Esse peixe da Amazônia bota ovos fora d’água e depois precisa regá-los

Conhecido como tetra-splash, o peixe amazônico tem um método único de reprodução realizado em superfícies como folhas e troncos de árvores
Por Angelina Miranda, editado por Layse Ventura 31/07/2025 06h20, atualizada em 04/08/2025 17h12
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No reino animal, existem espécies aquáticas, terrestres e voadoras, mas há outros animais que vivem o hibridismo. Um deles é o tetra-splash, peixe que vive nos rios amazônicos, mas que tem a curiosa tática de reprodução de colocar seus ovos fora da água.

O nome científico do tetra-splash é Copella Arnoldi, e ele é uma espécie bastante conhecida e negociada no mercado internacional de peixes ornamentais – ou seja, peixes de aquário, que podem ser criados como pets.

Só há conhecimento de duas outras espécies que fazem essas acrobacias para reprodução: o Brycon petrosus e o Kryptolebias marmoratus. Ambos são peixes de água doce e vivem em rios neotropicais.

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No processo de reprodução do tetra-splash, os machos saltam e lançam esperma numa superfície – seja uma folha, um tronco de árvore, ou no caso dos que vivem como pets, até mesmo a tampa do aquário – a fêmea por sua vez salta em seguida lançando seus óvulos no mesmo lugar. 

Por ser pequeno e ter uma beleza particular, o tetra-splash é bastante utilizado como peixe ornamental. (Imagem: Reprodução/Rafael Farias)

Mas o trabalho não acaba aí. Os ovos do tetra-splash são extremamente sensíveis, recobertos por uma fina película que desidrata rapidamente em contato com o oxigênio. Para garantir a sobrevivência deles, o macho fica próximo à superfície espirrando água a cada um minuto durante três dias – que é o tempo que os ovos demoram para eclodir e lançar os alevinos na água.

A complexidade de reprodução do tetra-splash acabou por chamar a atenção do pesquisador Rafael Farias, que concluiu seu mestrado em zoologia na Universidade Federal do Pará (UFPA) estudando o peixe amazônico. Para sua pesquisa, foram coletados 117 tetra-splashs num rio na região leste da Amazônia.

Segundo ele, a maior vantagem deste método de reprodução é a proteção contra predadores. Na água, os ovos seriam presas fáceis para outros peixes, além do que teriam que disputar espaço com os ovos de outras espécies. 

Existem dois períodos principais de reprodução, dezembro e abril, ambos os meses são conhecidos por concentrarem altos índices de chuva na região amazônica. A escolha desses períodos não é feita por acaso. Os tetra-splash possuem receptores capazes de captar as mudanças na água do rio quando está chovendo. 

Sem precisar saltar para ver, os machos sabem que não é mais necessário umedecer os ovos a cada um minuto, pois a chuva fará o seu trabalho. O tempo livre é usado para descansar, procurar alimentos e se proteger de predadores.     

Preservação do tetra-splash

Outro aspecto importante do trabalho de Farias é que ele pode servir para balizar políticas de captura que determinem o tamanho ideal do peixe amazônico para pesca, preservando a espécie. Até o momento não existe nenhuma determinação sobre isso em vigor.

Devido às chuvas na região amazônica, abril e dezembro são os melhores meses para reprodução. (Imagem: Reprodução/Zikamoi)

Os dados da pesquisa indicam que os tetra-splash atingem a maturidade sexual quando alcançam 1,8 centímetros, ao crescerem mais um pouco, alcançando 2,1 centímetros, já são capazes de reproduzir.

“Esse dado pode ser usado para a elaboração de políticas ou planos de captura que garantam que apenas indivíduos sexualmente maduros sejam capturados para o comércio de peixes ornamentais, o que evitaria a captura de juvenis e a manutenção de um bom tamanho populacional”, explica Farias em comunicado.

Angelina Miranda
Colaboração para o Olhar Digital

Angelina Miranda é jornalista formada pela UNIP. Com dez anos de atuação, atuou como repórter na Folha de S. Paulo e também colaborou para a Revista Fórum. É redatora no Olhar Digital desde 2023.

Layse Ventura
Editor(a) SEO

Layse Ventura é jornalista (Uerj), mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento (Ufsc) e pós-graduada em BI (Conquer). Acumula quase 20 anos de experiência como repórter, copywriter e SEO.