Ponto de encontro entre sapiens e neandertais é descoberto

Cientistas finalmente descobriram onde rolou o 'crush' evolutivo entre humanos e neandertais — e não foi na Europa.
Por Rafael Magalhães, editado por Bruno Capozzi 08/06/2025 04h30, atualizada em 09/06/2025 08h04
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Crédito: Gorodenkoff - Shutterstock
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É um capítulo surpreendente da nossa pré-história: Homo sapiens e neandertais não apenas coexistiram, como também compartilharam muito mais do que território. Durante anos, a ciência buscou entender quando esses encontros aconteceram. Agora, uma nova pesquisa revela onde eles ocorreram com mais precisão do que nunca.

Ao mapear a distribuição geográfica dessas duas espécies no sudoeste da Ásia e sudeste da Europa, pesquisadores conseguiram localizar o provável cenário do primeiro contato entre nós e nossos parentes mais próximos, no fim do Pleistoceno.

A análise revelou um ponto de sobreposição geográfica claro entre as duas espécies humanas, as Montanhas Zagros. Essa imponente cadeia montanhosa, situada no planalto persa, se estende pelos atuais territórios do Irã, norte do Iraque e sudeste da Turquia.

Um encontro facilitado pela geografia

É o que diz recente artigo publicado plea IFLScience – as Montanhas Zagros criaram as condições perfeitas para este encontro. É que a região abriga uma variedade impressionante de ecossistemas e paisagens, com recursos naturais capazes de sustentar grandes populações humanas ao longo do tempo.

Mais que um refúgio montanhoso, Zagros serviu como corredor biológico entre continentes (Imagem: Sama.GH/Shutterstock)

Durante as mudanças climáticas do Pleistoceno, esse corredor natural ligando zonas frias do norte às regiões mais quentes do sul teria servido como uma rota de migração. Ao conectar diferentes grupos humanos em trânsito, neandertais e Homo sapiens puderam coexistir e interagir.

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Além da geografia, o registro arqueológico reforça a importância das Zagros. A área concentra inúmeros sítios pré-históricos com fósseis e artefatos atribuídos tanto a neandertais quanto a Homo sapiens, fornecendo pistas valiosas sobre seus modos de vida. Sobretudo como suas histórias se entrelaçaram.

Um passado que ainda vive em nós

Mais de 40 mil anos depois, o legado desse cruzamento entre espécies ainda está em nós. Desde 2010, quando cientistas sequenciaram o genoma completo do neandertal, ficou claro: a história da humanidade moderna é, claro, uma história de mistura.

Até 4% do nosso DNA carrega vestígios neandertais (Imagem: Gorodenkoff/Shutterstock)

Estudos genéticos posteriores revelaram que entre 1% e 4% do DNA de pessoas não africanas vivas hoje tem origem neandertal. Ou seja, traços herdados desses antigos encontros continuam presentes em boa parte da população mundial, mesmo que muitos nem desconfiem disso.

Essas heranças vão muito além da curiosidade científica. Elas influenciam características físicas, como o formato do nariz, e até predisposições comportamentais e de saúde. A genética neandertal pode estar ligada a um limiar de dor mais baixo, maior sensibilidade a infecções como a COVID-19 e até uma maior tendência à depressão. O passado, ao que tudo indica, ainda nos escreve por dentro.

Redator(a)

Pai, redator, e apaixonado por viagens e fotografia.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.