Há algo de errado na Antártida – e o mundo inteiro pode sentir

Gelo marinho, camadas de gelo e correntes oceânicas passam por transformações abruptas, alertam cientistas
Por Leandro Costa Criscuolo, editado por Bruno Capozzi 22/08/2025 19h25
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Imagem: Mozgova/Shutterstock
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A Antártida, antes vista como um continente remoto e praticamente imutável, está passando por transformações abruptas e alarmantes que podem afetar o mundo inteiro.

“O gelo marinho está encolhendo rapidamente, as plataformas de gelo estão derretendo mais rápido, e as correntes oceânicas vitais mostram sinais de desaceleração”, alerta Nerilie Abram, cientista-chefe na Divisão Antártica Australiana e professora de ciência climática na Universidade Nacional Australiana.

Essas mudanças já estão em andamento e, segundo Abram, provavelmente se intensificarão nas próximas décadas.

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Transformações aceleradas podem elevar o nível do mar e afetar ecossistemas marinhos e terrestres (Imagem: Mozgova/Shutterstock)

Mudanças abruptas e efeitos em cascata

Mudanças abruptas, explica a cientista, são alterações climáticas ou ambientais que acontecem muito mais rápido do que o esperado e podem se amplificar. Por exemplo, o derretimento do gelo marinho permite que os oceanos absorvam mais calor, acelerando ainda mais o degelo.

“Uma vez desencadeadas, essas mudanças podem ser difíceis ou mesmo impossíveis de reverter em escalas de tempo significativas para os humanos”, alerta Abram.

O gelo marinho ao redor do continente tem diminuído drasticamente desde 2014, atualmente a uma taxa superior à do Ártico.

Essa redução desencadeia efeitos em cascata: menos gelo significa menor reflexão do calor solar, aumentando o aquecimento dos oceanos, e coloca em risco espécies que dependem do gelo, como pinguins-imperadores, além de deixar as plataformas de gelo mais vulneráveis às ondas.

As correntes oceânicas profundas, essenciais para a regulação climática global, também estão desacelerando.

A Circulação de Revolvimento Antártico ajuda a distribuir calor e absorver dióxido de carbono, mas sua lentidão pode reduzir oxigênio e nutrientes nos oceanos, impactando ecossistemas marinhos e o clima mundial.

Grandes icebergs e montanhas na Antártica. Neve e gelo. Paisagem antártica. Geleiras.
Continente gelado mostra sinais de instabilidade sem precedentes (Imagem: Oleksandr Matsibura/Shutterstock)

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Camadas de gelo e ecossistemas ameaçados

  • As camadas de gelo da Antártida Ocidental e de algumas regiões da Antártida Oriental estão perdendo gelo a uma velocidade seis vezes maior que na década de 1990.
  • Só a camada ocidental possui gelo suficiente para elevar o nível global do mar em mais de cinco metros.
  • Abram observa que estamos nos aproximando de pontos de inflexão que podem desencadear colapsos de longo prazo, com riscos diretos para cerca de 750 milhões de pessoas que vivem em áreas costeiras baixas.
  • Os ecossistemas terrestres e marinhos também estão sendo remodelados pelo aumento das temperaturas, instabilidade do gelo e impactos humanos, como poluição e espécies invasoras.
  • “A proteção desses ecossistemas exige não apenas tratados e áreas protegidas, mas ação global decisiva para reduzir as emissões de gases de efeito estufa”, afirma Abram.

Mesmo que as emissões sejam rapidamente reduzidas, muitas mudanças já estão em curso. A Antártida não é mais um continente isolado; suas transformações impactarão o clima, os oceanos e as comunidades costeiras em todo o mundo.

“Os riscos não poderiam ser maiores. As escolhas feitas agora determinarão se enfrentaremos mudanças irreversíveis ou um futuro de resiliência controlada”, conclui Nerilie Abram.

Antártida em alerta: gelo derrete e oceanos sofrem impacto (Imagem: murathakanart/Shutterstock)

A matéria original sobre o tema foi publicada no The Conversation.

Leandro Costa Criscuolo
Colaboração para o Olhar Digital

Leandro Criscuolo é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Já atuou como copywriter, analista de marketing digital e gestor de redes sociais. Atualmente, escreve para o Olhar Digital.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.