Túneis gigantes de lava em Vênus podem estar entre os maiores do Sistema Solar

Descoberta de túneis de lava ajuda a explicar a história vulcânica de Vênus e será investigada por futuras missões espaciais
Pedro Spadoni24/09/2025 15h47
Ilustração de túneis de lava em Vênus
(Imagem: Pedro Spadoni via ChatGPT/Olhar Digital)
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Cientistas encontraram as primeiras evidências diretas de que o planeta Vênus abriga túneis de lava, formados pelo escoamento de rochas derretidas no passado. Esses túneis já eram conhecidos na Terra, na Lua e em Marte. Mas nunca tinham sido confirmados no planeta vizinho.

O achado surpreende porque os túneis de Vênus parecem ser muito maiores do que os da Terra. A descoberta foi feita por uma equipe da Universidade de Pádua, na Itália.

Túneis gigantes de lava trazem pistas sobre a geologia do planeta Vênus

Os pesquisadores identificaram cadeias de crateras e alinhamentos de depressões que só podem ser explicados pelo colapso do teto de túneis de lava.

Segundo os cientistas, esses túneis podem estar entre as maiores cavidades subterrâneas de todo o Sistema Solar. Isso ajuda a ciência a entender como funcionou a atividade vulcânica e o ambiente de Vênus no passado.

Como os cientistas chegaram a essa conclusão

Para investigar a superfície de Vênus, a equipe da Universidade de Pádua recorreu a imagens de radar e mapas topográficos coletados em missões anteriores.

Eles focaram em vulcões com mais de 100 quilômetros de diâmetro. E identificaram quatro conjuntos distintos de crateras alinhadas que não se encaixavam em explicações ligadas a falhas tectônicas.

Dois turistas em túnel feito por lava na Terra
Formações em Vênus seguem o mesmo padrão de colapso já observado em túneis de lava na Terra (Imagem: Victoria Tori Dim/Shutterstock)

Essas formações seguem o mesmo padrão de colapso já observado em túneis de lava na Terra, na Lua e em Marte. A interpretação é que o teto de túneis subterrâneos desabou, deixando marcas alinhadas na superfície.

O formato, a profundidade e a largura das crateras coincidem com o que se esperaria de túneis de lava. E diferem dos padrões criados por processos tectônicos. Isso reforça a conclusão de que se trata de um sistema subterrâneo vulcânico.

Por que os tubos de Vênus são diferentes

O que mais chamou a atenção dos pesquisadores foi o tamanho desses túneis subterrâneos. Segundo a pesquisadora Barbara De Toffoli, da Universidade de Pádua, os túneis de Vênus apresentam volumes “muito, muito grandes”, comparáveis aos da Lua, apesar de o planeta ter gravidade semelhante à da Terra.

Uma possível explicação está nas condições extremas do planeta. A combinação de temperaturas altíssimas e pressão atmosférica esmagadora pode ter influenciado a forma como o magma escoava e solidificava. Isso teria permitido a criação de estruturas subterrâneas muito amplas.

Nas palavras de Barbara, Vênus está “completamente fora da tendência” observada em outros corpos celestes – um indício de outros fatores influenciam a formação desses túneis.

  • A lógica observada em outros planetas: quanto menor a gravidade, maiores costumam ser os túneis de lava.

O que isso revela sobre a história de Vênus

A confirmação da existência de tubos de lava ajuda a reconstruir a história vulcânica de Vênus. Essas formações subterrâneas são como registros naturais, mostrando como o magma se movimentava e resfriava sob a superfície.

A presença de túneis tão grandes sugere que o planeta teve episódios intensos de atividade vulcânica, capazes de remodelar vastas áreas ao longo de sua evolução.

Conceito do grande Quetzalpetlatl Corona, localizado no hemisfério sul de Vênus
Conceito do grande Quetzalpetlatl Corona, no hemisfério sul de Vênus, retrata o vulcanismo ativo e uma zona onde a crosta mergulha no interior do planeta (Imagem: NASA/JPL-Caltech/Peter Rubin)

Além disso, os túneis oferecem pistas sobre a dinâmica interna do planeta. Eles podem indicar como o calor era dissipado do interior para a superfície e como a crosta respondeu a esses processos.

Para os cientistas, entender esses mecanismos é essencial para comparar Vênus à Terra. E compreender por que dois planetas tão parecidos em tamanho e posição no Sistema Solar seguiram caminhos tão diferentes em sua evolução.

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Próximos passos das pesquisas

Apesar da descoberta, os cientistas destacam que as evidências atuais ainda dependem de observações indiretas. Para confirmar e mapear melhor esses túneis subterrâneos, será preciso o apoio de novas missões a Vênus.

Uma das principais apostas é a missão EnVision, da Agência Espacial Europeia (ESA), prevista para a próxima década. Ela levará a bordo um radar capaz de investigar em profundidade a crosta do planeta.

Com esse tipo de instrumento, será possível verificar não apenas a extensão real dos túneis, mas também sua estrutura interna e papel na atividade vulcânica.

Além de ajudar a explicar o passado de Vênus, essas informações podem revelar pistas sobre a evolução de outros planetas rochosos – por exemplo: a Terra.

(Essa matéria usou informações dos sites Futurism e New Scientist. Você pode conferir um resumo do estudo aqui.)

Pedro Spadoni
Redator(a)

Pedro Spadoni é jornalista formado pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Já escreveu para sites, revistas e até um jornal. No Olhar Digital, escreve sobre (quase) tudo.