EUA: infecções por “bactérias do pesadelo” crescem 70%

Cientistas coletaram dados de 29 estados que realizam testes de bactérias resistentes a carbapenêmicos, antibiótico usado em infecções graves
Por Bruna Barone, editado por Bruno Capozzi 25/09/2025 08h24
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Cientistas analisaram resistência no tratamento de pneumonia, infecções da corrente sanguínea, infecções do trato urinário e feridas (Imagem: wildpixel/iStock)
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Não é de agora que autoridades de saúde pública alertam para o aumento de bactérias resistentes a medicamentos. Agora, um novo estudo mostra que as taxas de infecção aumentaram quase 70% entre 2019 e 2023 nos Estados Unidos. As informações foram publicadas por cientistas dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).

Eles coletaram dados de 29 dos 50 estados que realizam testes de bactérias resistentes a carbapenêmicos, um tipo de antibiótico usado como último recurso para casos graves. A taxa de infecções aumentou de pouco menos de 2 por 100.000 pessoas em 2019 para mais de 3 por 100.000 em 2023 — um aumento de 69%. Não foram reveladas informações sobre pacientes que vieram à óbito no período analisado.

Desse total, 1.831 casos têm relação com o gene NDM, que confere resistência a um amplo espectro de antibióticos. Nesse caso, a taxa aumentou de cerca de 0,25 para cerca de 1,35 — um aumento de 460%. Até então, bactérias com esse gene eram consideradas exóticas por estarem concentradas em pacientes que recebiam tratamento no exterior.  

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Aumento no uso de antibióticos durante a pandemia pode ter favorecido resistência das bactérias (Imagem: Dmitry Vorobyev/iStock)

Cenário preocupante

No geral, apenas dois antibióticos se mostraram eficazes contra as infecções analisadas, incluindo pneumonia, infecções da corrente sanguínea, infecções do trato urinário e feridas. E há um problema extra: esses medicamentos são caros e devem ser administrados por via intravenosa, limitando seu alcance.

“Este aumento acentuado na incidência de NDM significa que enfrentamos uma ameaça crescente que limita nossa capacidade de tratar algumas das infecções bacterianas mais graves”, disse Danielle Rankin, epidemiologista da Divisão de Promoção da Qualidade em Saúde do CDC. “Selecionar o tratamento certo nunca foi tão complicado, por isso é de vital importância que os profissionais de saúde tenham acesso a testes para ajudá-los a selecionar as terapias direcionadas adequadas.”

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Muitos hospitais não teriam estrutura suficiente para detectar certas formas de resistência genética (Imagem: SeventyFour/iStock)

Além disso, estados populosos, como Califórnia, Flórida, Nova York e Texas, não estão testando ou relatando os casos de forma completa, o que indica subnotificação. Muitos hospitais não teriam estrutura suficiente para detectar certas formas de resistência genética. O cenário também favorece a disseminação comunitária, já que é alta a chance de pessoas portadoras da bactéria resistente a medicamentos não terem conhecimento da situação.

Existem poucas opções de tratamento eficazes para infecções por NDM. Por se tratar de algo historicamente incomum nos Estados Unidos, os profissionais de saúde podem não suspeitar dela inicialmente, levando-os a escolher um tratamento ineficaz, explica o CDC.

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O que explica isso?

As razões exatas para o aumento ainda estão sendo estudadas, mas os fatores contribuintes podem incluir:

Lacunas no controle de infecções: práticas consistentes de controle de infecções — como higiene das mãos, uso de luvas e aventais durante o atendimento ao paciente e limpeza e desinfecção adequadas — ajudam a evitar que bactérias como a NDM-CRE se espalhem em ambientes de assistência médica;

Testes limitados: Muitos hospitais e clínicas não possuem ferramentas para detectar rapidamente infecções por NDM-CRE ou a presença desses germes perigosos em pacientes que ainda não estão doentes. A identificação tardia leva a tratamentos mais lentos, aumento da transmissão e perda de oportunidades de controle de infecções.

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Bactérias dificultam o tratamento de infecções graves com antibióticos
(Imagem: Jacob Wackerhausen/iStock)

“Sabemos que houve um grande aumento no uso de antibióticos durante a pandemia de Covide-19, então isso provavelmente se reflete no aumento da resistência aos medicamentos”, disse à AP News o Dr. Jason Burnham, pesquisador da Universidade de Washington, que não esteve envolvido no estudo.

Bruna Barone
Colaboração para o Olhar Digital

Bruna Barone é formada em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero. Atuou como editora, repórter e apresentadora na Rádio BandNews FM por 10 anos. Atualmente, é colaboradora no Olhar Digital.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.