Uma fábrica fantasma da Foxconn pode se tornar um marco da corrida da inteligência artificial (IA). A Microsoft anunciou nesta quinta-feira (18) a construção do Fairwater, um data center de US$ 3,3 bilhões em Wisconsin, nos Estados Unidos. Segundo a empresa, ele será o mais poderoso do mundo para aplicações de IA.
O complexo, com centenas de milhares de GPUs da Nvidia, vai ocupar os prédios abandonados pela Foxconn. A Microsoft afirma que sua capacidade será dez vezes maior que a do supercomputador mais rápido em operação. E ressalta o uso de sistemas de resfriamento líquido para reduzir o impacto ambiental.
Por dentro do ‘data center de IA mais poderoso do mundo’
A Microsoft descreve o Fairwater como uma verdadeira “fábrica de IA”: três prédios, com 111,5 mil metros quadrados (16 campos de futebol) de área construída. No entanto, o projeto chega em meio a questionamentos sobre energia e sustentabilidade, conforme apontado pelo The Verge. Temas que a empresa tenta responder.

A “fábrica de IA” em números
- Investimento: US$ 3,3 bilhões (cerca de R$ 18 bilhões);
- Local: Mount Pleasant, Wisconsin (EUA), numa área de 315 acres (equivalente a 1,27 km², aproximadamente);
- Estrutura: três prédios que somam 111,5 mil m² de área construída – espaço similar a 16 campos de futebol;
- Hardware: centenas de milhares de GPUs Nvidia GB200, interligadas por cabos de fibra que, segundo o CEO da Microsoft, Satya Nadella, dariam para dar quatro voltas e meia na Terra;
- Potência: desempenho 10 vezes superior ao supercomputador mais rápido do mundo em operação;
- Construção: inclui cerca de 75 km de fundações, 12 mil toneladas de aço estrutural e mais de 190 km de cabos subterrâneos e tubulações mecânicas.
Engenharia para rodar a próxima geração de IA
O Fairwater foi projetado para funcionar como um único supercomputador. Em vez de rodar várias tarefas separadas, como ocorre em data centers tradicionais, ele conecta centenas de milhares de GPUs Nvidia numa rede única e ultrarrápida. Isso permite treinar modelos de IA de forma muito mais eficiente e em escala inédita.

Cada rack do data center reúne 72 GPUs interligadas pelo sistema NVLink, que garante altíssima velocidade de comunicação. Dessa forma, em vez de atuar como chips isolados, as placas funcionam como um único acelerador gigante, capaz de processar mais de 865 mil tokens por segundo – número que coloca o Fairwater à frente de qualquer outro centro de computação disponível hoje.
Para reduzir atrasos, a Microsoft adotou uma arquitetura em camadas, conectando os racks por fibras InfiniBand e Ethernet de 800 Gbps. A disposição em dois andares também diminui a distância física entre os equipamentos, o que corta a latência.
A sustentabilidade no projeto
O Fairwater usa um sistema de resfriamento líquido em circuito fechado, diferente do ar-condicionado comum em data centers.
Nesse modelo, a água circula por tubos que passam diretamente nos servidores, absorve o calor e depois é resfriada por grandes ventiladores antes de voltar ao sistema. Como a água só é colocada uma vez durante a construção e depois fica em recirculação, não há desperdício nem evaporação.

Segundo a Microsoft, mais de 90% da capacidade do centro funciona dessa forma, o que reduz o uso de recursos naturais. A empresa destaca que essa engenharia permite rodar cargas de IA muito pesadas sem sobrecarregar o meio ambiente, ponto importante diante das críticas sobre o alto consumo de energia e água desse tipo de infraestrutura.
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Do fracasso da Foxconn ao marco da Microsoft
O terreno que abriga o Fairwater já foi palco de uma das maiores promessas industriais dos Estados Unidos. Em 2017, a Foxconn anunciou que construiria ali uma fábrica de telas de LCD, com promessa de milhares de empregos. O projeto, porém, nunca saiu do papel como planejado e rapidamente ganhou fama de fiasco.
Agora, a Microsoft ocupa os prédios que ficaram praticamente abandonados e dá um novo significado à área. Em vez de uma “fábrica fantasma”, o local passa a ser visto como um dos maiores centros de inovação em tecnologia, projetado para chacoalhar a corrida global da IA.