“Rosto de coruja” aparece em fusão galáctica registrada por astrônomos

A fusão de duas galáxias formou o que aparenta ser um “rosto de coruja”, com os núcleos sendo os "olhos" e a área de colisão, o "bico"
Por Samuel Amaral, editado por Lucas Soares 24/06/2025 08h03, atualizada em 24/06/2025 20h59
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Astrônomos detectaram uma fusão incomum entre duas galáxias que, curiosamente, se assemelha ao rosto de uma coruja. Batizada de “Coruja Cósmica”, a descoberta foi divulgada em uma versão preliminar da pesquisa no repositório arXiv.

Esse é um dos diversos eventos de fusão de galáxias — processos fundamentais para a evolução dessas estruturas cósmicas. Essas colisões reorganizam o gás ao redor das galáxias, transformam seu formato e desencadeiam a formação de novas estrelas.

Determinadas fusões são definhadas como galáxias em anel de colisão (CRGs). Elas ocorrem quando uma galáxia passa diretamente pelo disco de outra em uma colisão quase frontal, lançando o gás e as estrelas para fora em um padrão circular. Esse é um evento raro, astrônomos só detectaram algumas centenas delas no Universo local.

O estudo explica que a “Coruja Cósmica” aparenta ser um caso de CRG. Os pesquisadores usaram instrumentos do Telescópio James Webb, do Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) e do Very Large Array (VLA) para observar e chegar às conclusões.

“Imagens profundas e espectroscopia do JWST, ALMA e VLA revelam um sistema complexo de galáxias gêmeas em anel de colisão, exibindo uma morfologia quase idêntica”, escreveram os autores no artigo.

Coruja Cósmica
O estudante Mingyu Li e sua equipe da Universidade de Tsinghua, em Pequim, China, são os responsáveis pela pesquisa. Na imagem, o grupo destaca os “olhos” e o “bico” da coruja. (Imagem: Mingyu Li 2025 et al.)

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Olhos da coruja são colossais

Segundo os cálculos da equipe, as galáxias têm cerca de 26 mil anos-luz de diâmetro e os buracos negros no centro de cada uma têm em torno de 67 e 26 milhões de massas solares. O sistema em fusão ao todo teria aproximadamente 320 bilhões de vezes a massa do Sol.

As imagens mostram que o núcleo de cada galáxia forma um “olho” da coruja. Enquanto isso, a região central — com intensa formação de estrelas, acentuada pela emissão de gases — aparenta ser o “bico” da ave. 

A pesquisa revela que os centros das galáxias são núcleos galácticos ativos (AGN) — regiões que recebem energia de buracos negros supermassivos capazes de emitir intensa radiação em feixes eletromagnéticos. O “olho” esquerdo emite um jato de rádio bipolar, que se estende até a região do “bico” e induz choques adicionais no centro de colisão entre as duas galáxias.

Os pesquisadores destacaram o conjunto único de características da Coruja Cósmica. Segundo o estudo, a combinação de uma fusão frontal, formação de anéis gêmeos, atividade dupla de AGNs e explosões estelares induzidas por jatos forma um retrato raro e detalhado dos processos que acumulam massa estelar e alimentam buracos negros no Universo primitivo.

A descoberta é mais do que uma bela imagem astronômica. Ela oferece pistas sobre os mecanismos que moldaram as primeiras galáxias e nos ajuda a compreender as origens da estrutura cósmica que observamos hoje.

Samuel Amaral
Redator(a)

Samuel Amaral é jornalista em formação pela Universidade de São Paulo (USP) e estagiário de Ciência e Espaço no Olhar Digital.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.