Fósseis escondidos em caverna na Noruega desvendam vida no Ártico há 75 mil anos

Essa é a evidência mais antiga já encontrada da vida animal no Ártico Europeu durante um período de aquecimento climático
Lucas Soares11/08/2025 17h07
Urso polar (Ursus maritimus) em pé sobre o fluxo de gelo de Svalbard, Noruega ártica.
O urso polar desafia o gelo de seu habitat para capturar suas presas e manter sua dieta (Imagem: Agami Photo Agency / Shutterstock)
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Uma caverna escondida nas montanhas da Noruega guardou, por 75.000 anos, os segredos de um ecossistema diversificado da Era Glacial. A Caverna Arne Qvam, descoberta acidentalmente na década de 1990 durante obras de mineração, só teve seus tesouros paleontológicos completamente revelados em escavações recentes, realizadas entre 2021 e 2022. Os achados incluem desde pequenos roedores até gigantes marinhos.

O estudo, publicado na PNAS por uma equipe internacional liderada pelo zooarqueólogo Sam Walker, da Universidade de Bournemouth, descreve uma impressionante variedade de espécies.

Entre os ossos identificados estão lemingues-de-colarinho (Dicrostonyx torquatus), ratazanas (Alexandromys oeconomus), renas, lebres, mais de 20 espécies de aves, peixes de água doce e salgada, além de grandes mamíferos marinhos como baleias-da-groenlândia, morsas e até um urso polar.

Imagem: vladivlad – Shutterstock

Essa é a evidência mais antiga já encontrada da vida animal no Ártico Europeu durante um período de aquecimento climático.

“Temos pouquíssimos registros da biodiversidade ártica com mais de 10.000 anos”, explica Sanne Boessenkool, bióloga evolucionista da Universidade de Oslo e coautora do estudo, na pesquisa.

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Esta descoberta preenche uma lacuna crucial em nossa compreensão de como os ecossistemas responderam a mudanças climáticas drásticas no passado

Sanne Boessenkool

O que a análise dos fósseis na caverna congelada revelou?

A análise dos fósseis sugere que, há 75.000 anos, a região era uma tundra repleta de lagos e rios, sustentando peixes de água doce, enquanto o oceano próximo abrigava baleias e morsas – indicando a presença de gelo marinho sazonal. A coexistência de botos, que evitam águas congeladas, reforça a ideia de um clima relativamente ameno.

caverna era glacial
Localização da caverna (Imagem: PNAS)

No entanto, quando as temperaturas caíram novamente, esse ecossistema entrou em colapso. O estudo sugere muitas espécies não conseguiram migrar ou se adaptar ao frio intenso e à seca. O DNA mitocondrial extraído dos ossos confirmou que nenhuma das linhagens antigas sobreviveu ao recongelamento.

Os pesquisadores destacam paralelos preocupantes com o aquecimento global atual. “Espécies adaptadas ao frio já enfrentaram dificuldades em se ajustar a mudanças climáticas no passado. Agora, com o Ártico esquentando ainda mais rápido e habitats fragmentados, o desafio é ainda maior”, alerta Boessenkool.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.