China inaugura ponte mais alta que duas Torres Eiffel empilhadas

Estrutura vai permitir que trajeto de duas horas caia para apenas dois minutos
Rodrigo Mozelli13/09/2025 16h37, atualizada em 13/09/2025 16h57
Huajiang Grand Canyon
Ponte será instalada no Huajiang Grand Canyon (Imagem: Bill Wei/Shutterstock)
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A China se prepara para inaugurar, neste mês, a ponte mais alta do mundo, um novo recorde que reforça sua estratégia de grandes obras de infraestrutura. A Ponte do Grande Cânion de Huajiang, localizada na província de Guizhou, no sudoeste do país, ficará a 625 metros de altura — espaço suficiente para acomodar quase duas Torres Eiffel uma sobre a outra.

Segundo a mídia estatal chinesa, a estrutura mede 2,89 quilômetros de comprimento, praticamente a extensão do National Mall, em Washington (EUA), e atravessa um desfiladeiro conhecido localmente como “fenda da Terra”.

National Mall
Estrutura mede 2,89 quilômetros de comprimento, praticamente a extensão do National Mall (Imagem: Sean Pavone/Shutterstock)

Construída desde 2022, a ponte passou por um teste de carga de cinco dias no fim de agosto e deverá ser aberta ao tráfego ainda em setembro. A nova ligação reduzirá drasticamente o tempo de viagem entre os condados de Guanling e Zhenfeng, que somam cerca de 600 mil habitantes: de duas horas para apenas dois minutos.

Orgulho nacional e vitrine de engenharia

  • O projeto tem sido celebrado pela imprensa estatal como um “novo milagre da China” que demonstra a “velocidade e sabedoria de Guizhou”;
  • O People’s Daily, jornal porta-voz do Partido Comunista, afirmou que a obra marca uma nova etapa no desenvolvimento da infraestrutura do país;
  • Para Dan Wang, pesquisador da Hoover Institution da Universidade de Stanford e autor de Breakneck: China’s Quest to Engineer the Future, o investimento em obras gigantescas tem caráter tanto econômico quanto político: “O Partido Comunista acredita em construir projetos enormes para impulsionar a economia e reforçar o prestígio político”, disse ao The Washington Post;
  • Li Mingshui, professor de engenharia civil na Southwest Jiaotong University, destacou a importância estratégica da iniciativa: “Diferente dos EUA, que já têm um sistema rodoviário altamente desenvolvido, muitas regiões no oeste da China ainda são mal conectadas. O que estamos fazendo é preencher essas lacunas e trabalhar nos pontos mais frágeis”.

Turismo e inovação estrutural na China

Além de melhorar a mobilidade, a ponte deve atrair turistas. Um elevador panorâmico de 213 metros levará visitantes a uma torre de observação e uma passarela de vidro com 800 metros de extensão permitirá caminhar pela estrutura. Para enfrentar desafios, como ventos fortes e encostas íngremes, os engenheiros utilizaram um design de arco mais leve, reduzindo em 30% o peso total da construção.

O engenheiro-chefe do projeto, Liu Hao, relatou seu orgulho em participar do empreendimento: “Numerosos construtores de pontes como eu tiveram a sorte de acompanhar a era dourada da infraestrutura de tráfego da China. Quando a ponte de Huajiang for inaugurada, certamente trarei minha filha para vê-la e direi com orgulho que ‘este é mais um megaprojeto que seu pai e muitas outras pessoas realizaram juntos’.”

A China já detinha recordes semelhantes: a ponte mais alta do mundo até então era a Beipanjiang, com 565 metros, concluída em 2016, também em Guizhou. O país também abriga a maior ponte sobre o mar aberto, a Hangzhou Bay, com 35,4 quilômetros.

O ritmo acelerado de obras, no entanto, tem seu lado negativo. Em agosto, ao menos 12 trabalhadores morreram após o colapso de uma ponte em construção na província de Qinghai, no noroeste do país.

Torre Eiffel
Construção ficará a 625 metros de altura — espaço suficiente para acomodar quase duas Torres Eiffel uma sobre a outra (Imagem: WDG Photo/Shutterstock)

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Parâmetro de investimento

Guizhou, uma das províncias mais pobres e montanhosas da China, tornou-se símbolo dessa política de megainvestimentos. Apesar de seu isolamento, já conta com 11 aeroportos, diversas pontes de grande porte e novas rodovias. O governo central promove a região como parte de sua estratégia de “retaguarda estratégica”.

Consultorias, como a McKinsey, destacam que o crescimento chinês das últimas décadas foi fortemente impulsionado pela infraestrutura, financiada em grande parte por governos locais, o que elevou os níveis de endividamento.

O presidente da China, Xi Jinping, tem defendido um “impulso abrangente” para obras de infraestrutura como forma de reaquecer a economia no pós-pandemia. No mês passado, o premiê Li Qiang reforçou a necessidade de usar os megaprojetos para estimular investimentos e consumo interno.

Para o professor Li Mingshui, os benefícios superam os custos. “Esses megaprojetos não são pontes para lugar nenhum, mas, sim, investimentos de longo prazo que trarão retornos econômicos.” Já Dan Wang vê outra motivação: “Em vez de distribuir recursos para que as pessoas gastem como quiserem, os oficiais em Pequim estão muito mais interessados em controlar recursos para erguer projetos monumentais.”

Com a inauguração da ponte de Huajiang, a China reafirma sua vocação para obras de escala inédita, ao mesmo tempo em que reacende o debate sobre os impactos econômicos, sociais e políticos dessa estratégia.

Guizhou
Guizhou é uma das províncias mais pobres e montanhosas da China e tornou-se símbolo dessa política de megainvestimentos (Imagem: ZCOOL HelloRF/hutterstock)

Rodrigo Mozelli é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e, atualmente, é redator do Olhar Digital.