Por ano, 48 mil pessoas morrem por infecções resistentes no Brasil (Imagem: Maria Sonia Salvador Verdugo/iStock)
Uma pesquisa mostrou que médicos de 87,7% dos hospitais brasileiros prescrevem as dosagens de antibióticos por tentativa e erro, acendendo o alerta sobre o uso excessivo ou ineficaz desse tipo de medicamento. O estudo foi divulgado pela Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) como parte da campanha “Será que precisa? Evitando a resistência antimicrobiana por antibióticos e antifúngicos”.
Outro problema identificado foi a falta de ajuste correto da dosagem de antibióticos, uma falha constatada em um a cada cinco hospitais. Isso aumenta o risco do surgimento de microorganismos resistentes às medicações. No total, o Instituto Qualisa de Gestão (IQG) ouviu profissionais de saúde de 104 unidades públicas e privadas em todo o país.
“Todos os indicadores reforçam a urgência de políticas públicas robustas. Precisamos, urgentemente, combater o uso indiscriminado de antibióticos”, afirmou a presidente do IQG, Mara Machado.
“Por isso, o controle dessa cadeia, da prescrição até o descarte dos antibióticos, é importante para diminuir a resistência a esses medicamentos”, disse Machado. “A pesquisa revelou, no entanto, que todos os hospitais avaliados, por exemplo, não possuem nem protocolo de descarte, nem análise de efluentes hospitalares, tornando essa situação também um problema ambiental.”
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No ano passado, uma pesquisa da SBI mostrou outro lado do problema: 24,5% dos brasileiros usam antibiótico por conta própria, uma ou mais vezes por ano. A dor de garganta é o principal motivo, com 62,4% das citações, seguido por resfriado e gripe, sinusite, ardência ao urinar, tosse, dor muscular e dor de cabeça.
Os dados também indicam que mais da metade da população (55,5%) desconhece o fato de que há possibilidade do desenvolvimento de resistência bacteriana aos antibióticos e apenas 30,9% sabem que o medicamento em questão combate somente as bactérias. As farmácias de bairro, com estrutura menor, e as que não fazem parte das grandes redes, foram os principais locais citados para driblar a prescrição médica.
“A pesquisa traz um panorama de vida real de desinformação e um viés de comportamento que colocam os antibióticos como uma questão sensível. E isso pode ser atribuído a vários motivos, como conceito equivocado de que o antibiótico resolve tudo”, explica Ana Gales, infectologista e coordenadora do comitê de resistência antimicrobiana da SBI.
Esta post foi modificado pela última vez em 1 de setembro de 2025 19:50