Como é trabalhar na OpenAI? Ex-funcionário revela bastidores

Ex-engenheiro da OpenAI revela os bastidores da empresa, com crescimento acelerado, estrutura caótica e pressão por lançamentos rápidos
Ana Luiza Figueiredo16/07/2025 11h31
Logo da OpenAI em um smartphone na horizontal
(Imagem: jackpress / Shutterstock.com)
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Um ex-engenheiro da OpenAI, Calvin French-Owen, publicou um relato detalhado sobre o ano em que trabalhou na empresa responsável pelo ChatGPT. Em um post de blog recente, ele descreveu os bastidores do desenvolvimento do Codex, uma das ferramentas de codificação mais promissoras da companhia, que concorre com soluções como o Cursor e o Claude Code, da Anthropic.

French-Owen deixou a OpenAI três semanas atrás, sem alegar conflitos ou polêmicas. Segundo ele, a saída se deu por vontade de voltar ao universo de startups. O engenheiro foi cofundador da Segment, empresa de dados de clientes vendida à Twilio por US$ 3,2 bilhões em 2020. Apesar de elogiar a equipe e o impacto dos produtos da OpenAI, seu texto expõe uma rotina acelerada, estrutura caótica e desafios técnicos internos.

codex
Calvin French-Owen trabalhou no desenvolvimento do Codex em seu tempo na OpenAI (Imagem: OpenAI / Divulgação)

O crescimento rápido e a estrutura frágil da OpenAI

  • Durante o período em que esteve na empresa, a OpenAI passou de 1.000 para 3.000 funcionários, reflexo direto da rápida adoção do ChatGPT.
  • A plataforma, que ultrapassou 500 milhões de usuários ativos em março, forçou a companhia a expandir operações em ritmo acelerado, e isso gerou impactos.
  • Tudo quebra quando você escala tão rápido”, escreveu o engenheiro, referindo-se a processos internos como comunicação, estrutura de reporte, organização de equipes e sistemas de contratação.
  • Mesmo com o porte atual, a empresa ainda opera com o espírito de uma startup, o que leva a esforços duplicados entre times e falhas recorrentes.
  • French-Owen citou como exemplo o desenvolvimento de múltiplas bibliotecas internas para gerenciar filas e ciclos de agentes.
  • O código-fonte central, chamado por ele de “monólito de back-end”, acaba funcionando como um repositório desorganizado, com scripts variados de diferentes níveis de complexidade.
openai
A OpenAI passou por um crescimento acelerado devido ao sucesso do ChatGPT (Imagem: JarTee / Shutterstock.com)

Lançamentos ágeis e pressão constante

Segundo o engenheiro, a cultura de “lançamento a qualquer custo” ainda predomina. Ele descreveu como sua equipe — formada por cerca de 17 pessoas — conseguiu criar e lançar o Codex em apenas sete semanas. O processo foi intenso, com noites mal dormidas, mas resultou em um lançamento de grande impacto. “Bastou ativá-lo para os usuários começarem a aparecer. Nunca vi nada ganhar tração tão rápido só por surgir em uma barra lateral”, comentou.

Mesmo com o crescimento, a OpenAI ainda funciona com ferramentas simples como o Slack, lembrando os primeiros anos do Facebook. Há também forte presença de ex-funcionários da Meta na empresa.

Leia mais:

Ambiente fechado e atenção a críticas

A exposição pública da OpenAI e do ChatGPT gerou um ambiente de cautela extrema com vazamentos. Segundo French-Owen, a empresa monitora atentamente redes sociais como o X (antigo Twitter), reagindo a postagens virais. “Um amigo brincou que ‘essa empresa funciona com as vibrações do Twitter’”, relatou.

Logos de OpenAI e ChatGPT lado a lado
Segundo o ex-engenheiro da OpenAI, a exposição pública da empresa e do ChatGPT trouxe cautela co vazamentos (Imagem: Fabio Principe / Shutterstock.com)

Apesar da imagem pública de que a OpenAI não se preocupa com segurança, o engenheiro aponta que há sim atenção aos riscos práticos. Ele citou esforços internos para mitigar discurso de ódio, manipulação política, abuso, automutilação, uso malicioso de IA e ataques de prompt injection. Embora também existam pesquisas sobre riscos existenciais de longo prazo, o foco principal está nos impactos imediatos da tecnologia.

A sensação interna é de que “os riscos são reais e os olhos estão voltados para a empresa”, e governos, concorrentes e usuários acompanham de perto cada movimento. Ao mesmo tempo, a OpenAI segue de olho em seus rivais, refletindo o clima de competição intensa que marca o atual cenário da inteligência artificial.

Ana Luiza Figueiredo é repórter do Olhar Digital. Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), foi Roteirista na Blues Content, criando conteúdos para TV e internet.