Poeira do Saara é encontrada na Amazônia

Em uma torre de pesquisa na floresta amazônica, cientistas detectaram três eventos de aumento da concentração de poeira do Saara na Amazônia
Por Samuel Amaral, editado por Lucas Soares 17/07/2025 18h47
Ventos levam a poeira do Saara através dos Oceano Atlântico até a floresta amazônica
Ventos levam a poeira do Saara através dos Oceano Atlântico até a floresta amazônica. (Imagem: Jhampier Giron M / Shutterstock)
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Pesquisadores detectaram três eventos intensos de poeira vinda do deserto do Saara para a Amazônia. No primeiro trimestre deste ano, o grupo identificou casos em que a concentração de partículas foi cerca de 5 vezes maior que o comum para o período.

Os registros foram feitos pela equipe do Observatório da Torre Alta da Amazônia (ATTO), uma estrutura de 325 metros localizada na Estação Científica de Uatumã, a 150km de Manaus. O local é equipado com sensores que monitoram a floresta, sua atmosfera e solo, 24 horas por dia.

Essas partículas de poeira viajam mais de 5 mil km entre a África e a América em um processo que leva de uma a duas semanas. Isso ocorre quando os ventos se encontram na Zona de Convergência Intertropical, uma faixa de baixa pressão atmosférica localizada próxima à Linha do Equador. 

“A intensidade desses episódios é bastante variável na Amazônia, pois depende da quantidade de poeira lançada na atmosfera no Saara, da velocidade do vento ao longo do transporte, e, principalmente, da precipitação, pois a chuva remove as partículas da atmosfera”, explicou Rafael Valiati, doutorando no Instituto de Física da USP que monitora os dados do ATTO, em um comunicado.

A equipe do ATTO monitora a floresta do alto. O projeto é uma parceria entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e o Instituto Max Planck, da Alemanha.
A equipe do ATTO monitora a floresta do alto. O projeto é uma parceria entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e o Instituto Max Planck, da Alemanha. (Imagem: Rodrigo Cabral/AscomMCTI)

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Pesquisadores registraram concentrações de poeira 5 vezes maiores

O fenômeno é comum e, segundo os pesquisadores, é melhor observado no primeiro semestre do ano. Porém, dessa vez as concentrações de poeira atingiram valores 5 vezes maiores que a média do período, que é de 4 μg/m³, chegando a marcar de 15 a 20 μg/m³.

Esses casos foram registrados entre 13 e 18 de janeiro, 31 de janeiro e 3 de fevereiro, e 26 de fevereiro e 3 de março. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) divulgou os resultados esta semana.

Agora, os cientistas estão estudando os efeitos do depósito da poeira do Saara sobre a floresta amazônica. “O que já se sabe é que o potássio e o fósforo da poeira mineral contribuem, no longo prazo, para a manutenção da fertilidade do solo, que em geral é muito pobre”, disse Carlos Alberto Quesada, coordenador do ATTO pelo lado brasileiro.

Samuel Amaral
Redator(a)

Samuel Amaral é jornalista em formação pela Universidade de São Paulo (USP) e estagiário de Ciência e Espaço no Olhar Digital.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.