Astrônomos encontram “super-Terra” em zona habitável com potencial de vida

Planeta orbita estrela anã vermelha e poderia ter condições necessárias para existência de água líquida
Por Rodrigo Mozelli, editado por Bruno Capozzi 24/07/2025 21h39, atualizada em 25/07/2025 21h12
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Astrônomos descobriram um exoplaneta a cerca de 35 anos-luz de nós que foi classificado como uma “super-Terra“. Vamos entender essa categoria nas próximas linhas. E há algo de muito interessante: ele está dentro da zona habitável de sua estrela. Isso significa que pode ter condições ideais para existir água líquida e, quem sabe, vida.

O planeta em questão é o L 98-59 f, o quinto encontrado orbitando a estrela anã vermelha L 98-59. Ela é fria e fraca e os corpos celestes que a orbitam possuem planetas pequenos e rochosos, como detalha o Space.com.

Representação artística de uma estrela anã vermelha
Representação artística de uma estrela anã vermelha (Imagem: Nazarii_Neshcherenskyi/Shutterstock)

O que torna o exoplaneta uma “super-Terra” e com potencial de abrigar vida?

  • O L 98-59 f é uma super-Terra com massa estimada em pelo menos 2,8 vezes a de nosso planeta;
  • Sua órbita é quase perfeitamente circular e dura 23 dias terrestres em torno de sua estrela;
  • Ele recebe quase a mesma quantidade de energia estelar que a Terra;
  • Dessa forma, ele se encontra na zona habitável da estrela, em faixa de distâncias nas quais a água líquida poderia existir caso a atmosfera dê condições ideais para isso, segundo comunicado.
  • Super-Terras – uma classe de planetas diferente de qualquer outra em nosso sistema solar – são mais massivas que a Terra, mas mais leves que gigantes de gelo como Netuno e Urano, e podem ser feitas de gás, rocha ou uma combinação de ambos. Elas têm entre o dobro do tamanho da Terra e até 10 vezes a sua massa.
  • Super-Terra é uma referência apenas ao tamanho de um exoplaneta – maior que a Terra e menor que Netuno –, mas não sugere que sejam necessariamente semelhantes ao nosso planeta natal. A verdadeira natureza desses mundos permanece envolta em incertezas, pois não temos nada parecido com eles em nosso próprio sistema solar – e, no entanto, eles são comuns entre os planetas encontrados até agora em nossa galáxia.

Como aconteceu a descoberta

Os astrônomos envolvidos no achado são do Instituto Trottier de Pesquisa em Exoplanetas da Universidade de Montreal (Canadá). Eles detectaram a nova super-Terra por meio de dados dos espectrógrafos High Accuracy Radial speed Planet Searcher (HARPS) e Echelle Spectrograph for Rocky Exoplanett and Stable Spectroscopic Observations (ESPRESSO) do European Southern Observatory (ESO) e observações do Transiting Exoplanet Survey Satellite (TESS) da NASA.

Como o exoplaneta descoberto não passa em frente de sua estrela a partir de nossa perspectiva, a forma como os pesquisadores o encontraram foi a partir do rastreamento de pequenas mudanças causadas na L 98-59 pela atração gravitacional do L 98-59 f.

A determinação de tamanho, massa e propriedades-chave dos cinco exoplanetas foi determinada a partir da combinação de dados do HARPS, ESPRESSO e TESS, além dos disponibilizados pelo Telescópio Espacial James Webb (JWST, na sigla em inglês).

Também utilizaram técnicas avançadas para filtrar o chamado “ruído estelar“. Essa junção de dados foi crucial para obter a melhor imagem do sistema L 98-59 até hoje.

Exemplo de exoplaneta
Exemplo de exoplaneta (Imagem: Nazarii_Neshcherenskyi/Shutterstock)

“Encontrar um planeta temperado em um sistema tão compacto torna esta descoberta particularmente empolgante”, disse Cadieux. “Ela destaca a notável diversidade de sistemas exoplanetários e fortalece a necessidade de estudar mundos potencialmente habitfáveis em torno de estrelas de baixa massa.”, afirma Charles Cadieux, pesquisador de pós-doutorado da universidade e principal autor do estudo.

“Esses novos resultados pintam o quadro mais completo que já tivemos do fascinante sistema L 98-59. É uma demonstração poderosa do que podemos alcançar combinando dados de telescópios espaciais e instrumentos de alta precisão na Terra e nos dá alvos-chave para futuros estudos atmosféricos com o Telescópio Espacial James Webb”, prossegue.

O fato de o sistema estudado estar próximo e de a estrela ser pequena, facilita nos estudos atmosféricos de acompanhamento. Isso significa que, se o L 98-59 f tiver atmosfera, telescópios, como o próprio JWST, podem identificar a presença de vapor de água, dióxido de carbono, ou, ainda, bioassinaturas — os potenciais indicadores de vida.

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Água em detalhe
Condições do exoplaneta podem dar condições de existir água e, dessa forma, vida (Imagem: M O H/Shuuterstock)

Outros mundos descobertos

O mesmo estudo, publicado este mês na Earth and Planetary Astrophysics, também descobriu que o planeta mais interno desse sistema, o L 98-59 b, tem 84% do tamanho da Terra e metade de sua massa, o que o “premia” como um dos menores exoplanetas medidos.

As forças de maré podem impulsionar a atividade vulcânica nos dois planetas mais internos do sistema de L 98-59. Já a baixa densidade do terceiro planeta aponta ser possível que ele tenha água em abundância, contrastando com os planetas de nosso Sistema Solar.

Os pesquisadores dizem que essa pluralidade de cenários e condições os ajuda a investigar a formação e evolução de sistemas planetários além do nosso.

Rodrigo Mozelli é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e, atualmente, é redator do Olhar Digital.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.