Como uma mosca está impulsionando a pesquisa biomédica brasileira

A Drosophila melanogaster é uma espécie popularmente conhecida como mosca-das-frutas e pode ajudar a decifrar várias doenças complexas
Por Alessandro Di Lorenzo, editado por Bruno Capozzi 20/08/2025 15h39
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Imagem: nechaevkon/Shutterstock
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A Drosophila melanogaster é uma espécie de mosca popularmente conhecida como drosófila ou mosca-das-frutas. O animal é estudado há mais de 100 anos, sendo responsável por avanços revolucionários e seis prêmios Nobel.

No Brasil, não é diferente. Em artigo publicado no portal The Conversation, os professores Marcus F. Oliveira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Marcos T. Oliveira, da Universidade de São Paulo (USP), explicam a importância da mosca para a pesquisa biomédica brasileira.

Inseto fornece a possibilidade de fazer biologia de ponta no Brasil (Imagem: PeopleImages.com – Yuri A/Shutterstock)

Mosca serve de modelo para estudar diversas doenças

  • Os pesquisadores explicam que cerca de 75% dos genes conhecidos por causarem doenças em humanos possuem um gene correspondente no inseto.
  • Isso significa que processos biológicos fundamentais, como desenvolvimento, proliferação celular, envelhecimento e comunicação neural, são controlados por mecanismos genéticos e moleculares semelhantes.
  • Dessa forma, as moscas tornaram-se modelos inestimáveis para desvendar patologias complexas como Alzheimer, Parkinson, diversos tipos de câncer, diabetes, distúrbios cardíacos, e até infecções pelos vírus da Zika e SARS-CoV-2.
  • A partir da drosófila, os cientistas podem realizar triagens genéticas, toxicológicas e farmacológicas, além de manipular o desenvolvimento e o metabolismo in vivo e de acompanhar efeitos multigeracionais.
  • Em outras palavras, este animal de poucos milímetros fornece a possibilidade de fazer biologia de ponta, em um organismo completo, no Brasil.

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Em fundo azul, quebra-cabeças formando um cérebro humano, com uma peça desencaixada
Estas moscas são consideradas modelos inestimáveis para desvendar doença complexas como Alzheimer (Imagem: mapush/Shutterstock)

Pesquisas mais baratas e com alto potencial

Estima-se que o custo da realização de experimentos utilizando essas moscas seja de apenas 10% do valor necessário para realizar os mesmos experimentos com camundongos ou ratos. Tudo isso com o mesmo potencial para descobertas de alto impacto.

A pesquisa com drosófila é quase 3 vezes mais barata que a manutenção de culturas de células de mamíferos. Se considerarmos apenas os consumíveis não duráveis, os custos anuais com moscas são quase 7 vezes menores. Esses números provam que a mosca não é apenas uma alternativa aos roedores, mas uma plataforma economicamente superior até mesmo a modelos in vitro amplamente utilizados. É muito comum associar baixo custo a baixo impacto ou a qualidade inferior, mas no caso da drosófila, o custo reduzido é uma vantagem e não um defeito.

Artigo publicado no The Conversation
Drosophila melanogaster é uma espécie estudada por cientistas há décadas (Imagem: Edy_kurniawan91/Shutterstock)

Apesar de todos estes potenciais citados, o Brasil ainda utiliza pouco os estudos com a mosca. Segundo os autores do artigo, essa escolha, no atual cenário de austeridade, representa um desperdício de recursos escassos, um freio à inovação e uma perda de competitividade.

Portanto, um passo decisivo para reverter este quadro repousa sobre as agências de fomento brasileiras, como o CNPq, a CAPES e as Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs) estaduais. É imperativo que estas instituições assumam um papel protagonista na promoção estratégica da Drosophila. A criação de editais específicos não seria apenas um incentivo, mas uma declaração de política científica. Tais chamadas iriam otimizar o uso de recursos públicos, apoiar uma nova geração de cientistas e acelerar a pesquisa nacional.

Artigo publicado no The Conversation
Alessandro Di Lorenzo
Colaboração para o Olhar Digital

Alessandro Di Lorenzo é formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e atua na área desde 2014. Trabalhou nas redações da BandNews FM em Porto Alegre e em São Paulo.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.