Mudança no Atlântico pode secar florestas tropicais, diz estudo

Se a principal corrente oceânica do Atlântico continuar enfraquecendo, regiões tropicais poderão enfrentar secas severas, revela pesquisa.
Samuel Amaral03/07/2025 05h00, atualizada em 01/08/2025 17h40
Rio Negro com água baixa, barcos e árvores mortas.
Haveria uma queda de até 40% das chuvas em partes da Amazônia, segundo o estudo. (Imagem: Gomes' Nature Records / Shutterstock)
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Um novo estudo revela que o enfraquecimento da Circulação Meridional do Atlântico (AMOC, na sigla em inglês) — uma das maiores correntes oceânicas da Terra — pode gerar secas nas principais florestas tropicais do planeta. Publicada nesta semana na revista Nature, a pesquisa analisou 17 mil anos de dados climáticos para estimar os impactos globais de uma AMOC mais fraca.

A Circulação Meridional do Atlântico é um enorme sistema de correntes oceânicas que transporta água quente e salgada das regiões tropicais para o norte do Atlântico. Funciona assim:

  • As águas da região tropical entre a América do Sul e a África são aquecidas pelo Sol e levadas pelos ventos da região até o Golfo do México, onde sofrem uma curva e seguem para o Ártico.
  • Após esfriar, a água aumenta de densidade e afunda, retornando para o sul em correntes profundas do oceano, completando o ciclo.

Sem a circulação de água quente da AMOC, regiões da América do Norte e Europa seriam muito mais frias. É a corrente que garante um clima mais ameno. Ela também preserva o funcionamento do cinturão de chuva tropical — uma faixa estreita de fortes precipitações perto da linha do Equador que mantém as florestas da região vivas e pujantes.

Pesquisas anteriores já apontavam sinais de desaceleração da AMOC. Um eventual colapso desse sistema poderia ter efeitos devastadores para o planeta, desencadeando mudanças climáticas profundas e potencialmente irreversíveis.

A Circulação Meridional do Atlântico (AMOC) e responsável por levar agua quente dos trópicos para áreas frias do Atlântico Norte (Crédito: NOAA)
A Circulação Meridional do Atlântico (AMOC) é responsável por levar água quente dos trópicos para áreas frias do Atlântico Norte (Crédito: NOAA)

Partes da Amazônia teriam queda de 40% nas chuvas, diz pesquisa

No novo estudo, os pesquisadores analisaram dados de clima e precipitação obtidos a partir de registros preservados em cavernas, sedimentos lacustres e marinhos. Com essas informações, eles simularam os efeitos do enfraquecimento da AMOC. Conforme os resultados, os impactos seriam:

  • O Atlântico Norte resfriaria, causando uma queda de temperaturas no Atlântico tropical e no Caribe.
  • Essas mudanças, em conjunto com o aquecimento global, causariam uma redução nas chuvas em regiões do cinturão de floresta tropical, com queda de até 40% em partes da floresta amazônica.
  • Além da Amazônia, a América Central e a África Ocidental sofreriam com secas severas.
Solo seco em Cabo Ocidental, na África do Sul. (Imagem: Dirk Theron / Shutterstock)

Humanidade ainda pode evitar o colapso da corrente do Atlântico

Em um comunicado, o líder do estudo Pedro DiNezio, professor associado da Universidade do Colorado, revelou que os impactos podem ir além das secas. A floresta amazônica concentra quase dois anos de emissões globais de carbono, sendo um grande depósito de carbono na Terra, segundo um estudo de 2024.

“A seca nesta região pode liberar enormes quantidades de carbono de volta para a atmosfera, formando um ciclo vicioso capaz de agravar as mudanças climáticas”, explicou.

O professor disse que a situação não é desesperadora e existe uma solução. Embora as chuvas nos trópicos sejam sensíveis às mudanças na força da AMOC, é pouco provável que essa corrente sofra um colapso completo ainda neste século.

Como esse sistema oceânico irá se comportar nos próximos anos depende do combate às mudanças climáticas no presente. Segundo ele, a humanidade pode agir para evitar um futuro de seca nas grandes florestas.

“Ainda temos tempo, mas precisamos descarbonizar a economia rapidamente e tornar as tecnologias verdes amplamente disponíveis para todos no mundo. A melhor maneira de sair de um buraco é parar de cavar”, concluiu DiNezio.

Samuel Amaral
Redator(a)

Samuel Amaral é jornalista em formação pela Universidade de São Paulo (USP) e estagiário de Ciência e Espaço no Olhar Digital.