O curioso caso do planeta vizinho que está encolhendo

Pesquisadores da Universidade da Geórgia criaram um método mais preciso de cálculo das mudanças que vêm ocorrendo por 4,5 bilhões de anos
Por Bruna Barone, editado por Bruno Capozzi 18/08/2025 07h50, atualizada em 18/08/2025 11h48
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Nova abordagem incluiu três conjuntos de dados diferentes sobre falhas na superfície (Imagem: FlashMyPixel/iStock)
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O planeta Mercúrio está encolhendo. É um fato conhecido pela ciência há alguns anos. No entanto, os estudos divergem sobre o tamanho desse encolhimento — até agora. Pesquisadores da Universidade da Geórgia acabam de publicar um artigo sugerindo um método mais preciso de cálculo.

Até então, os estudos utilizavam a topografia elevada sobre falhas para medir as mudanças que vêm ocorrendo por 4,5 bilhões de anos à medida que o planeta perde calor. Seria como medir as rachaduras que se formam em um pão de queijo conforme é aquecido no forno.

O problema é que as pesquisas não chegaram a um consenso sobre o número de formas de relevo usadas para calcular a contração global, explicam os autores Stephan Loveless e Christian Klimczak. A estimativa para a mudança de raio variava de 1 a 7 quilômetros.

Mercúrio é o planeta mais próximo do Sol (Imagem: NASA/Divulgação)

“Aqui, utilizamos uma abordagem alternativa para calcular a mudança no volume causada por uma população de falhas, escalonando estatisticamente a mudança da maior falha para toda a população de falhas”, diz o artigo.

Mercúrio, o menor planeta do sistema solar e o mais próximo do Sol, é marcado por calor, radiação e vento solar; suas temperaturas extremas variam de 430 °C no lado ensolarado a -180 °C no lado noturno. É um pouco maior e semelhante à nossa Lua — sem ar, rochoso e salpicado de crateras de impacto, grandes e pequenas.

A descoberta…

A nova abordagem incluiu três conjuntos de dados diferentes: um considerava 5.934 falhas, outro, 653 falhas e o último apenas 100 falhas. E o resultado mostrou que a retração fica entre 2 e 3,5 quilômetros, independentemente do conjunto de dados utilizado.

Em um segundo passo, a dupla combinou estimativas anteriores do encolhimento com dados de outros processos que contribuem para o resfriamento do planeta. Assim, chegaram à conclusão de que Mercúrio encolheu entre 2,7 e 5,6 quilômetros desde a sua formação.

Os pesquisadores afirmam ainda que a metodologia pode “estimar a deformação tectônica em quaisquer corpos planetários onde populações de falhas podem ser observadas”, favorecendo pesquisas para além de Mercúrio.

Uma vista de cavidades em Mercúrio, na cratera que leva o nome do autor Edgar Allan Poe (Imagem: NASA/Divulgação)

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Revisitando a história

As primeiras imagens em alta resolução da superfície de Mercúrio chegaram aos humanos graças à sonda MESSENGER (abreviação de MErcury Surface, Space ENvironment, GEochemistry and Ranging), da NASA. A nave foi lançada em agosto de 2004 a bordo do foguete Boeing Delta II, que decolou da Estação da Força Aérea de Cabo Canaveral, na Flórida.

Impressão artística da MESSENGER em Mercúrio (Imagem: NASA/Divulgação)

A missão durou quatro anos e cumpriu seus objetivos: coletou informações detalhadas sobre a composição e a estrutura da crosta, a história geológica do planeta, a natureza da atmosfera e a composição de seu núcleo e materiais polares.

“Antes da MESSENGER, entender Mercúrio e como ele se formou era um dos maiores enigmas não resolvidos da ciência espacial. Esta missão não só nos deu a primeira visão abrangente do planeta mais interno, como os dados que ela enviou continuam a revolucionar nossa compreensão de Mercúrio e do sistema solar interno”, disse Ralph McNutt, que atuou como cientista do projeto.

Bruna Barone
Colaboração para o Olhar Digital

Bruna Barone é formada em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero. Atuou como editora, repórter e apresentadora na Rádio BandNews FM por 10 anos. Atualmente, é colaboradora no Olhar Digital.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.