Representação artística do rover Curiosity, que explora Marte há 13 anos. Crédito: Rawpixel.com - Shutterstock
Os “demônios de poeira” marcianos deixam marcas em Marte que podem permanecer por meses, como uma espécie de “pegada“. A partir delas, os pesquisadores estão aprendendo mais e melhor sobre esses redemoinhos e, potencialmente, até orientar o planejamento das futuras missões humanas ao Planeta Vermelho.
Nos dias quentes e com muito vento nos desertos terrestres, vórtices de areia e detritos podem se formar e se mover de forma inesperada. Essas mesmas condições podem criar os demônios de poeira.
Contudo, os redemoinhos marcianos costumam ser mais amplos e mais altos que seus semelhantes terráqueos, mas os cientistas não têm total certeza do motivo.
Dessa forma, Dauber e seus colegas começaram a estudar imagens do High Resolution Imaging Science Experiment (HiRISE) do Mars Reconnaissance Orbiter (MRO) da NASA, cujas fotos são as de maior definição já tiradas do planeta a partir do Espaço.
O HiRISE consegue capturar características tão pequenas, como um metro. Mas, para ter a perspectiva detalhada, as imagens só conseguem cobrir uma pequena parcela da superfície de Marte. Dauber e seus colegas estudaram 21.475 imagens tiradas entre janeiro de 2014 e abril de 2018.
As “pegadas” aparecem em somente 798 delas, menos de 4%. As trilhas do diabo da poeira (DDTs, na sigla em inglês) indicam que os diabos de poeira são mais comuns nas altitudes norte e sul, além de serem mais ativos no verão de cada hemisfério, mas atingem o pico no verão do hemisfério sul.
Os pesquisadores dizem que a excentricidade orbital significativa de Marte (desvio de um círculo perfeito) faz com que a atmosfera no verão no sul circule com mais potência. Isso cria condições ideais para formar vórtices.
Combinado com menos acumulação de poeira na região norte, faz com que o verão no hemisfério sul marciano tenha a tempestade ideal para os diabos de poeira.
As observações da equipe refletem o pico de preservação do DDT mais que a formação dos diabos de poeira, porém, a culminação coincide com o pico observado pelo rover da NASA, o Spirit, na cratera Gusev, em conjunto com observações globais dos bicos de areia.
Além disso, a equipe ainda percebeu que os DDTs se formam mais comumente e são preservados onde há areia mista, rochas e alicerce com pouca poeira brilhante — esse é o tipo mais comum de superfície identificada em Marte.
Essa poeira brilhante que é retirada da superfície deixa trilhas escuras na paisagem. “O material no chão é fundamental para a formação dos DDTs”, disse Dauber.
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Vimos as primeiras trilhas de poeira em Marte em 1972 com a missão Mariner 9 da NASA, cujas imagens foram analisadas em 2014 e, aí, sim, os caminhos foram descobertos.
Em 1998, imagens de alta resolução da Mars Global Surveyor (MGS) permitiram que os cientistas analisassem melhor o fenômeno.
A poeira de Marte tem dificultado as missões terrestres até aqui. Isso porque os rovers que descem no Planeta Vermelho se alimentam de energia solar, captada com seus painéis solares.
Com o passar do tempo, a poeira acaba acumulada nos painéis e diminui sua eficácia. Isso bloqueou a ação de missões, como a Opportunity, da NASA, que explorou a superfície marciana por 14,5 anos. Já o módulo de pouso InSight da NASA também sucumbiu após quatro anos.
Os fortes ventos que os demônios de poeira, quando iniciam, podem ter ação contrária e recuperar os robôs. O “gêmeo” do Opportunity, Spirit, ganhou uma sobrevida após um redemoinho marciano limpou seus painéis solares em 2005.
Além de todos esses dados, é importante entender onde os diabos de poeira são mais ativos, pois é capaz de auxiliar na seleção de locais de pouso para futuras missões.
Bandas de alta latitude onde DDTs e seus criadores acontecem com mais frequência têm o potencial de nos auxiliar a vasculhar painéis solares, permitindo, então, uma exploração mais duradoura.
Mas Daubar alerta: “Depende da missão — cada missão é única.” Há vários requisitos para locais de pouso e exploração, incluindo regiões com possibilidade de pouso seguro, junto a objetivos científicos complexos.
“Pode ser que existam apenas alguns lugares onde os objetivos científicos específicos podem ser alcançados e, então, talvez, isso possa ser um fator decisivo entre esses locais”, completou a cientista.
Em maio, um novo estudo sobre os diabos de poeira em Marte foi publicado na Geophysical Research Letters.
Esta post foi modificado pela última vez em 17 de julho de 2025 01:55