Uber cobra mais dos clientes e paga menos aos motoristas, diz estudo

Estudo da Universidade de Oxford mostra que, após novo algoritmo, motoristas da Uber ganham menos enquanto passageiros pagam mais
Ana Luiza Figueiredo24/06/2025 11h50, atualizada em 24/06/2025 16h13
uber
(Imagem: JHVEPhoto / Shutterstock.com)
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Um estudo realizado pela Universidade de Oxford revelou que o modelo de precificação dinâmica do Uber tem impactos negativos tanto para os motoristas quanto para os passageiros. A pesquisa indica que, após a adoção desse sistema, os usuários passaram a pagar mais pelas corridas, enquanto os ganhos dos motoristas diminuíram. Ao mesmo tempo, a empresa aumentou sua participação na receita.

O levantamento foi conduzido por pesquisadores do Departamento de Ciência da Computação de Oxford, que analisaram dados de 258 motoristas do Reino Unido, totalizando mais de 1,5 milhão de viagens realizadas entre 2016 e 2024. Os resultados mostram uma mudança significativa a partir de 2023, quando a Uber implementou um novo algoritmo de preços.

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Estudo da Universidade de Oxford demonstra mudanças na precificação do Uber (Imagem: DenPhotos / Shutterstock.com)

Uber lucra mais, enquanto motoristas recebem menos

  • De acordo com o estudo, o algoritmo faz com que a “taxa de serviço” do Uber — ou comissão — aumente proporcionalmente em viagens de maior valor.
  • Na prática, quanto mais cara a corrida para o passageiro, menor é o ganho do motorista por minuto trabalhado.
  • Quanto maior o valor da viagem, maior é a fatia que a Uber retém. Isso significa que, conforme o cliente paga mais, o motorista efetivamente ganha menos por minuto”, explicou Reuben Binns, professor associado e autor principal da pesquisa.
  • O levantamento mostra que a renda horária dos motoristas, ajustada pela inflação, caiu de mais de £ 22 para pouco mais de £ 19 antes dos custos operacionais, como combustível e manutenção.
  • Além disso, os profissionais estão passando mais tempo ocioso, sem remuneração, aguardando novas corridas.
Uber driver holding smartphone in car.
Estudo mostra que houve queda na renda dos motoristas (Imagem: Tero Vesalainen / Shutterstock.com)

Comissão da Uber chega a ultrapassar 50% em alguns casos

Outro dado que chama a atenção é o crescimento da participação da Uber sobre cada viagem. Antes da mudança no algoritmo, a média da comissão era de cerca de 25%. Atualmente, o percentual subiu para 29% e, em alguns casos específicos, ultrapassa a marca de 50% do valor total da corrida.

Para os pesquisadores, esses números evidenciam um problema estrutural na relação entre a plataforma, os motoristas e os usuários. O estudo levanta questionamentos sobre a falta de transparência e a justiça nos modelos de remuneração da economia de plataformas, como é o caso do Uber.

Uber via Diego Thomazini/Shutterstock
Passageiros também estariam sendo afetados pelo novo algoritmo de tarifas da empresa (Imagem: Diego Thomazini / Shutterstock.com)

Os resultados serão apresentados oficialmente na ACM Conference on Fairness, Accountability, and Transparency (FAccT 2025), evento internacional que discute temas relacionados a ética e responsabilidade em sistemas baseados em algoritmos, no final de junho.

O Olhar Digital entrou em contato com a Uber, que respondeu por meio de sua equipe no Reino Unido, já que o estudo se refere às operações da empresa naquele país. Em nota, a Uber afirmou: “Não reconhecemos os números apresentados neste relatório. Os motoristas parceiros no Reino Unido receberam mais de £ 1 bilhão em ganhos entre janeiro e março deste ano, um valor superior ao do mesmo período do ano anterior.”

A empresa também destacou que os motoristas escolhem trabalhar com a Uber pela flexibilidade total de horários e pela transparência nas corridas aceitas. Segundo o comunicado, todos os motoristas recebem relatórios semanais com o detalhamento dos ganhos, incluindo o valor recebido por eles e o repasse à Uber. A companhia finaliza dizendo que se orgulha de ver milhares de motoristas optando por trabalhar na plataforma, em um cenário de crescimento contínuo na demanda e nas viagens.

Ana Luiza Figueiredo é repórter do Olhar Digital. Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), foi Roteirista na Blues Content, criando conteúdos para TV e internet.