Pela primeira vez, o limite de acidificação dos oceanos foi ultrapassado, de acordo com o novo relatório do Laboratório de Ciências de Fronteiras Planetárias do Instituto de Pesquisa de Impacto Climático de Potsdam (PIK, na sigla em inglês), revelando que sete dos nove limites críticos do sistema da Terra foram violados, um a mais que no ano passado.
São eles: Mudanças Climáticas, Integridade da Biosfera, Mudanças no Sistema Terrestre, Uso de Água Doce, Fluxos Biogeoquímicos, Novas Entidades e, agora, a Acidificação dos Oceanos. Todas as categorias apresentam tendências de agravamento, deixando apenas a camada de ozônio e a carga de aerossóis (poluição do ar) dentro de limites seguros.
“Mais de três quartos dos sistemas de suporte da Terra não estão na zona de segurança. A humanidade está ultrapassando os limites de um espaço operacional seguro, aumentando o risco de desestabilização do planeta”, afirma Johan Rockström, diretor do PIK, uma organização sem fins lucrativos sediada na Alemanha.

(Imagem: Divulgação/PIK)
Oceanos em risco
- A acidificação dos oceanos foi impulsionada principalmente pela queima de combustíveis fósseis e agravada pelo desmatamento e mudanças no uso da terra, diz o relatório;
- E as consequências já são visíveis, colocando corais de águas frias, recifes de corais tropicais e a vida marinha do Ártico em risco;
- “O oceano está se tornando mais ácido, os níveis de oxigênio estão caindo e as ondas de calor marinhas estão aumentando. Isso está aumentando a pressão sobre um sistema vital para estabilizar as condições no planeta Terra. Essa acidificação afeta tudo, desde a pesca costeira até o oceano aberto”, explicou Levke Caesar, um dos principais autores do relatório;
- Desde o início da era industrial, a acidez do oceano aumentou entre 30% e 40%;
- Pequenos caracóis marinhos, conhecidos como pterópodes, já apresentam sinais de danos em suas conchas — e isso é um marcador importante, pois se trata de uma fonte de alimento para muitas espécies. Seu declínio pode afetar cadeias alimentares inteiras.

(Imagem: Mohammad Turk/iStock)
“Por bilhões de anos, o oceano tem sido o grande estabilizador da Terra: gerando oxigênio, moldando o clima e sustentando a diversidade da vida. Hoje, a acidificação é uma luz vermelha de alerta no painel de instrumentos da estabilidade da Terra. Ignore-a e corremos o risco de colapsar os próprios alicerces do nosso mundo vivo. Proteja o oceano e nós nos protegeremos”, alertou a oceanógrafa Dra. Sylvia Earle.
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Guardiões do planeta Terra
Juntos, os novos limites formam o sistema operacional da Terra que devem permanecer dentro de níveis seguros para manter a humanidade segura e o mundo natural resiliente. São pontos-chave monitorados por cientistas em todo o mundo (também conhecidos como guardiões planetários) para avaliar a saúde da Terra.
“Estamos testemunhando um declínio generalizado na saúde do nosso planeta. Mas isso não é um resultado inevitável. A redução da poluição por aerossóis e a recuperação da camada de ozônio demonstram que é possível mudar a direção do desenvolvimento global. Mesmo que o diagnóstico seja terrível, a janela da cura ainda está aberta. O fracasso não é inevitável; o fracasso é uma escolha. Uma escolha que deve e pode ser evitada”, disse Rockström.

(Imagem: zxvisual/iStock)
A fala dele faz referência a políticas públicas que, na avaliação do PIK, mostraram como é possível reverter a situação: o Protocolo de Montreal, um tratado internacional que visa reduzir progressivamente a emissão de substâncias que destroem a camada de ozônio; e a regulamentação do transporte marítimo pela Organização Marítima Internacional, que busca a total descarbonização do setor.
“Os povos indígenas protegeram as florestas, a água e a biodiversidade vivendo dentro dos limites da natureza, guiados pelo conhecimento transmitido por nossos ancestrais. Hoje, a ciência dos Limites Planetários confirma o que os povos indígenas sempre souberam: quando ultrapassamos esses limites, colocamos toda a vida em risco. Para curar nosso planeta, precisamos unir a ciência e o conhecimento tradicional, respeitando a sabedoria daqueles que vivem mais próximos da terra e das águas”, disse Hindou Oumarou Ibrahim, presidente dos Guardiões Planetários.