Fóssil revela formiga rara — e ela é menor que um grão de arroz

Fóssil em âmbar de 16 milhões de anos revela a menor formiga predadora já registrada e reescreve parte da história evolutiva do gênero
Ana Luiza Figueiredo11/08/2025 17h33, atualizada em 11/08/2025 19h07
fóssil formiga
(Imagem: Gianpiero Fiorentino / NJIT)
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Um fóssil preservado em âmbar de 16 milhões de anos trouxe à luz a menor formiga predadora já registrada. A espécie extinta, batizada de Basiceros enana, foi descoberta em âmbar da República Dominicana e representa o primeiro registro de formigas do gênero Basiceros no Caribe.

O achado, liderado por biólogos do New Jersey Institute of Technology (NJIT) e publicado na Proceedings of the Royal Society B, oferece pistas inéditas sobre a distribuição geográfica e a evolução desse grupo. A espécie, menor que suas parentes modernas, habitou a região antes de desaparecer localmente durante o Mioceno (entre 23 e 5,3 milhões de anos atrás).

Um achado raro e revelador

Conhecidas como “formigas-de-terra” (em tradução livre) por sua habilidade de camuflagem, as Basiceros utilizam pelos especializados para reter partículas de solo e folhas, tornando-se quase invisíveis no ambiente. O fóssil encontrado preserva essas mesmas adaptações, indicando que a estratégia de cripse já era usada há milhões de anos.

“Encontrar uma formiga do [gênero Basiceros] na natureza já é raro. Em âmbar, é como achar um diamante”, disse Gianpiero Fiorentino, autor correspondente e doutorando no Barden Lab do NJIT. Ele afirma que o exemplar encontrado é “singularmente distinto” de todas as espécies modernas, reescrevendo parte da história evolutiva do grupo.

Tecnologia para desvendar detalhes

  • Para examinar a Basiceros enana, a equipe utilizou técnicas avançadas de imagem e reconstrução 3D no NJIT e no Instituto de Ciência e Tecnologia de Okinawa, no Japão.
  • O uso de varredura por microtomografia computadorizada permitiu visualizar características invisíveis a olho nu e comparar o exemplar com todas as espécies vivas conhecidas do gênero.
  • Medindo apenas 5,13 milímetros, a espécie é significativamente menor que as atuais, que podem chegar a quase 9 milímetros. A medida corresponde a um tamanho inferior a um grão de arroz.
  • Segundo Fiorentino, os resultados mostram que essas formigas aumentaram de tamanho rapidamente ao longo de 20 milhões de anos, contrariando hipóteses anteriores que sugeriam o oposto.
Representação artística de Basiceros enana preservada em âmbar da República Dominicana, criada a partir de dados de varredura por microtomografia computadorizada. Pelos especializados usados para reter partículas de terra podem ser vistos destacados em amarelo, cobrindo as pernas e a cabeça da formiga. (Imagem: Gianpiero Fiorentino / NJIT)

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Características e desaparecimento

Além da camuflagem, o fóssil apresenta traços comuns às formigas atuais do gênero, como espinha propodeal voltada para cima, cabeça em formato trapezoidal e mandíbulas com 12 dentes triangulares, adaptadas para a predação.

Apesar dessas adaptações, o grupo desapareceu do Caribe durante mudanças ambientais significativas no Mioceno. Phil Barden, autor sênior do estudo, sugere que antigas pontes de terra podem ter permitido a chegada das formigas à região, mas fatores como perda de nichos e competição entre espécies podem ter levado à extinção local.

Mais de um terço dos gêneros de formigas já se extinguiram na ilha que hoje corresponde à República Dominicana. Para Fiorentino, compreender padrões passados de extinção é essencial para enfrentar as perdas de biodiversidade provocadas atualmente pela ação humana.

Ana Luiza Figueiredo é repórter do Olhar Digital. Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), foi Roteirista na Blues Content, criando conteúdos para TV e internet.