“Relógio atômico” revolucionário revela idade de ovos de dinossauro

Uso inédito de um conhecido método para datação de minerais permitiu estimar com mais precisão idade de ovos de dinossauro
Por Samuel Amaral, editado por Flavia Correia 16/09/2025 11h00
Datao-de-ovos-de-dino-1920x1080
Ovo com mais de 85 milhões de anos foi datado com um método nunca antes aplicado em fósseis. (Imagem: Dr. Bi Zhao)
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Pesquisadores descobriram que um conhecido método de datação pode revelar a idade dos ovos de dinossauro. O grupo aplicou essa técnica, que apelidou de “relógio atômico para fósseis”, durante um estudo de ovos cristalizados achados no sítio Qinglongshan, na China. A descoberta foi publicada na revista Frontiers in Earth Science, na última quarta-feira (10).

A equipe utilizou a datação por urânio-chumbo (U-Pb), comumente aplicada em minerais, para estimar a idade de um ovo repleto de cristais de calcita, de um conjunto de 28 ovos incrustados em siltito com brecha, uma rocha fragmentária.

A técnica envolve disparar um micro-laser no objeto de pesquisa para vaporizar os minerais de carbonato em um aerossol. Esse vapor é submetido a um espectrômetro de massa, que identifica os átomos de urânio em sua composição e seu grau de decaimento, revelando uma estimativa da idade da amostra analisada.

Amostra de ovo de dinossauro com cristais de calcita. (Imagem: Dr. Bi Zhao)

“Como o urânio se decompõe em chumbo a uma taxa fixa, conseguimos calcular a idade medindo o chumbo acumulado, é como um relógio atômico para fósseis”, explicou Bi Zhao, membro da equipe e pesquisador do Instituto de Geociências de Hubei, em um comunicado.

A surpresa do novo estudo é que ninguém havia testado esse método em fósseis antes. Segundo os autores, eles não encontraram registros dessa prática na literatura no decorrer da pesquisa, então decidiram aplicar a técnica pela primeira vez.

“Durante o experimento, ficamos surpresos ao descobrir que a calcita da própria casca do ovo produzia idades U-Pb ainda mais consistentes e confiáveis. Rapidamente mudamos nosso foco e obtivemos com sucesso os resultados registrados em nosso artigo”, relatou o pesquisador em entrevista ao site IFLScience.

Avanço revoluciona cronologia dos ovos de dinossauros no mundo

O experimento revelou que os ovos foram depositados em Qinglongshan há 85 milhões de anos, durante o período Cretáceo. Segundo Zhao, essa é primeira vez que um grupo realiza a datação precisa dos fósseis no sítio, o que colabora para a pesquisa dos quase três mil ovos encontrados no local.

Os métodos mais utilizados para a datação de ovos de dinossauro envolviam coletar amostras das rochas, camadas de cinza ou minerais que se formaram ao redor e calcular sua idade ao invés dos próprios ovos. Porém, essas formações podem ter surgido antes dos fósseis ou ter passado por alterações geológicas, o que dificulta a aplicação da técnica.

A nova abordagem abre possibilidades inéditas, pois os pesquisadores descobriram que a calcita biogênica da maioria das cascas de ovo preserva sua idade de cristalização, o que permite aplicar esse método em amostras do mundo todo. “Isso revoluciona nossa capacidade de estabelecer cronologias globais de ovos de dinossauros”, disse Zhao.

Pesquisadores encontraram mais de três mil ovos no Sítio de Qinglongshan. (Imagem: Dr. Bi Zhao)

Leia mais

Agora, os pesquisadores pretendem reunir amostras de ovos em diferentes camadas geológicas de Qinglongshan para construir uma linha do tempo da região. Além disso, buscam entender as migrações feitas por dinossauros através da análise de fósseis de Dendroolithidae.

“Nossa conquista tem implicações significativas para a pesquisa sobre a evolução e extinção dos dinossauros, bem como para as mudanças ambientais em nosso planeta durante o Cretáceo Superior. Essas descobertas podem transformar fósseis em narrativas convincentes sobre a história da Terra”, concluiu o pesquisador.

Samuel Amaral
Redator(a)

Samuel Amaral é jornalista em formação pela Universidade de São Paulo (USP) e estagiário de Ciência e Espaço no Olhar Digital.

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.