Oceanos estão escurecendo e isso é um problema, diz pesquisa

Cientistas descobriram que os oceanos estão ficando mais escuros, o que afeta os ecossistemas marinhos e pode impactar a humanidade
Samuel Amaral03/06/2025 18h10, atualizada em 04/06/2025 21h53
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Pesquisa revela que mais de um quinto dos oceanos globais escureceu nas última duas décadas. Esse fenômeno ocorre quando as propriedades ópticas dos mares diminuem a profundidade das “zonas fóticas”, locais onde a chegada da luz solar e lunar é fundamental para a vida marinha.

O estudo está publicado na revista Global Change Biology. Os cientistas utilizaram dados do Ocean Colour Web, um instrumento da NASA que divide os oceanos globais em setores de 9 quilômetros quadrados. Com isso, puderam analisar as mudanças anuais na profundidade das regiões iluminadas dos mares ao redor do globo. 

As zonas fóticas são o lar de 90% dos animais dos oceanos e suportam a fotossíntese, processo responsável pelo crescimento de algas e plantas – base da cadeia de alimentação nos mares. As diferentes interações entre os humanos e os organismos marinhos também estão em risco com a diminuição dessas zonas, segundo os cientistas.

“Dependemos do oceano e de suas zonas fóticas para o ar que respiramos, os peixes que comemos, nossa capacidade de combater as mudanças climáticas e para a saúde e o bem-estar geral do planeta. Levando tudo isso em consideração, nossas descobertas representam um motivo genuíno de preocupação”, disse o doutor Thomas Davies, professor de Conservação Marinha na Universidade de Plymouth e autor do artigo, em um comunicado.

Mapa mostra as mudanças nas zonas fóticas globais entre 2003 e 2022. As regiões vermelhas indicam onde os oceanos estão escurecendo, enquanto os azuis indicam onde os oceanos estão ficando mais claros e os brancos indicam regiões onde não houve nenhuma mudança estatisticamente significativa durante o período.
Mapa mostra as mudanças nas zonas fóticas globais entre 2003 e 2022. As regiões vermelhas indicam onde os oceanos estão escurecendo, enquanto os azuis indicam onde os oceanos estão ficando mais claros e os brancos definem onde não houve mudança estatisticamente significativa durante o período. (Imagem: Thomas Davies/University of Plymouth)

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Oceanos escuros são risco iminente

A equipe descobriu que entre 2003 e 2022, 21% dos oceanos globais se tornaram mais escuros. Além disso, 9% de toda a cobertura de água mundial – área próxima a do continente africano – apresentou uma redução de cerca de 50 metros em suas zonas fóticas e 2,6% teve uma diminuição acima de 100 metros.

“Se a zona fótica continuar diminuindo em cerca de 50m em grandes áreas do oceano, os animais que precisam de luz serão forçados a se aproximar da superfície, onde terão que competir por alimento e outros recursos de que necessitam. Isso pode causar mudanças fundamentais em todo o ecossistema marinho”, explicou o professor Tim Smith, do Laboratório Marinho de Plymouth.

O grupo sugere que o escurecimento dos oceanos seja resultado do aumento de nutrientes, material orgânico e carga de sedimentos vindos das costas, efeito causado pelo escoamento agrícola e a intensificação das chuvas.

Nas profundezas do oceano, eles acreditam que o efeito seja resultado de mudanças na proliferação de algas e nas temperaturas da superfície do mar, que reduziram a penetração da luz nas águas da superfície.

Os cientistas concluem com um alerta: “sem luz suficiente, os organismos marinhos serão forçados a migrar verticalmente para uma faixa cada vez menor de águas superficiais suficientemente iluminadas, expondo-os a níveis mais altos de competição por recursos e a um risco elevado de predação. As implicações para as cadeias alimentares marinhas, as pescarias globais e os orçamentos de carbono e nutrientes podem ser graves”.

Samuel Amaral
Redator(a)

Samuel Amaral é jornalista em formação pela Universidade de São Paulo (USP) e estagiário de Ciência e Espaço no Olhar Digital.