Nas profundezas das águas de Los Angeles, nos Estados Unidos, há toneladas de barris com rejeitos industriais. Há 50 anos, pesquisadores buscam entender quais compostos estão nesse lixão submarino. Um novo estudo, publicado na revista científica PNAS Nexus nesta terça-feira (9), se aproxima da reposta.
Um grupo de cientistas do Instituto Scripps de Oceanografia identificou alcalinos fortes no fundo do mar. Esse tipo de composto é o oposto dos ácidos, mesmo assim, sua alta concentração está inibindo a vida marinha na região.
Barris têm poluído o mar da Los Angeles há décadas
Os barris estudados pela equipe são o resultado do descarte ilegal de lixo industrial na costa da Califórnia entre os anos 1930 e 1970. Rejeitos nucleares, restos de refinaria, lixo químico e explosivos militares foram afundados em 14 áreas mapeadas pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA.
O caso se popularizou em 2020, após uma reportagem do jornal Los Angeles Times revelar que dezenas de barris estavam espalhados por toda a costa californiana. Na época, pesquisadores encontraram esse lixão submerso durante explorações marítimas com robôs.

Nos anos seguintes, cientistas do Instituto Scripps realizaram uma série expedições para identificar esse material. Foram encontrados mais de 27 mil resíduos parecidos com barris e mais de 100 mil detritos no fundo do mar.
Ao redor desses cilindros, as equipes encontraram círculos de sedimentos esbranquiçados. Estudos anteriores acreditavam se tratar do pesticida DDT, hoje ilegal, mas encontrado em abundância na área. Porém, o conteúdo dos barris se manteve um mistério nos últimos anos.
Substância tóxica transformou região em um ambiente extremo para a vida marinha
No novo estudo, os pesquisadores revelaram os resultados da análise de sedimentos coletados em 2021. O grupo descobriu que os níveis de DDT não aumentaram perto dos barris, então descartaram a presença desse composto no interior deles.
“Um dos principais resíduos da produção de DDT era o ácido, e eles não o colocavam em barris. Isso nos faz pensar: o que era pior do que o resíduo ácido do DDT para merecer estar em barris?”, relatou Johanna Gutleben, líder do estudo e microbióloga no Instituto Scripps, em um comunicado.
O exame dos cilindros com círculos brancos mostrou um pH alto, cerca de 12 (em uma escala que vai de 0 a 14), um sinal da presença de alcalinos fortes. Essas substâncias têm contaminado a região e criado um local onde a maioria dos organismos não consegue sobreviver, restando apenas alguns micróbios adaptados a esse ambiente extremo.

A equipe também descobriu como os círculos brancos se formam. Quando a substância alcalina vaza dos barris, ela reage com o magnésio na água e forma hidróxido de magnésio, conhecido como o mineral brucita.
Esse composto então se dissolve lentamente, mantendo o pH da região alto e provocando diferentes reações na água ao redor. A principal delas é a formação de carbonato de cálcio, que se deposita em um círculo de pó branco no entorno do barril.
Alcalinos são poluentes persistentes na região.
Segundo os pesquisadores, esses compostos alcalinos fortes se mantêm na região há mais de 50 anos, sem se dissipar. Isso sugere que eles devem ser considerados poluentes persistentes com impactos ambientais de longo prazo.
“É chocante que, mais de 50 anos depois, ainda vejamos esses efeitos. Não podemos quantificar o impacto ambiental sem saber quantos desses barris com círculos brancos existem, mas está claramente tendo um impacto localizado sobre os micróbios”, disse Paul Jensen, coautor do estudo e pesquisador do Instituto Scripps.

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A equipe sugeriu que os círculos brancos sejam utilizados para identificar quais barris contêm alcalinos fortes, um passo fundamental na identificação dos compostos tóxicos presentes nesses cilindros.
Os pesquisadores estimaram que um terço desses recipientes esteja repleto de alcalinos. Porém, o número total de barris descartados no mar da Califórnia ainda é desconhecido. Estudos futuros devem mostrar se essa proporção está correta e qual o melhor método para remover esses resíduos.