Dá para recuperar nervos danificados? Pesquisa no Brasil testa proteína que pode ajudar

Estudos da USP e da UFRJ investigam a CDNF, proteína que pode acelerar a regeneração de nervos periféricos
Por Valdir Antonelli, editado por Layse Ventura 28/08/2025 07h10
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Imagem: Shutterstock/Kampan
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Milhões de pessoas no mundo sofrem com doenças que afetam os nervos, causando dores, formigamento ou até incapacidades graves. Tudo isso acontece por problemas no sistema nervoso periférico, a rede de nervos que conecta nosso corpo inteiro.

Segundo Débora Foguel, professora Titular do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis, da UFRJ, “essas condições podem surgir após traumas e compressões nervosas, em doenças como diabetes e hanseníase, ou em síndromes como Túnel do Carpo e Guillain-Barré”. Isso leva muitos pacientes a limitações permanentes, exatamente por ser muito difícil reparar nervos danificados.

Ilustração 3D do sistema nervoso do cérebro humano, destacando os nervos parassimpáticos e simpáticos. / Crédito: Life Science (Shutterstock/Reprodução)
Proteína CDNF contribui para a sobrevivência, desenvolvimento e funcionamento dos neurônioos. Crédito: Life Science/Shutterstock

Estudo de proteína pode transformar tratamentos de doenças degenerativas

Para ajudar essas pessoas, pesquisadores da USP e da UFRJ começaram a estudar uma proteína encontrada no cérebro, mas pouco conhecida: a CDNF, ou Fator Neurotrófico Dopamina Cerebral.

Descoberta em 2007 por cientistas finlandeses, essa proteína pertence a uma nova família de fatores neurotróficos, e vem sendo estudada por seu papel na sobrevivência, desenvolvimento e funcionamento dos neurônios, especialmente em doenças como o Parkinson.

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CDNF atua sobre os neurônios produtores de dopamina, que impactam no controle dos movimentos, especialmente em doentes com Parkinson. Crédito: R Photography Background/Shutterstock

Essa proteína pode ser secretada em situações de estresse pelos neurônios atuando efetivamente sobre a sobrevivência de neurônios da circunvizinhança de forma geral, mas, em especial, sobre os neurônios produtores de dopamina.

Débora Foguel, professora Titular do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis, da UFRJ, em artigo no site The Conversation.

Ela explica que a dopamina é um “neurotransmissor conhecido por sua função no prazer, motivação e no controle dos movimentos”, sendo muito afetados na doença de Parkinson e outras doenças degenerativas. Por isso, os pesquisadores pensaram no uso do CDNF para proteger esses neurônios.

CDNF também é produzido e protege outros órgãos

Embora seja conhecido por seu papel no cérebro, o CDNF também é produzido por outras células, como as do coração. No estudo da professora Débora Foguel, a equipe mostrou que a proteína ajuda o coração a se proteger contra infartos. Mas uma dúvida surgiu: será que o CDNF também poderia proteger e regenerar os nervos que ficam fora do cérebro, no sistema nervoso periférico?

Proteína também é produzida por outros órgãos, como o coração, ajudando na proteção contra infartos. Crédito: Emily frost/Shutterstock

Em nossos experimentos demonstramos, pela primeira vez, que o CDNF ajuda tanto a proteger quanto a regenerar células dos nervos periféricos, utilizando como modelo gânglios da raiz dorsal.

Débora Foguel, professora Titular do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis, da UFRJ, em artigo no site The Conversation.

Até então, conta Foguel, “o papel mais conhecido nesse tipo de regeneração de nervos era desempenhado por outra proteína, chamada de Fator de Crescimento Nervoso (NGF). No entanto, vimos que a proteína CDNF exerce efeitos benéficos para esses neurônios ativando um receptor diferente”.

A pesquisadora afirma que isso abre novas frentes para pesquisas sobre regeneração dos neurônios. “Além disso, quando combinamos as duas proteínas, observamos um efeito ainda mais potente”.

Por isso, ela acredita que o CDNF tem grande potencial para proteger e regenerar células nervosas, podendo ser usado no futuro para desenvolver novos tratamentos.

Valdir Antonelli
Colaboração para o Olhar Digital

Valdir Antonelli é jornalista com especialização em marketing digital e consumo.

Layse Ventura
Editor(a) SEO

Layse Ventura é jornalista (Uerj), mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento (Ufsc) e pós-graduada em BI (Conquer). Acumula quase 20 anos de experiência como repórter, copywriter e SEO.