Cientistas descobrem aquífero de água doce escondido sob o mar

Uma expedição científica descobriu um vasto aquífero submarino de água doce, com potencial para abastecer milhões de pessoas
Ana Luiza Figueiredo11/09/2025 15h37
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(Imagem: sandsun /Shutterstock.com)
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Uma expedição científica inédita encontrou uma vasta reserva de água doce submarina ao largo de Cape Cod, em Massachusetts, que pode se estender de Nova Jersey até o estado do Maine. O achado levanta a possibilidade de um futuro recurso adicional para abastecer milhões de pessoas, embora a exploração em larga escala ainda enfrente desafios técnicos e ambientais significativos.

A descoberta confirma registros feitos há quase 50 anos, quando um navio do governo norte-americano, em busca de minerais e petróleo, perfurou o solo marinho e encontrou água doce em profundidades inesperadas. Agora, uma equipe internacional coletou quase 50 mil litros de água, que serão analisados nos próximos meses em laboratórios de diferentes países para entender sua origem e composição.

agua doce
50 mil litros de água doce de um aquífero no fundo do mar foi coletada nos Estados Unidos (Imagem: sebra / Shutterstock.com)

Água doce submarina: um recurso ainda pouco explorado

Segundo Brandon Dugan, co-chefe científico da missão e geofísico da Colorado School of Mines, este aquífero é apenas um dos muitos depósitos conhecidos em mares rasos ao redor do mundo, e sua investigação poderia abrir novas possibilidades de abastecimento hídrico. “Precisamos olhar para todas as possibilidades que temos para encontrar mais água para a sociedade”, afirmou em entrevista à Associated Press durante a expedição.

O estudo busca determinar se a água se originou do derretimento de geleiras, de sistemas subterrâneos conectados ao continente ou de uma combinação de ambos. A expedição, chamada Expedition 501, perfurou até 400 metros de profundidade e encontrou amostras com salinidade tão baixa quanto 1 parte por mil — semelhante à água potável em terra firme.

Contexto global da escassez de água

A descoberta ocorre em um momento crítico. Segundo dados da ONU, a demanda global por água doce deve superar a oferta em 40% nos próximos cinco anos. O aumento do nível do mar e o consumo intenso de água por data centers — especialmente nos Estados Unidos — agravam o cenário. Na Virgínia, por exemplo, um quarto da energia do estado já abastece esses centros de dados, que consomem, em média, tanta água quanto mil casas de médio porte.

Relatório da ONU diz que quase metade da população mundial já enfrenta condições de estresse hídrico durante uma parte do ano (Imagem: R_Tee / Shutterstock.com)

Exemplos de escassez hídrica incluem a seca histórica que quase deixou 5 milhões de habitantes da Cidade do Cabo sem água em 2018. Pesquisadores acreditam que regiões como África do Sul, Havaí, Ilha do Príncipe Eduardo e Jacarta também possuem aquíferos submarinos ainda não explorados.

A missão e os desafios de exploração

A Expedition 501 custou US$ 25 milhões e envolveu cientistas de mais de uma dezena de países. A missão utilizou o Liftboat Robert, embarcação capaz de suspender pilares até o fundo do mar, geralmente usada em plataformas de petróleo, mas adaptada para perfurar o leito oceânico em busca de água doce.

Segundo Jez Everest, gerente do projeto do British Geological Survey, “sabemos que esse fenômeno existe em outras partes do mundo, mas nunca foi diretamente investigado por um projeto de pesquisa antes.” A missão segue estudos de 2015 que haviam mapeado o aquífero por tecnologia eletromagnética, sugerindo que o depósito é comparável em tamanho ao Ogallala, maior aquífero dos EUA.

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Próximos passos e implicações

Nos próximos meses, os cientistas vão estudar microrganismos, minerais e propriedades químicas da água, além de determinar sua idade e possibilidade de recarga natural. “Se for jovem, significa que está recarregando; se for milenar, é um recurso finito”, explicou Dugan.

Especialistas alertam para desafios ambientais e legais, incluindo a preservação dos ecossistemas marinhos e a definição de quem administraria e teria direito à exploração dessa água. Rob Evans, geofísico de Woods Hole, destaca que extrair água desses aquíferos poderia afetar reservas terrestres conectadas e causar consequências imprevistas.

Após meses de coleta e análises, as equipes se reunirão na Alemanha para concluir estudos sobre a origem e a idade da água. A missão reforça a ideia de que, diante da crescente escassez, a busca por novas fontes de água doce está longe de ser trivial, exigindo equilíbrio entre ciência e sociedade.

Ana Luiza Figueiredo é repórter do Olhar Digital. Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), foi Roteirista na Blues Content, criando conteúdos para TV e internet.

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