O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma taxa de US$ 100 mil para cada novo visto H-1B, um aumento 60 vezes maior que o valor atual. A medida visa incentivar empresas a contratar mais trabalhadores americanos, mas já gerou preocupação em grandes empresas de tecnologia e analistas do mercado. Especialistas alertam que o aumento pode afetar o crescimento econômico e a capacidade dos EUA de atrair profissionais altamente qualificados.
A nova taxa entrou em vigor para novos solicitantes e, segundo a Casa Branca, será um pagamento único. A mudança gerou incerteza sobre viagens internacionais de funcionários estrangeiros que já trabalham nos EUA, especialmente no setor de tecnologia.

O que são os vistos H-1B e para quem servem?
- O visto H-1B é um tipo de autorização temporária que permite que empresas dos Estados Unidos contratem trabalhadores estrangeiros altamente qualificados em áreas especializadas, como tecnologia, engenharia e ciências.
- Ele costuma ser concedido por três anos, com possibilidade de renovação, e é muito usado por grandes empresas de tecnologia para suprir a demanda por engenheiros, desenvolvedores e pesquisadores.
- Antes do aumento anunciado por Trump, a taxa básica de processamento de um visto H-1B variava de cerca de US$ 1.667 a US$ 10 mil, dependendo das categorias e serviços adicionais.
- Com a nova medida, os empregadores precisarão pagar US$ 100 mil para cada novo pedido, um acréscimo recorde.
- O custo do visto é pago pelo empregador, não pelo empregado, seguindo as regras do governo americano que proíbem repassar taxas obrigatórias aos trabalhadores.
- O programa oferece 65 mil vistos anuais, com mais 20 mil para profissionais com grau avançado, e grande parte dessas autorizações é concedida a cidadãos indianos, seguidos por profissionais da China.
Taxa recorde para vistos e reação das big techs
O aumento da taxa para obtenção do visto afeta diretamente as big techs, que dependem de trabalhadores estrangeiros para áreas especializadas como engenharia e desenvolvimento de software.
Empresas como Amazon, Microsoft, Meta, Apple e Google são as mais impactadas. Em 2025, a Amazon teve mais de 10 mil vistos H-1B aprovados, enquanto a Microsoft e a Meta tiveram mais de 5 mil cada, e Apple e Google quase 4,2 mil cada. Somadas, estas big techs teriam gastado US$ 2,84 bilhões com taxas de vistos apenas em 2025 sob o novo valor.

A nova taxa fez com que algumas companhias alertassem seus funcionários estrangeiros para permanecerem nos EUA, evitando viagens que poderiam colocar seu status em risco.
Após o anúncio de Trump, as ações de empresas de tecnologia nos EUA tiveram movimentação limitada, mas analistas alertam para impactos futuros. O aumento do custo dos vistos pode pressionar salários, reduzir margens e limitar a contratação de trabalhadores estrangeiros altamente qualificados.
O impacto não se limita à tecnologia. Saúde e educação também dependem desses vistos, e especialistas alertam que recrutamento futuro pode ser prejudicado. O aumento de custos pode dificultar a contratação de profissionais altamente qualificados fora dos EUA, limitando a inovação em diversos setores.
Impacto econômico e inovação
Economistas destacam que a medida pode prejudicar o crescimento econômico dos EUA e gerar perda de capital humano, o chamado “brain drain”.

Atakan Bakiskan, economista do banco Berenberg, afirmou ao The Guardian que tornar os vistos muito caros afeta a produtividade e que investimentos em inteligência artificial dificilmente compensarão a perda de talentos. Outros analistas apontam que a combinação de tarifas, instabilidade fiscal e políticas restritivas pode aumentar o risco de crises financeiras a longo prazo.
Analistas da Jefferies alertaram à Reuters que a oferta limitada de trabalhadores estrangeiros pode elevar salários para profissionais locais, pressionando as margens das empresas. Grupos do setor, como a NASSCOM na Índia e a Câmara de Comércio dos EUA, devem pressionar por mudanças, argumentando que a taxa desestimula a inovação.
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Repercussão internacional
A medida nos EUA provocou reações em outros países, que buscam atrair talentos estrangeiros para suas próprias economias.
A Índia, maior beneficiária do programa H-1B, com 71% dos vistos aprovados em 2024, criticou a medida, alertando para “consequências humanitárias” e interrupção de famílias. As ações de empresas de TI indianas, como Infosys e Tata Consultancy, caíram cerca de 3% em resposta à novidade.
Segundo o Financial Times, o Reino Unido considera eliminar taxas para talentos globais com formação em universidades de destaque ou prêmios relevantes. A China lançou o visto K, que oferece maior conveniência e liberdade para profissionais STEM. A União Europeia iniciou a campanha “Choose Europe”, prometendo incentivos financeiros, contratos mais longos e menos burocracia para pesquisadores que se sintam ameaçados pelas políticas americanas.