12 por 8 agora é pressão alta

Documento também endurece metas de tratamento, cria escore de risco cardiovascular e traz capítulos inéditos sobre SUS e saúde da mulher
Rodrigo Mozelli18/09/2025 20h32, atualizada em 18/09/2025 20h40
pessoa medindo pressão arterial de outra com equipamento
Mudança foi feita de forma preventiva (Imagem: @Freepik/Freepik)
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A pressão arterial considerada de risco no Brasil mudou de patamar. Uma nova diretriz, apresentada nesta quinta-feira (18) durante o 80º Congresso Brasileiro de Cardiologia, reclassifica como pré-hipertensão os valores entre 12 por 8 e 13,9 por 8,9 (120-139 mmHg sistólica e/ou 80-89 mmHg diastólica).

O documento foi elaborado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) e Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH).

hipertensão
Medida acompanha diretrizes internacionais (Legenda: Shutterstock)

Antes considerados “normais limítrofes”, esses números passam a exigir maior atenção médica. A mudança tem como objetivo reforçar a prevenção: nessa fase inicial, sem que a hipertensão esteja totalmente instalada, médicos devem recomendar mudanças no estilo de vida e, em alguns casos, prescrever medicamentos.

A medida acompanha diretrizes internacionais, como as divulgadas no Congresso Europeu de Cardiologia em 2024, que classificaram 12 por 8 como “pressão arterial elevada“.

Novas metas de tratamento para a pressão

Outra alteração significativa é a meta de tratamento. Até então, aceitava-se manter a pressão em até 14 por 9 (140/90 mmHg). Agora, a recomendação é reduzir para abaixo de 13 por 8 (<130/80 mmHg) em todos os hipertensos, independentemente de idade, sexo ou presença de outras doenças.

Os autores do documento afirmam que esse limite mais baixo é fundamental para reduzir riscos de infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência renal. Nos casos em que a redução não é bem tolerada, a orientação é buscar o nível mais baixo possível dentro da segurança clínica.

Pela primeira vez, o relatório propõe uma avaliação além dos números da pressão arterial. Foi incorporado o escore PREVENT, que estima a probabilidade de um paciente sofrer um evento cardiovascular em dez anos, considerando fatores, como obesidade, diabetes, colesterol alto e lesões em órgãos-alvo, como rins e coração. Médicos deverão adotar condutas mais intensas para pacientes classificados como de alto ou muito alto risco.

Carteirinha do SUS com um estetoscópio ao fundo
Pela primeira vez, há recomendações específicas para o SUS, responsável pelo acompanhamento de 75% dos hipertensos brasileiros (Imagem: Brenda Rocha – Blossom/Shutterstock)

SUS e saúde da mulher

A diretriz traz ainda capítulos inéditos. Pela primeira vez, há recomendações específicas para o Sistema Único de Saúde (SUS), responsável pelo acompanhamento de 75% dos hipertensos brasileiros. O texto orienta o uso prioritário de medicamentos disponíveis na rede pública, protocolos multiprofissionais e monitoramento com MAPA (monitorização ambulatorial) e MRPA (monitorização residencial), quando possível.

Outro capítulo é dedicado à saúde feminina. Entre as orientações, estão:

  • Medir a pressão antes da prescrição e durante o uso de anticoncepcionais;
  • Priorizar medicamentos considerados seguros durante a gestação, como a metildopa e alguns bloqueadores de canais de cálcio;
  • Monitorar de perto mulheres no peri e pós-menopausa, períodos em que a pressão tende a se elevar;
  • Garantir acompanhamento de longo prazo a mulheres com histórico de hipertensão na gravidez.

Outras recomendações

O documento também reforça práticas já conhecidas, como perda de peso, redução do consumo de sal, dieta no padrão DASH, aumento da ingestão de potássio e prática regular de atividade física.

Para tratamento medicamentoso, a diretriz indica iniciar, na maioria dos casos, com a combinação de dois fármacos em baixa dose, preferencialmente em um único comprimido. Entre as classes mais indicadas estão diuréticos tiazídicos, inibidores da ECA, bloqueadores de receptores de angiotensina e bloqueadores de canais de cálcio.

A meta de 13 por 8 também passa a valer para populações específicas, como pacientes com diabetes, obesidade, insuficiência renal, doença arterial coronariana e histórico de AVC.

Imagem demonstrando AVC.
Hipertensão é uma condição silenciosa, mas responde pela maioria dos infartos e AVC no Brasil (Imagem: peterschreiber.media/Shutterstock)

Pressão alta: impacto no Brasil

A hipertensão é uma condição silenciosa, mas responde pela maioria dos infartos e AVC no país. Segundo a Sociedade Brasileira de Hipertensão, 27,9% dos adultos brasileiros convivem com a doença e apenas um terço tem a pressão efetivamente controlada.

Com a reclassificação, as metas mais rígidas e a inclusão de protocolos específicos para o SUS e para mulheres, milhões de brasileiros passam a ser considerados em risco. O desafio, agora, é transformar as recomendações em prática tanto nos consultórios privados quanto nas unidades de saúde pública.

Rodrigo Mozelli é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e, atualmente, é redator do Olhar Digital.