Algoritmo revela desgaste invisível que pode mudar a vida útil de baterias de lítio

Cientistas criam método barato para detectar desgaste e prever falhas em baterias de lítio, aumentando sua segurança e vida útil
Por Valdir Antonelli, editado por Layse Ventura 12/08/2025 07h30, atualizada em 01/09/2025 19h36
eletrico-1-1920x1080
Imagem: Kath_3dstudio/Shutterstock
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Com milhões de baterias de lítio para carros elétricos em circulação, em teste ou já descartadas, pesquisadores estão buscando novas formas de estudá-las para prever falhas e aumentar sua durabilidade.

Um método simples, no entanto, está chamando a atenção. Uma equipe da Universidade da Califórnia, em San Diego, desenvolveu um método simples para monitorar o desempenho de baterias de lítio: a microscopia eletrônica de varredura.

Mas, antes de entrarmos no que diz o estudo, cabe uma explicação rápida do que é a microscopia eletrônica de varredura:

Estação de carregamento para carros elétricos via Ernest Ojeh/Unsplash
Algoritmo utiliza imagens de alta resolução para analisar o funcionamento de baterias de íon de lítio e aumentar sua segurança. Crédito: Ernest Ojeh/Unsplash

Ela utiliza um equipamento, o microscópio eletrônico de varredura (MEV) para gerar imagens de alta resolução da superfície das amostras. O método utiliza a interação de um feixe de elétrons com o material analisado para gerar informações referentes à morfologia e topografia para identificar e mapear elementos químicos presentes em um material.

Baterias de lítio metálico podem armazenar o dobro de energia

Atualmente, as baterias utilizadas em veículos elétricos são as de íons de lítio. No entanto, se as empresas conseguissem superar o desafio de controlar como o lítio se deposita nos eletrodos durante a carga e a descarga, seria possível produzir baterias de lítio metálico, com o dobro da capacidade de armazenamento.

Basicamente, quando o lítio se deposita de forma uniforme, as baterias alcançam ciclos de vida mais longos. Mas se o lítio se depositar de forma irregular, estruturas em forma de agulha (dendritos) podem perfurar o separador da bateria, causando falhas e curtos-circuitos.

Até então, a forma utilizada para determinar a uniformidade desses depósitos de lítio era por meio de imagens de microscópio, o que pode levar a análises inconsistentes e dificuldade na comparação entre resultados entre estudos, explica artigo na TechXplore.

O que um grupo de baterias define como uniforme pode ser diferente da definição de outro grupo. A literatura sobre baterias também utiliza muitos termos qualitativos diferentes para descrever a morfologia do lítio. Percebemos a necessidade de criar uma linguagem comum para definir e medir a uniformidade do lítio.

Jenny Nicolas, doutoranda em ciência dos materiais e engenharia na UC San Diego.

Algoritmo torna a medição mais confiável

Para contornar o problema, a equipe de Jenny, liderada pelo professor Ping Liu, do Departamento de Engenharia Química e Nanotecnologia da UC San Diego, desenvolveu um algoritmo que analisa a distribuição uniforme do lítio em imagens geradas por microscopia eletrônica de varredura (MEV):

Pixels brancos representam os depósitos de lítio mais superficiais e os pretos representam substrato ou lítio inativo na amostra.
Pixels brancos representam os depósitos de lítio mais superficiais e os pretos representam substrato ou lítio inativo na amostra. Crédito: Proceedings of the National Academy of Sciences (2025)
  • Com a máquina, eles tiveram acesso a imagens detalhadas dos eletrodos da bateria, permitindo análises em superfícies 3D e também em tons de cinza em 2D – técnicas utilizadas para pesquisa em baterias.
  • As equipes obtêm imagens de MEV dos eletrodos de bateria e as converte em pixels pretos e brancos.
  • Pixels brancos representam os depósitos de lítio mais superficiais e os pretos representam substrato ou lítio inativo na amostra.
  • As imagens, então, são divididas em várias regiões, e o algoritmo calcula o número de pixels brancos em cada uma dessas regiões e, na sequência, calcula uma métrica chamada índice de dispersão (ID).

O índice de dispersão é uma medida da uniformidade do lítio. Quanto mais próximo de zero, mais uniformes são os depósitos. Um valor mais alto, significa menos uniformidade e maior aglomeração de partículas de lítio em determinadas áreas.

Jenny Nicolas, doutoranda em ciência dos materiais e engenharia na UC San Diego.

Resultados foram animadores

Foram analisadas 2.048 imagens para garantir que as medições estivessem alinhadas com padrões confiáveis e para confirmar a precisão do método. Depois disso, a técnica foi aplicada a imagens reais de eletrodos, permitindo observar como a forma do lítio mudava ao longo da vida útil da bateria e em diferentes condições.

Garantir o bom funcionamento das baterias de lítio é fundamental para a segurança de motoristas e passageiros. Crédito: SweetBunFactory/iStock

Leia mais:

Os resultados mostraram que o índice de dispersão (ID) aumentava conforme a bateria passava por mais ciclos de carga e descarga, sinalizando depósitos irregulares de lítio. Além disso, picos e quedas no ID apareciam pouco antes de falhas nas células, funcionando como um alerta precoce contra curtos-circuitos.

De acordo com os pesquisadores, outro ponto positivo do método é seu custo reduzido.

Nossa ferramenta pode ser empregada como uma ferramenta acessível para que pesquisadores levem suas análises ao próximo nível, utilizando a análise de imagens em seu potencial máximo.

Jenny Nicolas, doutoranda em ciência dos materiais e engenharia na UC San Diego.
Valdir Antonelli
Colaboração para o Olhar Digital

Valdir Antonelli é jornalista com especialização em marketing digital e consumo.

Layse Ventura
Editor(a) SEO

Layse Ventura é jornalista (Uerj), mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento (Ufsc) e pós-graduada em BI (Conquer). Acumula quase 20 anos de experiência como repórter, copywriter e SEO.