Pequeninos "seres" contam o passado de nosso planeta, segundo cientistas (Imagem: Mohammad Turk/iStock)
Pesquisadores da ETH Zurich conseguiram medir, pela primeira vez, como a quantidade de carbono orgânico dissolvido nos oceanos variou ao longo do tempo geológico. Os resultados, publicados na revista Nature, desafiam explicações tradicionais sobre a origem das eras glaciais e do surgimento de formas de vida complexas, lançando nova luz sobre a evolução da Terra.
O estudo foi liderado pelo professor Jordon Hemingway, que identificou um testemunho natural único para investigar esse período remoto: pequenas pedras esféricas de óxido de ferro conhecidas como ooides.
À primeira vista semelhantes a grãos de areia, elas se formam em camadas, como bolas de neve, rolando no fundo do mar. Durante o processo, moléculas de carbono orgânico ficam presas em sua estrutura cristalina, permitindo que os cientistas reconstruam o estoque de carbono nos oceanos até 1,6 bilhão de anos atrás.
Por muito tempo, os cientistas acreditaram que esse estoque de carbono orgânico dissolvido teria sido particularmente volumoso entre mil e 541 milhões de anos atrás.
Essa hipótese sustentava explicações sobre a coincidência entre eras glaciais e o surgimento de organismos complexos. A fotossíntese, ao produzir carbono orgânico, também liberou oxigênio na atmosfera, provocando duas grandes “catástrofes do oxigênio”, que elevaram o nível do gás a 21% e foram acompanhadas por glaciações globais.
Na primeira dessas catástrofes, entre 2,4 e 2,1 bilhões de anos atrás, organismos desenvolveram o metabolismo aeróbio, capaz de gerar energia de forma mais eficiente, abrindo caminho para a evolução da vida complexa.
A equipe de Hemingway, no entanto, chegou a conclusões surpreendentes. Segundo as medições, o oceano continha entre 90% e 99% menos carbono orgânico dissolvido nesse intervalo de mil a 541 milhões de anos do que hoje. “Nossos resultados contradizem todas as suposições anteriores”, resumiu o pesquisador.
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O nível atual desse reservatório é de cerca de 660 bilhões de toneladas de carbono, mas ele só se estabilizou após a segunda catástrofe do oxigênio. O autor principal do estudo, Nir Galili, destacou: “Precisamos de novas explicações para como eras glaciais, vida complexa e aumento do oxigênio estão relacionados”.
Ele sugere que a redução drástica do carbono disponível se deveu ao surgimento de organismos maiores, que, ao morrerem, afundavam mais rapidamente. Esse material não era reciclado nas camadas profundas, devido à baixa concentração de oxigênio, e acabava se acumulando no fundo marinho. Somente quando o oxigênio passou a se acumular nas águas profundas o estoque de carbono voltou a crescer até atingir o nível atual.
Embora os períodos analisados pertençam a um passado distante, os achados têm impacto atual. Eles ajudam a compreender não apenas como a vida na Terra se desenvolveu, mas, também, como poderia evoluir em outros planetas. Além disso, fornecem pistas sobre como o planeta reage a perturbações ambientais.
Atualmente, a atividade humana provoca aquecimento e poluição dos oceanos, levando à queda dos níveis de oxigênio. Segundo os pesquisadores, não se pode descartar que processos semelhantes aos descritos no estudo voltem a ocorrer em um futuro distante.
Esta post foi modificado pela última vez em 25 de setembro de 2025 23:54