Atmosfera de Vênus é desvendada em nova descoberta

Pesquisadores japoneses aproveitaram os dados coletados acidentalmente por satélites para estudar a atmosfera de Vênus na última década
Por Samuel Amaral, editado por Lucas Soares 05/07/2025 05h00
Vênus na borda da Terra capa
(Imagem: Nishiyama et al. CC-BY-ND)
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Dois satélites meteorológicos japoneses captaram, de forma acidental, dados sobre a atmosfera de Vênus. Aproveitando essa descoberta, pesquisadores analisaram as informações para estudar as variações de temperatura do planeta ao longo da última década.

A pesquisa está disponível no periódico Earth, Planets and Space e traz os resultados desse uso inovador dos instrumentos de medição do tempo. O grupo acredita que satélites meteorológicos podem servir como ferramentas adicionais para observar a atmosfera venusiana em colaboração com telescópios terrestres.

Os satélites utilizados foram o Himawari-8 e o Himawari-9, lançados em 2014 e 2016. Projetados para monitorar as condições meteorológicas da Terra, eles contam com os Avançados Imageadores Himawari Multiespectrais (AHIs), sensores capazes de detectar radiação infravermelha com alta precisão.

Quando o alinhamento está correto, os Himawari coletam acidentalmente dados de Vênus ao observar para além da borda da Terra. Sabendo disso, uma equipe da Universidade de Tóquio teve a ideia de usar o AHIs para medir a variação de temperatura nas nuvens venusianas entre 2015 a 2025.

O grupo identificou 437 imagens de Vênus no banco de dados dos satélites. Esses registros foram comparados com informações de estudos anteriores, permitindo aos pesquisadores entender o comportamento da atmosfera e da temperatura do planeta na última década.

Imagem de Vênus coletada pelos satélites atmosféricos
Os satélites captavam imagens e dados de Vênus quando o planeta aparecia próximo à borda da Terra. (Imagem: Nishiyama et al. CC-BY-ND)

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Dados podem colaborar com futuras missões

Captar esses dados era um desafio para projetos anteriores. “Sabe-se que a atmosfera de Vênus apresenta variações anuais na refletância e na velocidade do vento; no entanto, nenhuma missão planetária conseguiu realizar observações contínuas por mais de 10 anos devido à sua curta duração”, disse Gaku Nishiyama, pesquisador líder do estudo, em um comunicado.

Telescópios terrestres também colaboram com essa coleta de informações. Porém, suas observações são limitadas pela atmosfera da Terra e pela luz do Sol durante o dia.  

Os resultados do estudo são importantes para o planejamento de futuras missões para Vênus, como a EnVision, da Agência Espacial Europeia (ESA), e as VERITAS e DAVINCI+, da NASA

Os pesquisadores propõem o uso dos satélites meteorológicos como instrumentos essenciais para a captação desses dados térmicos e atmosféricos em Vênus nos próximos anos.

“Acreditamos que esse método fornecerá dados preciosos para a ciência, porque pode não haver nenhuma outra espaçonave orbitando Vênus até as próximas missões planetárias por volta de 2030”, comentou Nishiyama.

Agora, o grupo acredita que esses equipamentos também poderão servir para pesquisar outros corpos celestes, como a Lua e Mercúrio — já em estudo pela equipe da Universidade de Tóquio. As novas informações obtidas com essa tecnologia devem contribuir para uma melhor compreensão da formação desses astros rochosos ao longo do tempo.

Samuel Amaral
Redator(a)

Samuel Amaral é jornalista em formação pela Universidade de São Paulo (USP) e estagiário de Ciência e Espaço no Olhar Digital.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.