A FDA, agência que regula medicamentos nos Estados Unidos, aprovou nesta semana uma mudança no rótulo da leucovorina, também conhecida como ácido folínico. O objetivo é indicar oficialmente o uso da substância no tratamento de alguns sintomas relacionados ao autismo, após anos de pesquisas que apontaram possíveis benefícios.
A leucovorina é uma forma modificada da vitamina B9 (folato), nutriente essencial encontrado em diversos alimentos. Estudos mostram que ela pode ajudar crianças autistas com dificuldades em transportar o folato para o cérebro, condição capaz de afetar a fala, a compreensão e até o comportamento.
Leucovorina ganha espaço no tratamento de sintomas relacionados ao autismo
A mudança anunciada pela FDA dá novo fôlego a um medicamento até então pouco conhecido fora de usos específicos, como quimioterapia e anemia.
A decisão, porém, vem acompanhada de cautela: especialistas reforçam que não se trata de cura e que ainda faltam estudos mais amplos para definir quem realmente se beneficia do remédio e em qual dose, segundo o New York Times.
O que é a leucovorina
A leucovorina, também chamada de ácido folínico, é uma versão modificada da vitamina B9 (folato). Esse nutriente é essencial para o corpo porque ajuda a formar células do sangue e participa do crescimento celular.

Ele está naturalmente presente em alimentos como feijão, verduras de folhas verdes, ovos, beterraba e frutas cítricas. Durante a gravidez, por exemplo, o folato é importante para reduzir o risco de malformações no cérebro e na medula do bebê.
O medicamento já era usado em outras situações médicas. A FDA aprovou a leucovorina para reduzir os efeitos colaterais de quimioterapias com metotrexato, para ajudar no tratamento de câncer colorretal em combinação com outras drogas e para casos de anemia megaloblástica, quando o organismo não consegue aproveitar bem o ácido fólico. Agora, o rótulo vai incluir o uso em pacientes com autismo e deficiência cerebral de folato.
Por que a FDA mudou o rótulo
A decisão da FDA se baseia numa revisão de estudos feitos entre 2009 e 2024, que apontaram benefícios do uso da leucovorina em pacientes com deficiência cerebral de folato.
Essa condição pode afetar crianças autistas, causando dificuldades de fala, atraso no desenvolvimento intelectual e até convulsões. Nos testes clínicos, parte dos participantes que tomou o medicamento apresentou melhora significativa em comparação aos que receberam placebo.
Até então, o remédio era usado de forma off label – quando médicos prescrevem um fármaco para finalidades não descritas oficialmente no rótulo. Com a atualização, o uso da leucovorina passa a ser reconhecido de forma oficial para esse tipo de deficiência ligada ao autismo.
A agência, no entanto, reforçou que ainda são necessários estudos maiores para confirmar em quais pacientes o tratamento é mais eficaz e em quais doses.
Relação entre autismo e folato (e resultados de estudos)
Pesquisas mostram que muitas pessoas com autismo têm anticorpos que dificultam o transporte do folato para o cérebro. Esse bloqueio pode comprometer funções importantes, como a comunicação e o controle motor.

A leucovorina foi desenvolvida justamente para contornar esse problema. Ele ajuda o nutriente a chegar ao sistema nervoso central e reduz os efeitos da chamada deficiência cerebral de folato.
Em estudos clínicos, algumas crianças que receberam o ácido folínico apresentaram avanços consideráveis em áreas como linguagem receptiva e expressiva, conseguindo compreender melhor palavras e frases e se comunicar de forma mais clara. Pesquisadores também observaram melhorias na interação social.
No entanto, nem todas as crianças responderam ao tratamento. Isso reforça a necessidade de mais pesquisas para entender por que o medicamento funciona em alguns casos e em outros não.
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Limitações e cautela dos especialistas
Embora a decisão da FDA represente um avanço, pesquisadores destacam que a leucovorina não deve ser vista como cura para o autismo.
Especialistas como a doutora Alycia Halladay, da Autism Science Foundation, alertam que ainda faltam estudos de larga escala para comprovar quem realmente se beneficia do tratamento e qual seria a dosagem ideal. Ela lembra que os dados atuais vêm de pesquisas pequenas e que os resultados podem variar bastante entre os pacientes.
Outro ponto levantado é a prioridade em relação a recursos para pesquisa. Com financiamento limitado, alguns especialistas defendem que outras áreas ligadas ao autismo – como diagnóstico precoce, apoio educacional e terapias de desenvolvimento – precisam continuar recebendo atenção.
A leucovorina pode ser uma ferramenta importante, mas ainda é cedo para saber se terá impacto amplo no tratamento de crianças com autismo.