A ilha na Nova Zelândia que ‘transformou’ aves nativas

Análises de DNA antigo e formato de ossos ajudam a escrever história de aves das Ilhas Rēkohu Chatham antes da colonização humana
Por Bruna Barone, editado por Bruno Capozzi 19/08/2025 05h10
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Linhagem recém-descoberta chegou à região há 390.000 anos (Imagem: Reprodução)
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Pesquisadores da Universidade de Otago descreveram em um artigo uma nova espécie (já extinta) de pato-ferrugem, habitantes das Ilhas Rēkohu Chatham, um arquipélago a 785 quilômetros a leste da Nova Zelândia.

Trata-se de uma linhagem de aves que chegou à região há 390.000 anos — sim, pode parecer um curto período de tempo, mas foi o suficiente para as qualidades físicas do animal passarem por significativas transformações influenciadas pelo ambiente. 

“Naquela época, o pato-ferrugem de Rēkohu desenvolveu asas mais curtas e robustas e ossos das pernas mais longos, indicando que estava trilhando o caminho para a incapacidade de voar”, explica Nic Rawlence, coautor principal do artigo.

Esquema da reprodução e distribuição anual do pato-ferrugem-de-Tadorna (Imagem: Reprodução)

Uma vida de adaptações

Abundância de alimentos, falta de predadores terrestres e condições de vento foram os principais fatores para as mudanças que tornaram dispensável o voo dos pássaros. Foi um caso típico de “use ou perca as asas”.

“Voar é energeticamente caro, então se você não precisa voar, por que se preocupar?”, questiona a coautora principal, Dra. Pascale Lubbe. “Os ossos das pernas mais longos são mais robustos para suportar mais músculos e criar maior força para a decolagem – necessário quando você tem asas menores.”

Com base em análises de DNA antigo e do formato dos ossos, os pesquisadores observaram que o pato-real de Rēkohu é o mais próximo do pato-real do paraíso de Pūtangitangi, que vive no continente.

A caça excessiva levou à extinção do pato-real de Rēkohu antes do século XIX. Segundo o estudo, ele passou mais tempo no chão do que seu primo, comprovando como as aves podem se adaptar rapidamente à dinâmica de ilhas isoladas.

Vista comparativa dos elementos esqueléticos de T. rekohu e T. variegata (Imagem: Reprodução)

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Conectando gerações

Publicado no periódico Zoological Journal of the Linnean Society, o artigo ajuda a escrever mais um capítulo de espécies de aves aquáticas que habitavam a ilha antes da colonização humana.

O nome científico “Tadorna rekohu” e o nome comum “Rēkohu shelduck” do pato-ferrugem foram dados aos pesquisadores pelo Hokotehi Moriori Trust, organização que representa o povo Maori, considerado “guardião” da fauna e flora de Rēkohu Chatham.

34 espécies e subespécies que vivem na região não foram encontradas em nenhum outro lugar (Imagem: deLoon/Shutterstock)

“A descoberta é ótima para Rēkohu como um todo e ajuda a conectar imi (tribo) Moriori com miheke (tesouro) do passado”, disse o CEO da entidade, Levi Lanauze.

Cerca de 34 espécies e subespécies que vivem na região não foram encontradas em nenhum outro lugar da Terra, incluindo o pombo-parea da Ilha Chatham, espécie ameaçada de extinção, e o extinto saracura-de-hawkin.

Bruna Barone
Colaboração para o Olhar Digital

Bruna Barone é formada em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero. Atuou como editora, repórter e apresentadora na Rádio BandNews FM por 10 anos. Atualmente, é colaboradora no Olhar Digital.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.