Bactéria transforma plástico em paracetamol, revela estudo

Segundo os pesquisadores responsáveis pelo trabalho, o método pode ser um importante aliado na luta contra a poluição plástica
Alessandro Di Lorenzo23/06/2025 16h03
Escherichia-coli-mumia-genoma-1-1920x1080
Imagem: Kateryna Kon/Shutterstock
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Uma versão geneticamente modificada da bactéria Escherichia coli foi usada para transformar plástico PET no princípio ativo do paracetamol, um dos analgésicos mais usados no mundo. A descoberta foi feita por pesquisadores da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido.

Segundo a equipe, o processo foi realizado em temperatura ambiente, com praticamente zero emissão de carbono e em menos de 24 horas. Isso significa que o método pode ser um importante aliado na luta contra a poluição plástica.

O plástico PET é usado em garrafas e embalagens (Imagem: Kwangmoozaa/Shutterstock)

Dois genes foram inseridos na bactéria

Durante o trabalho, os cientistas descobriram que a “reação de Lossen”, até então usada só em laboratório e sob condições rigorosas, pode acontecer dentro da E. coli, em ambiente aquoso e com a ajuda apenas do fosfato, um componente já presente no meio de crescimento da bactéria. Essa reação química permite transformar um tipo especial de composto, chamado hidroxamato, em uma amina, que é uma estrutura básica presente em muitas moléculas, inclusive medicamentos.

Segundo os pesquisadores, o processo foi essencial para gerar o para-aminobenzoato (PABA), uma substância intermediária usada depois pela própria bactéria para fabricar o paracetamol. Eles explicam que tudo isso ocorreu sem necessidade de metais pesados, calor extremo ou catalisadores artificiais.

Visão microscópica de bactérias E. coli
Bactérias do grupo E. coli naturalmente habitam intestinos saudáveis, mas algumas cepas podem contaminar várias partes do corpo (Imagem: Arif biswas/Shutterstock)

Para que a bactéria pudesse fazer o trabalho completo, foram inseridos dois genes nela: um vindo de um cogumelo (Agaricus bisporus) e outro de uma bactéria do solo (Pseudomonas aeruginosa). Eles permitiram que a E. coli transformasse o produto derivado do plástico em paracetamol.

Ainda segundo a equipe responsável pelo trabalho, cerca de 92% do material plástico processado foi convertido no princípio ativo durante os experimentos. As descobertas foram descritas em estudo publicado na revista Nature Chemistry.

Leia mais

Método pode ajudar na luta contra a poluição plástica (Imagem: MOHAMED ABDULRAHEEM/Shutterstock)

Alguns desafios ainda precisam ser superados

  • Apesar dos resultados dos testes, a equipe destaca que a transformação do plástico em paracetamol foi realizada apenas em pequena escala, dentro do laboratório.
  • Os cientistas reconhecem que são necessários mais estudos para que o processo possa ser usado em indústrias e em larga escala.
  • Um dos desafios é aumentar a concentração do material sem prejudicar as bactérias e garantir que o sistema funcione em biorreatores maiores.
  • Também é preciso comparar os custos e benefícios ambientais em relação aos métodos tradicionais.
  • Mesmo assim, este método pode representar um novo cenário onde o plástico descartável pode virar matéria-prima para medicamentos.
  • Isso reduziria a quantidade de lixo plástico e a dependência de combustíveis fósseis na indústria farmacêutica.
Alessandro Di Lorenzo
Colaboração para o Olhar Digital

Alessandro Di Lorenzo é formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e atua na área desde 2014. Trabalhou nas redações da BandNews FM em Porto Alegre e em São Paulo.