Famílias do rei Herodes e de Jesus Cristo teriam compartilhado tumba; entenda

Salomé era irmã do monarca, mas outras Salomés viviam na região
Rodrigo Mozelli02/06/2025 23h02
Entrada da caverna
Tumba que pode ter sido compartilhada por Salomé, irmã de Herodes, e a "parteira de Jesus" — ou seriam elas a mesma pessoa? (Imagem: UPI/Alamy Stock Photo)
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Há uma caverna localizada em Israel que é ligada a Jesus Cristo. Lá, a “parteira de Jesus” estaria enterrada. Contudo, é possível que uma personalidade da realeza local também esteja no local: Salomé, irmã do rei judaico Herodes, o Grande.

A possibilidade foi levantada em novo estudo, publicado no jornal da Autoridade de Antiguidades de Israel (IAA, na sigla em inglês), ‘Atiquot. Nele, os pesquisadores se baseiam nos ornamentos e arquitetura do sítio arqueológico.

Área escavada da tumba
No túmulo, há a inscrição “Salomé” (Imagem: Nir Alon/Alamy Stock Photo)

Os arqueólogos afirmam que essas peculiaridades da caverna indicariam que um membro da família real Herodiana teria sido enterrado ali no século I A.C. Mas eles também dizem que outra pessoa, também com nome Salomé, pode estar na cova.

Ao Live Science, Vladik Lifshits, arqueólogo da IAA, disse: “Não é que eu ache que seja o túmulo de Salomé, irmã de Herodes. Estou apenas sugerindo que esta é uma das possibilidades.”

Detalhes da tumba que seria de Salomé

No artigo, de Lifshits e Nir-Shimshon Paran, os seguintes detalhes da caverna são revelados:

  • Ela fica a cerca de 48 quilômetros a sudoeste de Jerusalém;
  • Foi famosa na era Bizantina como centro de peregrinação cristã, pois uma mulher, chamada Salomé (nome comum naquela época), era considerada a “parteira de Jesus”;
  • Já a identificação da tumba de alguém de nome Salomé teria, segundo o Live Science, vindo da descoberta de um ossuário com essa inscrição;
  • No século VII, o Califado Islâmico tomou Jerusalém, mas os cristãos seguiram peregrinando até lá por mais 200 anos;
  • Ainda assim, não se sabe quem está enterrado no local.

Há 40 anos, um bando de saqueadores reencontrou o sítio, escavado por arqueólogos em 1984, sendo incluído na Trilha dos Reis Judaicos, que possui 100 km e liga vários centros arqueológicos na região central de Israel.

Entre os artefatos encontrados no local, estão lâmpadas a óleo feitas de argila datadas dos séculos VIII e IX. Os pesquisadores acreditam que esses itens foram vendidos aos peregrinos cristãos enquanto exploravam a caverna.

Como era de se esperar, muitos dos artefatos que lá se encontravam já sumiram há muito tempo. Ainda assim, Lifshits observou que a arquitetura monumental (contando até com um pátio na entrada) pertencia a vilas luxuosas da região, o que indicaria que o local pertenceu a uma família próspera.

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E onde Herodes e sua família entram nisso tudo?

Herodes I também ficou conhecido como Herodes, o Grande e governou a região entre 37 e 4 a.C. Na Bíblia, ele ficou conhecido por ser o rei que tinha medo e inveja do surgimento de um novo “rei” e, por isso, ordenou a morte de todos os bebês meninos em Bethlehem, sendo que Jesus e sua família escaparam.

Apesar dá má fama quando o relacionamos com Jesus, Herodes foi considerado um bom rei para seu povo, que fez várias construções na região e que seguem de pé hoje. Já sua irmã, Salomé, é considerada peça-chave em seu governo. Documentos escritos na época apontam que ela, ao lado do irmão, firmou pacto para executar outros membros da família.

Mas não foi apenas essa Salomé que foi da família real judaica. O monarca teve uma neta de mesmo nome. A Bíblia conta que a Salomé mais nova ordenou a execução de João Batista, um dos nomes que acompanhavam Jesus e que era pregador. A seguir, ela ordenou que a cabeça dele fosse trazida em um prato.

Velas a óleo
Há centenas dessas velas a óleo e feitas com argila no local. Elas devem ter sido entregues aos cristão que peregrinavam até lá (Imagem: UPI/Alamy Stock Photo)

Essa Salomé morreu em cerca de 50 ou 60 D.C., enquanto a “original” morreu por volta de 10 D.C. Já a ideia de que a pessoa que está enterrada na caverna ser a Salomé mais velha é interessante, mas não conclusiva, na opinião do arqueologista Boaz Zissu, da Universidade Barllan de Israel, que não participou da pesquisa.

Ao Live Science, ele pontua: “Os autores identificaram, de forma correta, a fase original como a monumental tumba pertencente às elites locais do período Herodiano”, mas definir que ela é da Salomé mais velha depende de “suporte de evidências mais rigoroso“.

Rodrigo Mozelli é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e, atualmente, é redator do Olhar Digital.