(Imagem: Ilustração/NASA)
Todas as sextas-feiras, ao vivo, a partir das 21h (pelo horário de Brasília), vai ao ar o Programa Olhar Espacial, no canal do Olhar Digital no YouTube. O episódio da última sexta-feira (27) (que você confere aqui) contou com a presença de Gustavo Madeira, cientista brasileiro que participou da missão DART, da NASA, em que, pela primeira vez, uma nave enviada da Terra colidiu com um asteroide e mudou sua rota com sucesso.
Madeira é doutor em Física pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), com pós-doutorado no Institut de Physique du Globe de Paris, na França. Ele atualmente é pesquisador adjunto do Observatório Nacional (ON) e participa da missão Hera, da Agência Espacial Europeia (ESA).
“O que antes era um roteiro de ficção cientifica, hoje se tornou uma realidade da exploração espacial e da defesa planetária: uma espaçonave lançada deliberadamente a 24 mil km/h para colidir com um asteroide. Essa foi a missão DART da NASA, um teste pioneiro de defesa planetária que se mostrou ser um sucesso”, comentou Marcelo Zurita, astrônomo e apresentador do Olhar Espacial.
Durante o programa, o físico contou os desafios que sua equipe enfrentou para que a colisão fosse bem-sucedida. Agora, ele participa da equipe científica da missão Hera, que continuará as pesquisas no sistema de asteroides impactados pela sonda enviada pela NASA.
Em 24 de novembro de 2021, a nave DART, da NASA, foi lançada em direção ao asteroide Dimorphos – um corpo rochoso a 11 milhões de quilômetros da Terra que orbita seu “irmão” maior, o asteroide Didymos. A missão tinha como objetivo testar a eficácia de chocar objetos contra possíveis asteroides em trajeto de colisão com a Terra, técnica conhecida como impacto cinético.
“Foi escolhido um binário — dois asteroides que orbitam um ao redor do outro, porque se pode fazer um teste no objeto menor e verificar se ele troca de rota, mas evitando o perigo de colocá-lo em direção ao nosso planeta”, disse Madeira.
O físico destacou a dificuldade em fazer os cálculos para que a colisão fosse bem-sucedida. A órbita do asteroide deve ser estimada constantemente e, durante o trajeto, a nave deve ter sua direção corrigida para garantir o impacto. Tudo isso só foi possível com uma imensa potência computacional.
“Toda hora temos que medir a órbita daquele corpo e refazer os cálculos de trajetória para garantir que o objeto vai chegar ao menos perto do alvo. O grande desafio tecnológico foi ter processadores o suficiente para conseguir realizar esses cálculos de forma rápida”, explicou o cientista.
Perturbações externas também complicam a trajetória estimada de pequenos corpos, como a dupla de asteroides. Madeira disse que os milhares de objetos espaciais ao redor dos asteroides podem influenciá-los, o que gera resultados diversos e caóticos – difíceis de prever.
Após quase um ano de viagem espacial, em 26 de setembro de 2022, DART atingiu o asteroide com sucesso. Dimorphos mudou de direção, liberou uma nuvem de poeira e ganhou uma nova cratera. “É como se a nave fosse o bastão da sinuca e o asteroide fosse a bola”, comentou o físico.
A conquista foi inédita para astronomia e inovadora para a defesa planetária. A técnica de impacto cinético teve um desempenho melhor do que o esperado, mudando até mesmo o formato do asteroide. “Foi histórico porque foi extremamente bem-sucedido”, disse Madeira.
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Agora, a nave da missão Hera, da ESA, irá em direção ao sistema Didymos-Dimorphos para estudar os efeitos da colisão. Lançada em outubro de 2024, a agência estima que a sonda chegará ao alvo em dezembro de 2026.
“Ao saber as consequências, a gente consegue se planejar para caso, no futuro, precisemos de fato fazer isso para nossa sobrevivência”, comentou o físico.
A nave principal da Hera levará equipamentos para analisar a composição química dos asteroides, medir a cratera gerada e avaliar a eficácia do desvio de rota do corpo rochoso. Além dela, dois pequenos satélites CubeSats serão liberados para orbitar os asteroides e coletar imagens.
“Como foi a primeira vez que fizemos isso, a gente não tem ideia do que vai encontrar”, disse o físico.
O brasileiro participa agora dessa missão, em que faz parte do grupo de cientistas que estuda a formação dos asteroides e seu comportamento. Com os novos dados, a equipe pretende reavaliar os modelos matemáticos anteriores para ver se as informações inéditas cabem nesses modelos ou se terão que alterá-los.
Para Gustavo Madeira, além do avanço científico, há também uma conquista simbólica: “é importante colocar luz no fato de que existem brasileiros fazendo parte dessas grandes colaborações cientificas e fazendo história na astronomia”, concluiu o cientista.
Esta post foi modificado pela última vez em 1 de julho de 2025 12:35