Discos movidos à luz na atmosfera? Tecnologia pode revolucionar pesquisas

Equipe de Harvard desenvolveu discos movidos à luz solar para explorar uma camada pouco conhecida da atmosfera terrestre
Por Samuel Amaral, editado por Lucas Soares 17/08/2025 06h00, atualizada em 19/08/2025 21h20
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Pesquisadores de Harvard construíram pequenos dispositivos em forma de disco que voam com a luz solar. A equipe pretende usar esses aparatos para explorar a mesosfera, uma camada atmosférica a 60 km do solo, que é alta demais para estudos com aviões e baixa para a captura de dados com satélites.

Publicado nesta semana na revista científica Nature, um artigo descreve o experimento com os minúsculos discos como uma prova de conceito, a etapa do desenvolvimento tecnológico em que se avalia a viabilidade técnica e econômica de um aparato em ambiente controlado.

Os dispositivos são compostos de alumínio cerâmico com base de cromo e flutuam por fotoforese: o fenômeno do movimento impulsionado pela luz. Quando a luz solar atinge um desses objetos, as diferenças de calor e pressão ao redor dele criam um fluxo de ar que o mantém levitando sem a necessidade de combustível.

“Esse fenômeno costuma ser tão fraco em relação ao tamanho e ao peso do objeto sobre o qual atua que normalmente não o notamos. Mas, conseguimos tornar nossas estruturas tão leves que a força fotoforética é maior que seu peso, permitindo que elas voem”, explicou Ben Schafer, autor principal do artigo e ex-aluno de Harvard, em um comunicado.

Pequenas amostras quadriculares voaram pela ação da luz durante os experimentos.
Pequenas amostras quadriculares voaram pela ação da luz durante os experimentos. (Imagem: Schafer et al. 2025)

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Em laboratório, o grupo construiu amostras em forma de quadrado, brilhantes e com furos minúsculos, cerca da metade do tamanho de uma moeda de centavo de dólar. Esses objetos foram testados em uma câmara de baixa pressão para simular as condições atmosféricas e de luz solar na mesosfera. Os testes deram certo e as peças se mantiveram flutuando no ar.

Agora, o grupo planeja aprimorar o conceito e disponibilizá-lo para uso comercial. Os pesquisadores pretendem aperfeiçoar o projeto para que os discos possam transportar tecnologia de comunicação e coleta de dados.

Discos movidos à luz solar terão diversas aplicações.
Discos movidos à luz solar terão diversas aplicações, desde estudos climáticos até telecomunicação. (Imagem: Schafer et al. 2025)

“Desenvolvemos um processo de nanofabricação que pode ser dimensionado para dezenas de centímetros. Esses dispositivos são bastante resilientes e apresentam um comportamento mecânico incomum para estruturas tipo sanduíche. Atualmente, estamos trabalhando em métodos para incorporar cargas úteis funcionais aos aparatos”, comentou o professor Joost Vlassak, membro da pesquisa e docente de engenharia dos materiais em Harvard.

Segundo os autores, conjuntos de discos fotoforéticos poderão coletar dados sobre temperatura, pressão, composição química e dinâmica dos ventos da mesosfera. O grupo acredita que sua tecnologia pode ser aplicada também em futuras missões em planetas com atmosferas, como Marte, desde que haja luz solar para manter os dispositivos voando.

Samuel Amaral
Redator(a)

Samuel Amaral é jornalista em formação pela Universidade de São Paulo (USP) e estagiário de Ciência e Espaço no Olhar Digital.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.