As superbactérias são consideradas uma grande preocupação para autoridades de saúde no mundo todo. Elas são bactérias comuns que desenvolveram resistência a antibióticos, tornando as infecções mais difíceis de tratar com os medicamentos tradicionais.
É por isso que uma descoberta feita no litoral de São Paulo acende um alerta. Os pesquisadores identificaram a presença destes organismos resistentes em aves silvestres presentes em um centro de reabilitação da cidade de Santos.

Aves estão expostas ao impacto humano
- De acordo com informações da Agência FAPESP, vestígios de Escherichia coli foram encontrados no trato intestinal de um urubu e de uma coruja.
- Os animais estavam no centro de reabilitação do Orquidário Municipal de Santos.
- Segundo os pesquisadores, por terem sido resgatados entre a área urbana e a rural, eles estão mais expostos ao impacto humano, podendo ter contato com lixo, esgoto e poluição das cidades do entorno.
- Isso pode contribuir para a colonização por bactérias comumente encontradas em ambiente hospitalar humano.
- As aves, no entanto, não exibiam sinais clínicos de infecção, o que pode indicar que elas podem conviver com as superbactérias.
- As descobertas foram descritas em estudo publicado na revista Veterinary Research Communications.
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Importância da descoberta
Ainda de acordo com a equipe responsável pelo trabalho, os microrganismos que vivem em animais presentes em centros de reabilitação são uma amostragem do que está circulando na natureza. Por isso, esses locais podem ser importantes aliados no monitoramento de patógenos humanos. A descoberta chama a atenção para a necessidade de estabelecer protocolos para a manutenção de animais nestes espaços e para a posterior soltura na natureza.
Essas instalações têm uma grande importância para mitigar os efeitos da ação humana sobre a fauna, mas em nenhum lugar do mundo existem procedimentos baseados em evidências científicas para monitorar, evitar e tratar a colonização por microrganismos resistentes a antibióticos dos animais resgatados e reintroduzidos.
Fábio Sellera, professor da Universidade Metropolitana de Santos (Unimes) e um dos coordenadores do estudo

As análises genômicas mostraram que os genes de resistência aos antibióticos estão localizados nos chamados elementos genéticos móveis, que podem ser transferidos tanto para outros clones de E. coli quanto para bactérias de outras espécies presentes no ambiente.
Com isso, mesmo bactérias que nunca tiveram contato com antibióticos nem com ambientes poluídos, que também selecionam esse tipo de agente, podem passar a ser resistentes. Por isso a necessidade de um monitoramento contínuo do meio ambiente e de potenciais hospedeiros.
Nilton Lincopan, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) e outro coordenador do estudo