Jato de plasma solar canibal atinge a Terra e provoca show de auroras

Auroras de várias cores foram vistas na noite passada nos céus de locais onde essas luzes raramente aparecem
Flavia Correia02/09/2025 10h50, atualizada em 02/09/2025 21h23
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Conforme noticiado pelo Olhar Digital, uma erupção de classe M2.8 (média intensidade), que durou cerca de três horas, explodiu da mancha solar AR4204 no último sábado (30). Esse evento lançou um jato de plasma canibal em direção à Terra, que impactou a atmosfera na noite passada, provocando auroras espetaculares no norte do planeta, que se estenderam para latitudes muito mais baixas do que o normal.

Vamos entender:

  • O Sol tem um ciclo de 11 anos de atividade;
  • Ele está atualmente no que os astrônomos chamam de Ciclo Solar 25;
  • Esse número se refere aos ciclos que foram acompanhados de perto pelos cientistas;
  • No auge dos ciclos solares, a superfície do astro é tomada por uma série de manchas, que representam concentrações de energia;
  • À medida que as linhas magnéticas se emaranham nas manchas solares, elas podem “estalar” e gerar rajadas de vento;
  • De acordo com a NASA, essas rajadas são explosões massivas do Sol que disparam partículas carregadas para fora da estrela em jatos de plasma (as chamadas ejeções de massa coronal – CMEs);
  • As explosões são classificadas em um sistema de letras – A, B, C, M e X – com base na intensidade dos raios-X que elas liberam, com cada nível tendo 10 vezes a intensidade do anterior;
  • A classe M, no caso, denota os eventos de forte intensidade, enquanto o número fornece mais informações sobre sua força;
  • Um M2 é duas vezes mais intenso que um M1, um M3 é três vezes mais intenso, e, assim, sucessivamente. 

O que é um jato de plasma solar canibal?

CMEs são enormes explosões de plasma e campos magnéticos expelidos pelo Sol. Quando esse material atinge a Terra, pode reagir com as partículas dos gases presentes na atmosfera, produzindo as famosas auroras. A depender da intensidade, no entanto, as CMEs também podem afetar satélites, atrapalhar comunicações de rádio e até provocar falhas em redes elétricas nos episódios mais severos.

Em uma publicação no X feita no domingo (31), a física de clima espacial Tamitha Skov disse que, na verdade, duas tempestades solares distintas estavam direcionadas à Terra. A maior delas alcançaria e se combinaria com a menor, potencializando seus efeitos. Esse tipo de fusão é conhecido como “CME canibal” e pode provocar um impacto mais poderoso do que o habitual.

De acordo com a plataforma de meteorologia e climatologia Spaceweather.com, a CME lançada no sábado chegou ao planeta na segunda-feira (1º), às 18h (pelo horário de Brasília). O impacto na magnetosfera foi abrupto e forte, trazendo ventos solares com velocidade superior a 600 km/s e uma tempestade geomagnética de classe G2 – considerada moderada em uma escala que vai de G1 a G5. 

Tempestades nessa intensidade podem ocasionar danos em transformadores de energia, mudanças no arrasto de satélites e apagões em sinais de rádio de alta frequência. Até o momento, não se tem notícia de qualquer um desses efeitos na noite passada. Outra consequência é a aparição de auroras em áreas relativamente mais próximas da linha do equador.

Leia mais:

Céus são tomados por auroras vermelhas e roxas – e vem mais por aí!

Segundo a Forbes, nos EUA, por exemplo, o fenômeno pôde ser visto em lugares como Nebraska, Iowa e Illinois – raramente abençoados com avistamentos de auroras. A previsão da NOAA é que o espetáculo se repita na noite desta terça-feira (2) no Alasca, Washington, Idaho, Montana, Wyoming, Dakota do Norte, Dakota do Sul, Minnesota, Wisconsin, Michigan, Nova York, Vermont, New Hampshire e Maine. 

No Reino Unido, as luzes dominaram os céus da Escócia, norte da Inglaterra e Midlands, e até o sul de West Cork, na Irlanda, de acordo com o jornal Metro. De acordo com o Met Office, é possível que regiões mais ao sul testemunhem o evento esta noite.

As auroras também apareceram nos céus de todo o Canadá e dos países mais ao extremo norte do globo, que já estão acostumados com esse espetáculo, como partes da Noruega, Suécia, Finlândia, quase toda a Islândia, Groenlândia (território da Dinamarca) e Rússia (região da Península de Kola, Sibéria setentrional).

As cores das luzes variam de acordo com o tipo de gás com os quais o material solar reage e a quantidade de energia envolvida. O verde, mais comum, é causado pelo oxigênio, que se excita com facilidade. Já as cores vermelha, azul, roxa e rosa surgem em situações mais energéticas, envolvendo também o nitrogênio.

Auroras de nitrogênio foram vistas em lugares como Dorset, York, Norfolk e Kent (na Inglaterra), Elgin (na Escócia), Veluwe (na Holanda), Ontário (Canadá) e Nova York (EUA). Confira algumas imagens a seguir:

Mistura de auroras roxas e verdes flagrada na Baía da Ametista, Lago Superior, Ontário, Canadá. Crédito: Lauri Kangas via Spaceweather.com

Aurora vermelha e verde visível ao pôr do sol em Marquette, Michigan, EUA. Crédito: Scott Anttila via Spaceweather.com

Já era madrugada desta terça-feira (2) quando essas luzes incrivelmente coloridas foram avistadas em Elgin, Moray, Escócia. Crédito: Alan C Tough via Spaceweather.com

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.