Remédio contra HIV mostra potencial para tratar sequelas de AVC

O Maraviroc, medicamento usado contra HIV, mostra potencial em auxiliar a recuperação do cérebro após AVC, oferecendo esperança para terapias futuras
Por Valdir Antonelli, editado por Layse Ventura 05/09/2025 06h40
lesao cerebral
Imagem: Liudmila Chernetska/Shutterstock
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Talvez a pior sensação para qualquer pessoa seja tentar se mover e não conseguir. E isso é muito comum entre pessoas que sofreram um derrame (AVC) que, de uma hora para a outra, não conseguem realizar tarefas simples do dia a dia, como escovar os dentes ou lavar um prato.

Uma lesão cerebral, lembra matéria do The New York Times, não é como um osso quebrado que pode cicatrizar e voltar ao normal. As células nervosas perdidas não se regeneram, o cérebro tenta se adaptar à situação, fazendo com que outras regiões assumam as funções perdidas, mas isso não é fácil.

Como não existe uma fórmula mágica para guiar o cérebro nessa tarefa, resta apenas o esforço proporcionado pela reabilitação, além de muita força de vontade.

Imagem demonstrando AVC.
Segundo a Associação Americana de AVC “pouquíssimos sobreviventes de AVC chegam perto de uma recuperação completa. Crédito: peterschreiber.media/Shutterstock)

O AVC não é mais visto como o fim da vida

Apesar de aprenderem na faculdade que o cérebro não se regenera, o Dr. S. Thomas Carmichael, chefe de neurologia da Escola de Medicina Geffen da Universidade da Califórnia, nos EUA, viu, em seus anos em um centro de reabilitação, muitos pacientes que reaprenderam a andar e a falar, demonstrando que o cérebro procurava se adaptar.

Os principais impactos do AVC no cérebro podem ser resumidos da seguinte forma:

  • Derrame pode impedir movimentos e tarefas simples do dia a dia.
  • O cérebro não se regenera como um osso; células nervosas perdidas não voltam.
  • Outras regiões cerebrais tentam compensar funções perdidas, mas de forma limitada.

Esses desafios tornam a reabilitação essencial, exigindo esforço constante e muita força de vontade para recuperar habilidades perdidas.

Isso o levou a investigar o processo por trás dessa adaptação e constatar que “após uma lesão, neurônios saudáveis geravam novos axônios, tentáculos semelhantes a raízes que conduzem sinais elétricos”. No entanto, segundo a Associação Americana de AVC, “pouquíssimos sobreviventes de AVC chegam perto de uma recuperação completa”.

Uma luz no fim do túnel

Anos depois, o Dr. Alcino Silva, pesquisador de memória da UCLA, descobriu que um receptor chamado CCR5, em camundongos, poderia ter um papel de destaque na recuperação do cérebro após um AVC, fazendo com que o “sistema imunológico inunde o cérebro com células inflamatórias”. Isso levou a um estudo para entender como o receptor agiria no cérebro humano.

Isso levou o Dr. Carmichael e o Dr. Silva a trabalharem juntos com o apoio da Fundação de Pesquisa Médica Adelson, que lida com novas técnicas para recuperação de lesões cerebrais.

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Estudo clínico dá novas esperanças para pacientes de AVC recuperarem seus movimentos. Crédito: mi_viri/Shutterstock

A fundação os colocou em contato com a Dra. Einor Ben Assayag, neurologista da Universidade de Tel Aviv, que trabalhava com pacientes com AVC que, ao analisar seus dados, descobriu que “pacientes com alguma forma de mutação CCR5 apresentavam melhores resultados de linguagem, memória e atenção”.

Isso os levou à Dra. Tawnie Silva, esposa do Dr. Silva, que encontrou a cepa mutante de camundongos enquanto trabalhava em um novo tratamento para o HIV: o Maraviroc.

Isso é algo como um unicórnio. É incrivelmente raro.

Dr. Alcino Silva, pesquisador de memória da UCLA, em matéria no The New York Times.

Dessa forma, o Dr. Carmichael descobriu que o Maraviroc, além de proteger as células contra o HIV, poderia atuar na recuperação de lesões cerebrais, e publicou um artigo na revista Cell. Isso foi em 2019, quando apresentou seus resultados em uma conferência na qual o Dr. Sean Dukelow, neurocientista canadense e especializado em AVC participou.

O Dr. Dukelow, que tornou o principal pesquisador de um estudo clínico com o Maraviroc no Foothill Medical Center e no Canadá, viu seu avô morrer depois de um AVC.

“Estamos prestes a guiar essa reconexão”

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Estudo do Maraviroc ainda está em andamento, mas o medicamento pode transformar o tratamento de doentes de AVC. Crédito: Tunatura/Shutterstock)

Se durante décadas, acreditava-se que a pessoa vítima de um AVC tinha poucas chances de se recuperar, agora, existe uma possibilidade real para que isso ocorra.

No entanto, o Maraviroc não é perfeito, afirma o Dr. Carmichael. “Ele atravessa a barreira hematoencefálica, mas apenas em quantidades limitadas”, disse ao The New York Times. Ainda assim, pode estabelecer bases para terapias futuras.

Atualmente, o Maraviroc está em fase de testes, que será concluído daqui a alguns anos, mas ele pode transformar a forma como os médicos tratam lesões cerebrais.

Valdir Antonelli
Colaboração para o Olhar Digital

Valdir Antonelli é jornalista com especialização em marketing digital e consumo.

Layse Ventura
Editor(a) SEO

Layse Ventura é jornalista (Uerj), mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento (Ufsc) e pós-graduada em BI (Conquer). Acumula quase 20 anos de experiência como repórter, copywriter e SEO.

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