A disputa pela liderança em energia limpa ganha novos contornos. Enquanto o mundo continua buscando alternativas para não depender mais de combustíveis fósseis, os Estados Unidos cortam investimentos e desmontam políticas voltadas à inovação.
E quem mais se beneficia, comercialmente, com essa decisão é a China. O país oriental vem ampliando sua vantagem em setores estratégicos como solar, eólico, veículos elétricos e baterias.
Essa é a análise apresentada em artigo de James Temple, publicado na MIT Technology Review, que alerta para os riscos econômicos e geopolíticos que os EUA tomam ao aplicar uma política que privilegia combustíveis fósseis em detrimento das tecnologias sustentáveis.
Em contrapartida, um de seus maiores rivais globais em termos econômicos, a China, se destaca, por exemplo, com 67% da produção mundial de energia solar. Afinal, quais são as consequências disso?
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Segundo o artigo, a decisão da administração Trump de reduzir subsídios federais para projetos de energia limpa e de cortar recursos destinados à ciência e à pesquisa enfraquece a capacidade de inovação dos EUA. Na prática, essas medidas oferecem à China um terreno fértil para consolidar seu domínio sobre as tecnologias que devem liderar a economia global nas próximas décadas.
A estratégia chinesa
O avanço da China não é fruto do acaso. Desde o fim dos anos 2000, o país definiu a energia solar como prioridade nacional e passou a usar políticas direcionadas, incentivos robustos e guerras de preço para ampliar a produção, reduzir custos e melhorar a eficiência dos equipamentos.
Essa mesma fórmula foi aplicada a baterias, turbinas eólicas e veículos elétricos, setores em que hoje o país detém larga vantagem competitiva.
Atualmente, a China gera mais do que o dobro de energia solar em relação aos Estados Unidos e já instalou quase três vezes mais turbinas eólicas. Além disso, abriga cinco das dez maiores fabricantes de veículos elétricos do mundo e domina a cadeia global de baterias, seja de automóveis, redes elétricas ou dispositivos eletrônicos.

Temple destaca que, enquanto a China aposta no futuro, os EUA parecem presos ao passado. O governo Trump justifica suas decisões como uma forma de proteger indústrias tradicionais de carvão, petróleo e gás, abundantes no território americano.
Porém, essa estratégia coloca o país diante de um dilema: insistir em setores em declínioao invés de investir naqueles que definirão a próxima geração da economia global.
Energia limpa e os impactos na inovação
Sem políticas consistentes que estimulem a criação de novas tecnologias, investidores e empreendedores americanos têm buscado oportunidades fora do país. Muitas startups de tecnologia climática já migram para mercados internacionais nos quais encontram apoio governamental, aumentando o risco de que outras não sobrevivam à falta de subsídios e financiamento local.

Para além do impacto econômico, a aposta chinesa em energia limpa também fortalece sua influência internacional. Ao criar empregos, modernizar indústrias e estabelecer laços comerciais em países emergentes, Pequim amplia seu soft power e reforça sua posição nos organismos globais, justamente enquanto os EUA se afastam dessas instituições.
O artigo também aponta que a administração Trump tenta enfraquecer regulações ambientais ao questionar fundamentos legais da política climática americana. Recentemente, a Agência de Proteção Ambiental (EPA) anunciou planos de revogar a “constatação de perigo” das emissões de gases de efeito estufa, apoiando-se em relatórios criticados por dezenas de cientistas por erros e distorções.