O que é esperado de um dev sênior no mundo da IA?

Mudanças em ferramentas como o Cursor e avanços em IA reacendem o debate sobre o papel do desenvolvedor sênior na era da tecnologia.
Por Fabrício Carraro, editado por Bruno Capozzi 10/08/2025 07h00
Senior Dev IA.
Na era da IA, o verdadeiro valor do desenvolvedor sênior está na capacidade de pensar criticamente, liderar com responsabilidade e usar a tecnologia com consciência (Imagem: frank60/Shutterstock)
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Recentemente, o editor de código Cursor se envolveu em um grande entrave. A política de cobrança da ferramenta sofreu algumas alterações, gerando uma confusão sobre a capacidade supostamente “ilimitada” de um novo plano de uso.

A insatisfação entre muitos desenvolvedores levou a empresa a se pronunciar e colocar a situação no eixo. É claro que muitos vão olhar para esse caso pensando apenas na polêmica, mas, na verdade, há uma discussão por trás dele muito mais importante de realizarmos nesse momento: o papel do dev sênior na era da IA (inteligência artificial).

Colocar todas as fichas nessas ferramentas, de forma que sejam o “coração” do processo de desenvolvimento, é um risco enorme. Essas tecnologias são inovadoras, mas possuem limitações que precisam ser compreendidas para que o desenvolvedor extraia todo o seu valor sem comprometer a programação.

A chegada de assistentes de código como o Copilot e modelos como o ChatGPT, o Claude e o Gemini, de fato, mudaram o jogo. A automatização de tarefas repetitivas é um avanço sem igual, que já vem mudando diversos mercados. No entanto, isso também aumenta a responsabilidade sobre as entregas. É preciso filtrar, questionar, refinar e validar o que as IAs propõem.

Ou seja, o dev sênior deixou de ser um executor para virar um curador estratégico. Ser técnico não basta, o novo cenário exige uma visão crítica sobre ferramentas e modelos de IA. Automatizar sem critério definitivamente é um equívoco completo.

Caso do Llama 4

Outro caso recente que ajuda a esclarecer o debate é o do Llama 4, o novo modelo de IA da Meta. O próprio Mark Zuckerberg ficou incomodado com os resultados da tecnologia durante os primeiros testes, o que fez o dono da empresa mobilizar uma força-tarefa de ponta e mudar o direcionamento completo da empresa nesse tema.

Ele criou um novo laboratório de superinteligência e pessoalmente começou a recrutar, com ofertas salariais astronômicas, os melhores engenheiros de IA de concorrentes como Apple, OpenAI e Google.

IA LLama 4 da Meta.
Llama 4 expôs limites — e acelerou a corrida pela superinteligência (Imagem: Robert Way)

É claro que estamos falando de uma big tech e esse não é exatamente o padrão do mercado. Por outro lado, essa situação é o exemplo perfeito do que o mesmo valoriza atualmente: bons profissionais.

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No fim das contas, a chegada de novas tecnologias e o aprimoramento da IA não muda o fato de que pessoas reais e especializadas em um assunto são indispensáveis em qualquer projeto. Elas possuem habilidades únicas e profundas, que garantem a qualquer inovação dar um próximo passo.

Profissionais com visão ampla, domínio técnico e capacidade de liderar times, modelos e estratégias conseguem viabilizar o uso de IA para além do básico. São essas pessoas que podem evitar problemas técnicos, auxiliando uma das maiores empresas do mundo a terem uma posição ainda mais relevante no futuro digital.

Comunicação, liderança técnica e ética

Olhando para esses casos recentes, é certo dizer que o bom dev sênior não é quem automatiza tudo, mas sim quem sabe onde a IA ajuda e onde ela atrapalha. Saber quando não usar a tecnologia também é uma habilidade, afinal, nem toda tarefa deve ser entregue a um modelo generativo.

Senior IA desenvolvedor.
Quando a tecnologia falha, é a visão do empreendedor que redefine o caminho e impulsiona a inovação. (Imagem: DC Studio/Shutterstock)

Entender como identificar limitações, vieses, riscos de segurança e gargalos de performance virou parte da senioridade, principalmente pensando que as IAs estão cada vez mais complexas. O desenvolvedor precisa comunicar decisões técnicas com clareza, liderar discussões e tomar decisões conscientes sobre um uso responsável.

Ética, privacidade e transparência também entram nessa pauta. Mais do que velocidade, a verdadeira inovação está na consciência dos profissionais humanos, que pode diferenciar uma simples produção de uma construção que seja realmente sustentável, segura e disruptiva.

O dev sênior nunca será só mais uma peça no código. Esse quebra-cabeças depende diretamente das suas ações, que podem potencializar qualquer tecnologia de forma única.

Fabrício Carraro
Colunista

Program Manager na Alura, maior ecossistema de educação em tecnologia do Brasil

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.