warrior, completaram uma missão de seis semanas com especialistas em radiação e cientistas independentes para conduzir pesquisas nos atóis para apoiar o governo das Ilhas Marshall em sua luta contínua por justiça nuclear e compensação.

“Os testes nas Ilhas Marshall são exemplares de uma política imperial desumana que sacrificou deliberadamente vidas humanas e ignorou as culturas do Pacífico. Como resultado desse legado nuclear, os marshalleses foram despojados de suas terras, tradições e cultura, com o povo de Bikini e Rongelap deslocado para sempre”, disse Shiva Gounden, Chefe do Pacífico do Greenpeace Austrália-Pacífico. 

“Os EUA ainda não reconhecem a extensão total do profundo impacto. No entanto, esses testes de bombas atômicas não são um capítulo encerrado e continuam tendo impacto hoje. Reparações que correspondam à extensão dos danos causados ​​pelos testes já deveriam ter sido feitas há muito tempo.”

Em julho, o Greenpeace e o Rainbow Warrior comemorarão mais um aniversário de 40 anos: o bombardeio do Rainbow Warrior I pelo serviço secreto francês, que tentava interromper a campanha do Greenpeace contra os testes nucleares na Polinésia Francesa (Maohi Nui). 

Bruna Barone
Colaboração para o Olhar Digital

Bruna Barone é formada em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero. Atuou como editora, repórter e apresentadora na Rádio BandNews FM por 10 anos. Atualmente, é colaboradora no Olhar Digital.