Jazida de terras raras em MG gera mais de 100 pedidos de mineração

Descoberta de terras raras em Poços de Caldas gera mais de 100 pedidos para pesquisa mineral, entre empresas nacionais e estrangeiras
Ana Luiza Figueiredo10/08/2025 12h05
minas gerais
(Imagem: Paulo Figueiredo Junior / Shutterstock.com)
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A identificação de uma grande jazida de terras raras na cratera de um vulcão extinto em Poços de Caldas, no Sul de Minas Gerais, vem movimentando o setor de mineração no estado. Desde o anúncio do interesse de empresas australianas na exploração da região, a Agência Nacional de Mineração (ANM) recebeu mais de cem pedidos de autorização para pesquisa desses minerais na área, representando cerca de um terço das autorizações concedidas para todo o estado em 2023 e 2024.

As terras raras, um grupo de 17 minérios de extração complexa, são essenciais para as indústrias de tecnologia e energia, com sua importância geopolítica evidenciada na disputa comercial entre China e Estados Unidos. Recentemente, os EUA manifestaram interesse em firmar acordo com o Brasil para garantir o fornecimento desses minerais.

Pequenas pilhas de metais de terra rara no formato de areia e pedrinhas
Terras raras são essenciais nas indústrias de tecnologia e energia (Imagem: Joaquin Corbalan P / Shutterstock.com)

A importância da jazida em Poços de Caldas

A cratera do vulcão em Poços de Caldas tem cerca de 800 km², abarcando ainda áreas dos municípios de Andradas, Caldas (MG) e Águas da Prata (SP). O solo da região é rico em argila contendo íons de terras raras, posicionando esta jazida como um “unicórnio” da mineração. O termo é usado por especialistas devido à combinação do volume da reserva — capaz de suprir 20% da demanda mundial — e à relativa facilidade de extração, uma vez que os minerais estão localizados próximos à superfície.

Além dos pedidos de pesquisa na cratera, há movimentação para sondagens em municípios vizinhos, como Cabo Verde, Muzambinho, Botelhos, Campestre e Caconde. A hipótese levantada por geólogos é que a lava do vulcão extinto tenha espalhado minerais para essas áreas, ampliando a área potencial para exploração.

A hipótese é que lava de vulcão extinto tenha espalhado estes minerais (Imagem: Shutterstock AI)

Processo de pesquisa e especulação no setor

A autorização para pesquisa mineral é o primeiro passo para obter a concessão de lavra, etapa que permite a extração efetiva. Para obter essa autorização, o interessado precisa cumprir requisitos técnicos, pagar taxas e apresentar relatórios periódicos durante até três anos. Entretanto, apenas uma pequena parcela das autorizações concedidas evolui para a fase de mineração, pois muitos pedidos são abandonados ou protelados.

Uma parcela expressiva dos requerentes de pesquisa atua comercialmente, buscando valorizar e vender os direitos minerais obtidos, como mostra reportagem do g1. Empresas especializadas fazem pesquisas iniciais e negociam áreas com mineradoras que possuem estrutura para o investimento na extração.

Expansão da busca por terras raras em Minas Gerais

Um exemplo desse movimento é a empresa RCO Mineração, que detém autorização para pesquisa em mais de cem áreas em Minas Gerais, Goiás e Bahia.

Recentemente, a empresa descobriu um depósito de terras raras em Turvolândia (MG), a cerca de 40 km da cratera principal de Poços de Caldas. Apesar de pouco mais de 20% da área ter sido pesquisada até o momento, os resultados já atraem interesse de investidores estrangeiros.

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Empresas locais entram na corrida

No Sul de Minas, empresas mineiras também participam da corrida por terras raras. A Anova, companhia com origem na extração de ferro em Cabo Verde, requereu várias autorizações de pesquisa na região e planeja montar uma planta piloto para iniciar a exploração dos minerais, mesmo diante do interesse estrangeiro por suas áreas.

A repercussão da descoberta tem provocado uma intensa movimentação no setor, com muitos pedidos de pesquisa que podem não avançar para a extração. Este padrão já foi observado em ciclos anteriores da mineração de ouro, ferro e lítio, quando houve especulação por áreas que acabaram paradas.

Ana Luiza Figueiredo é repórter do Olhar Digital. Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), foi Roteirista na Blues Content, criando conteúdos para TV e internet.