Relatório que motivou ataques ao Irã teria sido criado por IA

Documento da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) trouxe sérias preocupações em relação ao programa nuclear do Irã
Alessandro Di Lorenzo27/06/2025 08h52
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Imagem: motioncenter/Shutterstock
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O recente confronto entre Irã e Israel, que contou até mesmo com a participação dos Estados Unidos, foi motivado pelo programa nuclear iraniano. Benjamin Netanyahu alegou que queria impedir que Teerã fosse capaz de construir armas nucleares no futuro, o que ameaçaria a existência israelense.

Estas preocupações aumentaram após um relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), órgão ligado à Organização das Nações Unidas (ONU). O documento, no entanto, pode ter sido criado a partir de inteligência artificial.

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Órgão ligado à ONU divulgou relatório sobre ameaça nuclear iraniana (Imagem: Delpixel/Shutterstock)

Guerra pode ter sido iniciada por IA

Em entrevista à Agência Brasil, o major-general português Agostinho Costa, especialista em assuntos de segurança e geopolítica e ex-vice-presidente da Associação EuroDefese-Portugal, questionou o uso da IA para este fim. Segundo ele, o pretexto para iniciar bombardeios foi motivado pela má utilização da ferramenta.

É a primeira guerra que podemos dizer que foi iniciada pela IA. Essa IA vem dizer que estão reunidas as condições para que o Irã possa construir uma arma nuclear. O relatório da AIEA de 31 de maio está nesta linha, não está reportando evidências, mas deduções e tendências que foram tomadas como factuais pelo Conselho de Governadores e serviu de pretexto para o ataque de Israel. Isso, obviamente, é um abuso do uso de um programa de inteligência artificial. Esses são os riscos do novo mundo, os riscos da IA.

Agostinho Costa, especialista em assuntos de segurança e geopolítica
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AIEA teria usado ferramenta de IA em relatório sobre o Irã (Imagem: Anggalih Prasetya/Shutterstock)

O documento foi criado a partir do programa Mosaic. Esta ferramenta usa IA para recolher uma base massiva de dados e faz previsões futuras, sendo usado em muitas áreas da segurança, incluindo por polícias em todo o mundo. Outro problema, segundo o especialista, é que a agência atômica é controlada principalmente pelos países ocidentais, especialmente EUA, Alemanha, França e Reino Unido. Dessa forma, qualquer decisão pode servir para os propósitos destas nações.

O uso de IA nos relatórios sobre o Irã foi registrado também pelo pesquisador Douglas C. Youvan, no artigo The Jerusalem Protocol: Palantir, IAEA, Mosaic, CIA, Mossad e pelo diplomata britânico Alastair Crooke, referência em assuntos sobre Oriente Médio. A AIEA não se pronunciou sobre o assunto até o momento.

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Irã nega estar desenvolvendo armas nucleares (Imagem: FOTOGRIN/Shutterstock)

AIEA admitiu que não há evidências de armas nucleares iranianas

  • O relatório da AIEA foi publicado em 31 de maio deste ano trouxe sérias preocupações em relação ao programa nuclear iraniano.
  • Segundo a entidade, pela primeira vez em 20 anos, o governo do Irã não estava respeitando as obrigações em relação à inspeção nuclear.
  • Seis dias depois da publicação, Israel realizou os primeiros bombardeios contra o país.
  • Com a repercussão, a Agência Internacional de Energia Atômica admitiu que não tinha provas de que os iranianos estivessem construindo armas nucleares, e que o documento servia apenas como um alerta para um cenário futuro.
  • O Irã negou a intenção de desenvolver estes armamentos, argumentando que seu programa nuclear foi criado para fins pacíficos.
  • Além disso, acusou a AIEA de “agir politicamente” e rompeu relações com a entidade.
  • Lembrando que, em março deste ano, a Diretora de Inteligência Nacional dos EUA, Tulsi Gabbard, afirmou à Comissão de Inteligência do Senado do país que não havia evidências de que o Irã estava construindo armas atômicas.
  • A posição de Tulsi foi questionada pelo presidente Donald Trump.
Alessandro Di Lorenzo
Colaboração para o Olhar Digital

Alessandro Di Lorenzo é formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e atua na área desde 2014. Trabalhou nas redações da BandNews FM em Porto Alegre e em São Paulo.