O cultivo de minicérebros em laboratório não é mais um roteiro de filme de ficção científica. No mês passado, a Universidade da Califórnia em San Diego criou um método para amadurecer minicérebros usando grafeno em uma das pesquisas mais revolucionárias sobre Alzheimer, como informou o Olhar Digital. Aqui no Brasil, a Unicamp quer usá-los para estudar depressão.
O Laboratório de Neuroproteômica conseguiu criar seus próprios neurônios e minicérebros, de acordo com uma reportagem do G1. A pesquisa pode ajudar a desenvolver novos medicamentos para a doença que acomete mais de um bilhão de pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
“Aqui no laboratório a gente programa as células-tronco para serem neurônios, células da glia – que são outro tipo de célula que tem no cérebro – ou até organoides cerebrais. Ou seja, a gente consegue fazer uma espécie de minicérebro no laboratório”, contou ao G1 o biólogo Daniel Martins-de-Souza, que lidera o trabalho em parceria com a geneticista Lygia da Veiga Pereira, da Universidade de São Paulo (USP).

Em busca de respostas
A reprodução do cérebro humano em laboratório pode ajudar os pesquisadores a observar processos do início ao fim, como o caminho de uma célula até se tornar um neurônio, por exemplo. Assim, a equipe pode compreender a evolução da doença.
“Podemos testar medicamentos, o papel de algum gene. A gente pode literalmente ligar e desligar genes que sejam associados àquelas proteínas, por exemplo, que a gente viu nos cérebros das pessoas com depressão”, explicou o cientista ao site.
A pesquisa deve durar até cinco anos e busca compreender as seguintes questões: como funciona o metabolismo de energia das células; o papel das células da glia no cérebro e como são afetadas em pessoas com diagnóstico de depressão; como o canabidiol pode melhorar a função das células; e o comportamento de antidepressivos no cérebro.

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Saúde mental em jogo
No Brasil, a prevalência de depressão ao longo da vida está em torno de 15,5%, segundo o Ministério da Saúde (MS). As causas são variadas e vão desde componentes genéticos até deficiência de neurotransmissores (Noradrenalina, Serotonina e Dopamina) e a ocorrência de eventos estressantes/traumatizantes.
Para o tratamento, a escolha do antidepressivo é feita com base no subtipo da doença, nos antecedentes pessoais e familiares, na resposta a medicamentos anteriores, na presença de doenças clínicas e nas características dos antidepressivos. Até 95% dos pacientes apresentam remissão total com o uso de medicamentos, segundo o MS.

“A gente precisa entender melhor a biologia da depressão para, justamente, que medicamentos mais eficazes possam aparecer. Ou até mesmo para que os médicos consigam acertar melhor quais são as melhores medicações para as pessoas que têm depressão”, defendeu o pesquisador.