Como Trump está “ajudando” a China dominar a energia limpa

Redução de investimentos em tecnologias sustentáveis nos EUA fortalece liderança chinesa no setor
Por Thiago Morais, editado por Layse Ventura 05/09/2025 15h20, atualizada em 05/09/2025 18h02
Vista aérea de fazenda de energia solar em Golmud, na província de Qinghai, na China
Vista aérea de fazenda de energia solar em Golmud, na província de Qinghai, na China. Imagem: lightrain / Shutterstock
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A disputa pela liderança em energia limpa ganha novos contornos. Enquanto o mundo continua buscando alternativas para não depender mais de combustíveis fósseis, os Estados Unidos cortam investimentos e desmontam políticas voltadas à inovação.

E quem mais se beneficia, comercialmente, com essa decisão é a China. O país oriental vem ampliando sua vantagem em setores estratégicos como solar, eólico, veículos elétricos e baterias.

Essa é a análise apresentada em artigo de James Temple, publicado na MIT Technology Review, que alerta para os riscos econômicos e geopolíticos que os EUA tomam ao aplicar uma política que privilegia combustíveis fósseis em detrimento das tecnologias sustentáveis.

Em contrapartida, um de seus maiores rivais globais em termos econômicos, a China, se destaca, por exemplo, com 67% da produção mundial de energia solar. Afinal, quais são as consequências disso?

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Ilustração de painéis solares e turbinas geradoras de energia eólica
China já detém 67% da produção de energia solar do mundo. Crédito: Piyaset – Shutterstock

Segundo o artigo, a decisão da administração Trump de reduzir subsídios federais para projetos de energia limpa e de cortar recursos destinados à ciência e à pesquisa enfraquece a capacidade de inovação dos EUA. Na prática, essas medidas oferecem à China um terreno fértil para consolidar seu domínio sobre as tecnologias que devem liderar a economia global nas próximas décadas.

A estratégia chinesa

O avanço da China não é fruto do acaso. Desde o fim dos anos 2000, o país definiu a energia solar como prioridade nacional e passou a usar políticas direcionadas, incentivos robustos e guerras de preço para ampliar a produção, reduzir custos e melhorar a eficiência dos equipamentos.

Essa mesma fórmula foi aplicada a baterias, turbinas eólicas e veículos elétricos, setores em que hoje o país detém larga vantagem competitiva.

Atualmente, a China gera mais do que o dobro de energia solar em relação aos Estados Unidos e já instalou quase três vezes mais turbinas eólicas. Além disso, abriga cinco das dez maiores fabricantes de veículos elétricos do mundo e domina a cadeia global de baterias, seja de automóveis, redes elétricas ou dispositivos eletrônicos.

donald trump
Presidente dos EUA, Donald Trump, tirou incentivos às energias limpas e ainda aposta em combustíveis fósseis. Imagem: Joshua Sukoff/Shutterstock

Temple destaca que, enquanto a China aposta no futuro, os EUA parecem presos ao passado. O governo Trump justifica suas decisões como uma forma de proteger indústrias tradicionais de carvão, petróleo e gás, abundantes no território americano.

Porém, essa estratégia coloca o país diante de um dilema: insistir em setores em declínioao invés de investir naqueles que definirão a próxima geração da economia global.

Energia limpa e os impactos na inovação

Sem políticas consistentes que estimulem a criação de novas tecnologias, investidores e empreendedores americanos têm buscado oportunidades fora do país. Muitas startups de tecnologia climática já migram para mercados internacionais nos quais encontram apoio governamental, aumentando o risco de que outras não sobrevivam à falta de subsídios e financiamento local.

Aposta chinesa em energia limpa também fortalece sua influência internacional. (Imagem: Freepik)

Para além do impacto econômico, a aposta chinesa em energia limpa também fortalece sua influência internacional. Ao criar empregos, modernizar indústrias e estabelecer laços comerciais em países emergentes, Pequim amplia seu soft power e reforça sua posição nos organismos globais, justamente enquanto os EUA se afastam dessas instituições.

O artigo também aponta que a administração Trump tenta enfraquecer regulações ambientais ao questionar fundamentos legais da política climática americana. Recentemente, a Agência de Proteção Ambiental (EPA) anunciou planos de revogar a “constatação de perigo” das emissões de gases de efeito estufa, apoiando-se em relatórios criticados por dezenas de cientistas por erros e distorções.

Colaboração para o Olhar Digital

Thiago Morais é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Com atuação focada em TV e rádio no início da carreira, já atuou em portais como editor de conteúdo e analista de marketing digital.

Layse Ventura
Editor(a) SEO

Layse Ventura é jornalista (Uerj), mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento (Ufsc) e pós-graduada em BI (Conquer). Acumula quase 20 anos de experiência como repórter, copywriter e SEO.